quinta-feira, 31 de julho de 2014

UM DIA EM UMA AGÊNCIA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL EM SÃO LUIS

JM Cunha Santos

Praça João Lisboa. Às 10:30 horas um cidadão sem nome entra na agência 0027 013 da Caixa Econômica Federal. Ele só quer receber a segunda via do cartão de poupança. E me contou essa história.
- Eram três placas. Uma anunciava o local do ATENDIMENTO EXPRESSO, outra FGTS e PIS e a terceira “Atendimento preferencial para idosos, pessoas com necessidades especiais, lactantes” etc. Com mais de 60 anos busquei a última fila e pedi uma senha. Recebi o número 61 e o caixa, em seguida, gritou: Número 38! Comecei a sofrer. O meu número era 61, mas eram apenas 15 cadeiras à disposição. “Ainda bem que esse sapato não aperta, ainda bem que hoje pude tomar o café da manhã”, pensei imaginado que levaria no mínimo uma hora até ser atendido.
De posse da senha e calculando o tempo até ser atendido, fui a pés até a barbearia mais próxima. Nélio, o barbeiro, terminou de atender o último cliente e me atendeu em seguida. Voltei à agencia da CEF no exato instante em que trocavam o caixa do banco e o novo inquilino gritava: Número 45!
Todo aquele tempo e eles só tinham atendido sete pessoas!
O sofrimento aumentou, os pés começaram a doer, a fome começou a dar sinal de vida e mais gente chegava e mais gente pegava senha e nenhuma cadeira desocupava.
Comecei a observar as pessoas e a primeira coisa que notei foram as presenças de crianças. Muitas crianças, nos colos das mães, das avós, das tias, andando, correndo, pulando ou crianças de colo emprestadas para garantir o atendimento preferencial. Mulheres amamentando, mulheres grávidas, acompanhadas ou não de seus maridos e a lentidão do tempo passando até que o relógio bateu meio-dia.
Observei na fila do ATENDIMENTO EXPRESSO o mesmo tipo de pessoas em pé, conversando, fazendo novas amizades, crianças para todos os lados, bolsas brilhantes a tiracolo, camisas do flamengo, do Vasco, da Seleção, lenços para assoar os pequeninos, shorts jeans e comentários. “Eles bem que poderiam colocar mais caixas para atender essa gente toda”. “Deviam criar uma fila só para quem vai receber cartão, que é rápido”.
Devem ter sido os pés doloridos e a fome que me levaram a um pensamento impiedoso:
“Tudo aqui me lembra restaurante do governo”.
Eram 12:30 horas. Finalmente consegui sentar. O caixa do banco gritou o número 54 e me veio à cabeça uma lei que obriga as agências bancárias a atenderem os clientes em no máximo 30 minutos. “Acho que no Brasil as leis foram feitas com o único objetivo de serem desobedecidas”, pensei.
A agência esvaziou um pouco, mas ainda havia muita gente em pé, as 15 cadeiras estavam ocupadas e muitas crianças, cada vez mais inquietas e agitadas. Às 13 horas fui atendido. Havia esquecido a senha do cartão e tive que fazer outra que perigosamente anotei no maço de cigarros depois de visitar um dos banheiros mais apertados do país.
Às 13:15 horas saí do banco e fui pegar meu carro. Paguei 12 reais de estacionamento e parti no rumo da Ponte do São Francisco. Um grupo que protestava contra o governo havia bloqueado a entrada da ponte e eu entrei num engarrafamento insuportável. Precisamente às 15 horas e 20 minutos eu estava em casa. Cansado, com fome e com todos os compromissos do dia perdidos.
Ainda bem que eu tinha anotado a nova senha no maço de cigarros.

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