A doleira Nelma Kodama, condenada a 18 anos de
prisão nos processos da Operação Lava Jato, cantou trecho de uma música de Roberto
Carlos para explicar aos deputados da CPI da Petrobrás como era sua
relação com o doleiro Alberto Youssef. Conhecida como “A Dama do Mercado”,
Nelma é a primeira a falar à comissão parlamentar, em Curitiba, base das
investigações da Lava Jato, nesta terça-feira, 12.
Ela contou aos deputados que o conheceu no dia 20 de
agosto de 2000. O deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) a questionou se ela era
amante de Youssef.
“Sob meu ponto de vista, eu vivi maritalmente com
Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo,
né? Amante é esposa, amante é amiga”, disse. “Tem até uma música do Roberto
Carlos: a amada amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita
que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela.”
Em seguida, a doleira cantarolou ‘Amada Amante’,
sucesso do Rei da Jovem Guarda em 1971.
Durante a explicação, ela foi interrompida pelo
deputado Hugo Motta (PMDB-PB). “Senhora Nelma, como presidente dessa CPI, nós
não estamos aqui em um teatro. Peço que Vossa Senhoria se detenha a responder
as perguntas, mantendo a ordem e o respeito ao Congresso Nacional, que neste
momento está aqui fazendo uma apuração.”
“Mas eu gostaria de responder, então”, disse Nelma.
“Responder com respeito, não cantando, nós não
estamos aqui em um show”, garantiu o deputado Hugo Motta.
“A minha pergunta se a senhora foi amante dele, a
senhora já respondeu. Estou satisfeito”, encerrou a discussão o deputado
Altineu Côrtes.
Em seus e-mails e mensagens, captados pela Polícia
Federal, Nelma gostava de usar pseudônimos como Greta Garbo, Cameron Diaz e
Angelina Jolie.
A doleira foi presa no Aeroporto Internacional de
São Paulo, em Guarulhos/Cumbica, na madrugada de 15 de março de 2014, quando
tentava embarcar para Milão, na Itália, com 200 mil euros escondidos na
calcinha. Ela negou na CPI, que estivesse fugindo do País.
“O dinheiro estava no bolso e não na calcinha”,
disse a doleira, que levantou da cadeira para exibir os bolsos de trás da calça
aos parlamentares.
Alvo da Operação Dolce Vitta – um dos braços da Lava
Jato que mirou o núcleo de doleiros que atuava em parceria com Alberto Youssef
-, o depoimento de Nelma deve trazer novos fatos sobre o mercado de câmbio
negro envolvendo o esquema de corrupção na Petrobrás.
Ela confessou evasão de divisas num esquema pessoal
que movimentava US$ 300 mil, por dia, e relações financeiras com outros dois
doleiros presos na Lava Jato (Alberto Youssef e Raul Srour). Doleira dos
comerciantes da 25 de Março e do Brás, que segundo ela chegavam a importar
contêineres da China de US$ 100 mil e pagar apenas US$ 30 mil legalmente, Nelma
foi usada por Youssef em movimentações financeiras.
A doleira foi condenada pelo juiz federal Sérgio
Moro, que conduz os processos da Lava Jato, a 18 anos de prisão e multa por
liderar um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria
movimentado de forma fraudulenta R$ 221 milhões em dois anos e enviado para o
exterior outros de U$S 5,2 milhões por meio de 91 operações de câmbio irregulares.
VEJA A LETRA DA MÚSICA AMADA AMANTE
Esse amor demais antigo
amor demais amigo
que de tanto amor viveu
que manteve acesa a chama
da verdade de quem ama
antes e depois do amor
e você amada amante
faz da vida um instante
ser demais para nós dois
esse amor sem preconceito
sem saber o que é direito
faz a suas próprias leis
que flutua no meu leito
que explode no meu peito
e supera o que já fez
neste mundo desamante
só você amada amante
faz o mundo de nós dois
amada amante
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