Comam
tudo isso e o que mais quiserem em suas mansões, mas nunca nos palácios do
povo.
JM
Cunha Santos
Governar
com o gabinete entupido de uísques, vinhos, lagostas, caviar, azeites, tudo
importado, além de geléias francesas e outras iguarias do cardápio
internacional, pode até não constituir nenhum crime, mas fazer isso no
Maranhão, o estado mais pobre do país, é um primeiro sinal de desrespeito ao
povo e de ausência de equilíbrio no conduzir de uma administração.
São
luxos e confortos tão pessoais que lembram os executivos de grandes empresas
pegos na “Operação Lava-Jato” comendo feijão com arroz nas grades da Polícia
Federal. O que eles se acostumaram a comer faltou em educação, saúde e
segurança para o povo brasileiro.
O
gesto do governador eleito, Flávio Dino, garantindo que vai por fim a esse regabofe
internacional no Palácio dos Leões não é, portanto, apenas simbólico. Campeões
de pobreza absoluta e afogados no pior Índice de Desenvolvimento Humano,
merecemos nós que o dinheiro público seja aplicado com parcimônia, justeza e
respeito pela população. Desacostumados de governos honestos, o que nos parece
trivial, como esse cardápio nababesco, é um indicativo de que os governantes
nunca estiveram predispostos à honestidade.
O
consumo exacerbado de lagostas, nesta terra em que a maioria mal consegue comer
carne uma vez por semana e grande parte não têm como garantir as calorias de
uma cesta básica, no mínimo pressupõe uma tendência à desonestidade. O
esparramar de geléias francesas no pão de quem tem a responsabilidade de
administrar a pobreza dos que não tem acesso nem a manteiga todos os dias,
ofende os princípios da moralidade administrativa.
Comam
tudo isso e o que mais quiserem em suas mansões, nunca nos palácios do povo! O
povo, em geral, mal tem o que comer.
O
dinheiro público tem uma única razão de ser: o administrar de conquistas e
esperanças que façam deste um mundo melhor de se viver. Fora disso, os governos
se encaminham para a permissividade das licitações fraudulentas, dos convênios
fantasmas, das propinas que tanto envergonham e empobrecem o povo deste país. E
pode ter sido esse sabor de lagostas e geléias, de caviar e azeites importados,
adquiridos com dinheiro público, o responsável pela presença permanente do
Maranhão em quase todas as crônicas de corrupção do Brasil.
Com
o caviar e as lagostas fora do cardápio, talvez seja mais fácil criar uma nova
mentalidade político-administrativa no país.
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