Barack Obama e Raul Castro abrem caminho para o fim do mais
longo e ideológico embargo econômico da história. A maioria de Republicanos no
Congresso é o principal entrave para o fim do embargo econômico
Maurício Cardoso, do
Consultor Jurídico
Cai uma
das últimas trincheiras da Guerra Fria: os presidentes Barack Obama, dos
Estados Unidos, e Raúl Castro, de Cuba, anunciaram na tarde desta quarta-feira
(17/12) a intenção de seus países de restabelecimento pleno de relações
diplomáticas. "Pretendemos criar um novo capítulo nas relações entre os
países. Esses 50 anos mostraram que o isolamento não funcionou", disse
Obama, em Washington. "Acertamos o restabelecimento das relações
diplomáticas. Isso não quer dizer que o principal tenha sido resolvido: o
bloqueio econômico", disse Castro, ao mesmo tempo, em Havana.
A nova
política, que substitui 50 anos de hostilidades entre os dois vizinhos
americanos, já produziu seu primeiro fruto: o governo cubano decretou a libertação
de Alan Gross, um empresário americano do setor de telecomunicações preso em
Cuba há cinco anos, além de um agente de inteligência americano preso em Cuba
há 20 anos, enquanto o governo americano ordenou a libertação de Gerardo
Hernández, Ramón Labañino e Antonio Guerrero, três espiões cubanos presos nos
Estados Unidos, havia 16 anos. Os ex-prisioneiros, reconhecidos como heróis em
seus respectivos países, viajaram para suas casas no mesmo dia de sua
libertação.
Segundo
Raúl Castro, ele e o presidente americano trocaram telefonemas às vésperas do
anúncio, completando 18 meses de negociações secretas que tiveram como
intermediários e incentivadores o governo do Canadá e o Vaticano. Em seu
discurso, Raúl Castro citou o empenho pessoal do papa Francisco, que no
decorrer das negociações enviou cartas aos dois presidentes.
Entre as
primeiras medidas a serem postas em prática está a troca de embaixadores, a
abertura de representação diplomática nos dois países, a flexibilização das
restrições ao trânsito de pessoas e ao comércio de mercadorias, e a remessa de
valores que os imigrantes cubanos residentes nos Estados Unidos costumam fazer
para os familiares que ficaram em Cuba.
O
principal entrave à normalização das relações entre os dois países, porém, sobrevive
às boas intenções de Barack Obama (foto): o embargo econômico
decretado em 1961 pelos Estados Unidos a Cuba continua e só pode ser levantado
por decisão do Congresso americano. Em sua fala, Obama exortou os deputados a
estabelecerem um debate “sério e honesto” sobre o assunto. Num momento em que a
oposição republicana assume a maioria nas duas casas legislativas dos Estados
Unidos, é pouco provável que isso venha a ocorrer tão cedo.
Resistência
A resistência a qualquer aproximação com Cuba sempre foi muito forte na Flórida, o maior reduto da comunidade de imigrantes cubanos nos Estados Unidos, onde grassa um agudo sentimento anticastrista. Marco Rubio, representante republicano da Flórida no Senado, já advertiu Obama que não vai ser fácil para ele levar à frente sua política para Cuba com um Congresso controlado pelos republicanos.
A resistência a qualquer aproximação com Cuba sempre foi muito forte na Flórida, o maior reduto da comunidade de imigrantes cubanos nos Estados Unidos, onde grassa um agudo sentimento anticastrista. Marco Rubio, representante republicano da Flórida no Senado, já advertiu Obama que não vai ser fácil para ele levar à frente sua política para Cuba com um Congresso controlado pelos republicanos.
“Nós
vamos ter um par de anos bem interessante para ver como o presidente vai nomear
um embaixador e como vai implantar uma embaixada em Cuba”, disse Rubio. “Nós
vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para impedir essas mudanças. Este
Congresso não vai levantar o embargo”. Rubio apenas teve palavras positivas
para aplaudir a libertação do funcionário americano preso em Cuba.
Embargo
Logo depois que Fidel Castro tomou o poder, ao fim da revolução que derrubou o ditador Fulgêncio Batista, em 1959, Estados Unidos e Cuba entraram em rota de colisão. O pano de fundo era a Guerra Fria, que dividiu o mundo em duas áreas de influência: uma capitalista no Ocidente, para o Estados Unidos, e outra, socialista e ao Leste, para a União Soviética. Cuba tornou-se então, a pedrinha socialista no sapato dos Estados Unidos. Em 1960 começou a imposição de sanções e em 1961 foi decretado o embargo econômico total.
Logo depois que Fidel Castro tomou o poder, ao fim da revolução que derrubou o ditador Fulgêncio Batista, em 1959, Estados Unidos e Cuba entraram em rota de colisão. O pano de fundo era a Guerra Fria, que dividiu o mundo em duas áreas de influência: uma capitalista no Ocidente, para o Estados Unidos, e outra, socialista e ao Leste, para a União Soviética. Cuba tornou-se então, a pedrinha socialista no sapato dos Estados Unidos. Em 1960 começou a imposição de sanções e em 1961 foi decretado o embargo econômico total.
O embargo
suspendeu todas as importações e exportações e o estabelecimento de qualquer
tipo de atividade econômica de americanos em cuba. Calcula-se que, com o embargo,
os prejuízos econômicos sofridos por Cuba possam ter chegado a US$ 1 trilhão.
Se a situação da ilha já era crítica, tornou-se ainda mais cruel a partir de
1991, com o colapso da União Soviética, que até então compensava a fidelidade
ideológica de seu parceiro distante com um forte suporte econômico.
Para os
Estados Unidos o embargo sempre teve uma conotação mais ideológica, sem nenhuma
repercussão significativa em termos econômicos. Para Cuba, "não existe, e
não tem havido no mundo, tamanha violação aterrorizante e vil dos direitos
humanos de todo um povo do que o bloqueio liderado pelo governo dos EUA contra
Cuba", como disse o vice-ministro de Relações Exteriores, Abelardo Moreno,
em setembro passado. Mas o embargo é usado também ideologicamente pelo regime
cubano, que tem nele a melhor desculpa para suas dificuldades.
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