terça-feira, 7 de abril de 2015

A névoa sobre Pedrinhas

JM Cunha Santos



Uma estranha névoa ronda o Complexo Penitenciário de Pedrinhas e já faz muito tempo. Nasceram e se criaram ali, no decorrer dos governos de Roseana Sarney, duas das facções criminosas mais violentas da história do Brasil. De dentro da Penitenciária, esses comandos disparavam ordens para sitiar São Luís a ferro e fogo, queimando ônibus, incendiando crianças, decretando o toque de recolher. A população, inúmeras vezes, correu para casa em polvorosa ou se trancou em seus lares apavorada com as ações do Primeiro Comando da Capital e Bonde dos 40.
Matavam civis e matavam policiais. O nível de barbárie ultrapassou a crueldade das execuções do Estado Islâmico. Presos chegaram a jogar futebol com cabeças humanas, a exibir os escalpos ensanguentados como troféus de uma perversão inominável que deixou perplexo todo o país. As fugas eram quase diárias, os assassinatos também.
Tudo levava à suspeita de que um conluio bem urdido para a administração do crime unia no mesmo propósito os interesses de empresas terceirizadas, agentes penitenciários, traficantes, assassinos de aluguel e os comandos das facções criminosas. A corrupção deslavada era uma notícia em off e sem comprovação que a imprensa apenas insinuava, com medo de processos e com medo de morrer. Mas as ligações perigosas entre o que acontecia em Pedrinhas e a permissividade do Estado, então sob comando de Roseana Sarney, estava nas bocas de quase todo mundo no Maranhão.
A falta de interesse em resolver o problema ficou patente quando o Maranhão devolveu R$ 40 milhões enviados pelo Governo Federal para recuperar o Sistema Penitenciário, quando não concluíram os presídios que, pelo menos, reduziriam a superpopulação em Pedrinhas, conforme noticiou, ontem, o blog do jornalista Jhon Cutrim.
O governo Roseana Sarney deixou o Complexo Penitenciário de Pedrinhas apodrecer e apodreceu com ele, já que se findaria sob a mira da Operação Lava Jato da Polícia Federal.
Nem a péssima repercussão internacional dos episódios de Pedrinhas, com manifestações de entidades do mundo todo,  da Organização Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos e da própria Organização das Nações Unidas, fizeram o governo Roseana agir com determinação para torpedear os interesses degradantes  que faziam de Pedrinhas uma maldita sucursal do inferno.
Em menos de 100 dias do governo Flávio Dino, no entanto, já não se tem notícias de presos degolados, de esquartejamentos, as fugas foram reduzidas e diminuíram também os assassinatos. Já não há ordens para ataques a São Luís. O governador Flávio Dino acabou com as terceirizações, medida inevitável para por fim à corrupção, há um processo seletivo em curso para contratação de 900 auxiliares de segurança penitenciária e anunciado já um concurso público para 308 novos agentes penitenciários.

Os adversários do governo fazem festa, hoje, com um resgate de presos na madrugada de domingo, mas a verdade é que a névoa se dissipa. O ataque a Pedrinhas pode até ser debitado ao que sobrou dessa névoa, ao que restou de corrupção, a uma reação dos que tiveram interesses contrariados. Quem sabe? Como também pode ser consequência da exasperação dos agentes do crime organizado querendo dar uma demonstração de força num território que lhes era muito caro, mas não lhes pertence mais.

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