Com os processos da
Operação Lava-Jato a caminho das sentenças, as empreiteiras querem Lula e Dilma
junto com elas na roda da Justiça
Rodrigo Rangel,
Robson Bonin e Bela Megaele
Há quinze dias, os quatro executivos
da construtora OAS, presos durante a Operação Lava-Jato, tiveram uma conversa
capital na carceragem da polícia em Curitiba. Sentados frente a frente, numa
sala destinada a reuniões reservadas com advogados, o presidente da OAS, Léo
Pinheiro, e os executivos Mateus Coutinho, Agenor Medeiros e José Ricardo
Breghirolli discutiam o futuro com raro desapego. Os pedidos de liberdade
rejeitados pela Justiça, as fracassadas tentativas de desqualificar as
investigações, o Natal, o réveillon e a perspectiva real de passar o resto da
vida no cárcere levaram-nos a um diagnóstico fatalista. Réus por corrupção,
lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa, era chegada a hora de
jogar a última cartada, e, segundo eles, isso significa trazer para a cena do crime,
com nomes e sobrenomes, o topo da cadeia de comando do petrolão. Com 66 anos de
idade, Agenor Medeiros, diretor internacional da empresa, era o mais exaltado:
“Se tiver de morrer aqui dentro, não morro sozinho”.
A estratégia dos executivos da OAS,
discutida também pelas demais empresas envolvidas no escândalo da Petrobras, é
considerada a última tentativa de salvação. E por uma razão elementar: as
empreiteiras podem identificar e apresentar provas contra os verdadeiros
comandantes do esquema, os grandes beneficiados, os mentores da engrenagem que
funcionava com o objetivo de desviar dinheiro da Petrobras para os bolsos de
políticos aliados do governo e campanhas eleitorais dos candidatos ligados ao
governo. É um poderoso trunfo que, em um eventual acordo de delação com a
Justiça, pode poupar muitos anos de cadeia aos envolvidos. “Vocês acham que eu
ia atrás desses caras (os políticos) para oferecer grana a eles?”, disparou,
ressentido, o presidente da OAS, Léo Pinheiro. Amigo pessoal do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva nos tempos de bonança, ele descobriu na cadeia que as
amizades nascidas do poder valem pouco atrás das grades.
Na conversa com os colegas presos e
os advogados da empreiteira, ele reclamou, em particular, da indiferença de
Lula, de quem esperava um esforço maior para neutralizar os riscos da
condenação e salvar os contratos de sua empresa. Léo Pinheiro reclama que Lula
lhe virou as costas. E foi dessa mágoa que surgiu a primeira decisão concreta
do grupo: se houver acordo com a Justiça, o delator será Ricardo Breghirolli,
encarregado de fazer os pagamentos de propina a partidos e políticos corruptos.
As empreiteiras sabem que novas delações só serão admitidas se revelarem fatos
novos ou o envolvimento de personagens importantes que ainda se mantêm longe
das investigações. Por isso, o alvo é o topo da cadeia de comando, em que,
segundo afirmam reservadamente e insinuam abertamente, se encontram o
ex-presidente Lula e Dilma Rousseff.
(Com reportagem de
Daniel Pereira e Hugo Marques)
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na revista Veja desta semana.
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