segunda-feira, 24 de novembro de 2014

De lagostas, geléias e propinas

Comam tudo isso e o que mais quiserem em suas mansões, mas nunca nos palácios do povo.

JM Cunha Santos

 
Governar com o gabinete entupido de uísques, vinhos, lagostas, caviar, azeites, tudo importado, além de geléias francesas e outras iguarias do cardápio internacional, pode até não constituir nenhum crime, mas fazer isso no Maranhão, o estado mais pobre do país, é um primeiro sinal de desrespeito ao povo e de ausência de equilíbrio no conduzir de uma administração.
São luxos e confortos tão pessoais que lembram os executivos de grandes empresas pegos na “Operação Lava-Jato” comendo feijão com arroz nas grades da Polícia Federal. O que eles se acostumaram a comer faltou em educação, saúde e segurança para o povo brasileiro.
O gesto do governador eleito, Flávio Dino, garantindo que vai por fim a esse regabofe internacional no Palácio dos Leões não é, portanto, apenas simbólico. Campeões de pobreza absoluta e afogados no pior Índice de Desenvolvimento Humano, merecemos nós que o dinheiro público seja aplicado com parcimônia, justeza e respeito pela população. Desacostumados de governos honestos, o que nos parece trivial, como esse cardápio nababesco, é um indicativo de que os governantes nunca estiveram predispostos à honestidade.
O consumo exacerbado de lagostas, nesta terra em que a maioria mal consegue comer carne uma vez por semana e grande parte não têm como garantir as calorias de uma cesta básica, no mínimo pressupõe uma tendência à desonestidade. O esparramar de geléias francesas no pão de quem tem a responsabilidade de administrar a pobreza dos que não tem acesso nem a manteiga todos os dias, ofende os princípios da moralidade administrativa.
Comam tudo isso e o que mais quiserem em suas mansões, nunca nos palácios do povo! O povo, em geral, mal tem o que comer.
O dinheiro público tem uma única razão de ser: o administrar de conquistas e esperanças que façam deste um mundo melhor de se viver. Fora disso, os governos se encaminham para a permissividade das licitações fraudulentas, dos convênios fantasmas, das propinas que tanto envergonham e empobrecem o povo deste país. E pode ter sido esse sabor de lagostas e geléias, de caviar e azeites importados, adquiridos com dinheiro público, o responsável pela presença permanente do Maranhão em quase todas as crônicas de corrupção do Brasil.
Com o caviar e as lagostas fora do cardápio, talvez seja mais fácil criar uma nova mentalidade político-administrativa no país.

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