quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ESTADOS UNIDOS E CUBA REATAM RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

Barack Obama e Raul Castro abrem caminho para o fim do mais longo e ideológico embargo econômico da história. A maioria de Republicanos no Congresso é o principal entrave para o fim do embargo econômico

Maurício Cardoso, do Consultor Jurídico
 
Cai uma das últimas trincheiras da Guerra Fria: os presidentes Barack Obama, dos Estados Unidos, e Raúl Castro, de Cuba, anunciaram na tarde desta quarta-feira (17/12) a intenção de seus países de restabelecimento pleno de relações diplomáticas. "Pretendemos criar um novo capítulo nas relações entre os países. Esses 50 anos mostraram que o isolamento não funcionou", disse Obama, em Washington. "Acertamos o restabelecimento das relações diplomáticas. Isso não quer dizer que o principal tenha sido resolvido: o bloqueio econômico", disse Castro, ao mesmo tempo, em Havana.

 
A nova política, que substitui 50 anos de hostilidades entre os dois vizinhos americanos, já produziu seu primeiro fruto: o governo cubano decretou a libertação de Alan Gross, um empresário americano do setor de telecomunicações preso em Cuba há cinco anos, além de um agente de inteligência americano preso em Cuba há 20 anos, enquanto o governo americano ordenou a libertação de Gerardo Hernández, Ramón Labañino e Antonio Guerrero, três espiões cubanos presos nos Estados Unidos, havia 16 anos. Os ex-prisioneiros, reconhecidos como heróis em seus respectivos países, viajaram para suas casas no mesmo dia de sua libertação.
 
 
Segundo Raúl Castro, ele e o presidente americano trocaram telefonemas às vésperas do anúncio, completando 18 meses de negociações secretas que tiveram como intermediários e incentivadores o governo do Canadá e o Vaticano. Em seu discurso, Raúl Castro citou o empenho pessoal do papa Francisco, que no decorrer das negociações enviou cartas aos dois presidentes.
Entre as primeiras medidas a serem postas em prática está a troca de embaixadores, a abertura de representação diplomática nos dois países, a flexibilização das restrições ao trânsito de pessoas e ao comércio de mercadorias, e a remessa de valores que os imigrantes cubanos residentes nos Estados Unidos costumam fazer para os familiares que ficaram em Cuba.
O principal entrave à normalização das relações entre os dois países, porém, sobrevive às boas intenções de Barack Obama (foto): o embargo econômico decretado em 1961 pelos Estados Unidos a Cuba continua e só pode ser levantado por decisão do Congresso americano. Em sua fala, Obama exortou os deputados a estabelecerem um debate “sério e honesto” sobre o assunto. Num momento em que a oposição republicana assume a maioria nas duas casas legislativas dos Estados Unidos, é pouco provável que isso venha a ocorrer tão cedo.
Resistência
A resistência a qualquer aproximação com Cuba sempre foi muito forte na Flórida, o maior reduto da comunidade de imigrantes cubanos nos Estados Unidos, onde grassa um agudo sentimento anticastrista. Marco Rubio, representante republicano da Flórida no Senado, já advertiu Obama que não vai ser fácil para ele levar à frente sua política para Cuba com um Congresso controlado pelos republicanos.
“Nós vamos ter um par de anos bem interessante para ver como o presidente vai nomear um embaixador e como vai implantar uma embaixada em Cuba”, disse Rubio. “Nós vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para impedir essas mudanças. Este Congresso não vai levantar o embargo”. Rubio apenas teve palavras positivas para aplaudir a libertação do funcionário americano preso em Cuba.
Embargo
Logo depois que Fidel Castro tomou o poder, ao fim da revolução que derrubou o ditador Fulgêncio Batista, em 1959, Estados Unidos e Cuba entraram em rota de colisão. O pano de fundo era a Guerra Fria, que dividiu o mundo em duas áreas de influência: uma capitalista no Ocidente, para o Estados Unidos, e outra, socialista e ao Leste, para a União Soviética. Cuba tornou-se então, a pedrinha socialista no sapato dos Estados Unidos. Em 1960 começou a imposição de sanções e em 1961 foi decretado o embargo econômico total.
O embargo suspendeu todas as importações e exportações e o estabelecimento de qualquer tipo de atividade econômica de americanos em cuba. Calcula-se que, com o embargo, os prejuízos econômicos sofridos por Cuba possam ter chegado a US$ 1 trilhão. Se a situação da ilha já era crítica, tornou-se ainda mais cruel a partir de 1991, com o colapso da União Soviética, que até então compensava a fidelidade ideológica de seu parceiro distante com um forte suporte econômico.
Para os Estados Unidos o embargo sempre teve uma conotação mais ideológica, sem nenhuma repercussão significativa em termos econômicos. Para Cuba, "não existe, e não tem havido no mundo, tamanha violação aterrorizante e vil dos direitos humanos de todo um povo do que o bloqueio liderado pelo governo dos EUA contra Cuba", como disse o vice-ministro de Relações Exteriores, Abelardo Moreno, em setembro passado. Mas o embargo é usado também ideologicamente pelo regime cubano, que tem nele a melhor desculpa para suas dificuldades.

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