quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O poder político

Editorial JP, 1 de outubro

Nem sempre a idéia de poder traz embutida a força da coerção que o estado possui para obrigar a fazer ou deixar de fazer. O que não se pode esquecer é que, nas democracias, o poder político é, essencialmente, a vontade da maioria, expressa através de governantes e representantes. Fora disso, estaremos pisando o terreno perigoso das ditaduras, do totalitarismo, da coação sem qualquer visão do bem público.
Esse pequeno, mas imprescindível detalhe parece que foi esquecido durante quase meio século de domínio da família Sarney no Maranhão. E ainda é presente agora, o que se pode constatar na reunião que no Palácio dos Leões pretendeu reverter o quadro francamente desfavorável ao candidato do governo, Edinho Lobão. O bem público ficou de fora de todas aquelas proposições, desde que ficou claro que governar agora é o que menos importa, mais importa é a qualquer custo vencer a eleição. A qualquer custo, mesmo com o aparelhamento da máquina do Estado em favor de uma candidatura, um golpe baixo contra a democracia.
Atos e fatos que rondam essa campanha deixam os homens de bem à beira do pânico. Trazer, por exemplo, para dentro das decisões políticas o discurso de uma facção criminosa amaldiçoada pelo povo. È quando o desenrolar dos acontecimentos nos coloca diante de trágicas premonições; é mais uma sensação de que algo de muito ruim está por acontecer, como se o uivo dos ventos nos impregnasse de certezas que não queremos ter. E dá uma vontade de pedir a todos que conhecemos que tomem cuidados e de mais cuidados ainda ter com nosso próprio destino.
De fato, o poder político pode se tornar discricionário e violento, promover expurgos, ameaçar adversários, ganhar vida própria e descambar para a tirania. À exação, o estado não mais promove o bem público, cobra rigorosamente a fidelidade de um povo, invertendo as regras da democracia e da convivência humana. É precisamente o que acontece no Maranhão neste momento: o poder político oficializa a mentira, a difamação, a calúnia, a compra de votos e de consciências e o discurso do ódio voa das bocas mais impróprias para, ao dispêndio das piores intenções, vilipendiar as relações sociais.
Sobram-nos, então, outras formas de poder. O poder do amor, o poder do subconsciente, o poder do pensamento positivo, do bem e, muito especialmente, o poder da vontade popular. E não podia ser assim nos regimes democráticos. Aqui, o povo vigia o governo, porque o governo se sente no direito de se assenhorear da vontade do povo. O poder político deixou de ser poder político e amiudou-se no mero exercício da coação.
A lógica dos tiranos é que o poder político lhes é dado por determinação sobrenatural, lhes é aderente, incontestável e intransferível. Um presente dos deuses a semideuses que na terra tudo podem, acima de todos os direitos e de todas as leis.
É isso que o Maranhão parece não suportar mais.

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