Ministério da Previdência pediu ajuda da Polícia Federal e do Ministério
Público para investigar o destino de tanto dinheiro.
Já faz tempo que os Correios deixaram de
ser símbolo de confiança e eficiência no Brasil. Sucateada, a empresa mais
antiga do País, com mais de 350 anos, hoje vive uma triste realidade, marcada
por apadrinhamento político e uma série de acusações de desvio de recursos e
pagamentos de propina. Acuados, os funcionários de carreira que têm
acompanhado, perplexos, a derrocada da empresa foram surpreendidos agora por um
novo escândalo bilionário, no qual os próprios trabalhadores dos Correios são
as maiores vítimas.
De acordo com investigações da Superintendência
Nacional de Previdência Complementar – Previc – a má administração e operações
pouco usuais fizeram com o que o Postalis, o Fundo de Previdência dos
funcionários dos Correios, registrasse um rombo de incríveis R$ 5,6 bilhões. No
levantamento realizado nos últimos seis meses, o órgão ligado ao Ministério da
Previdência encontrou tantas irregularidades na gestão dos recursos dos
funcionários dos Correios que chegou a pedir ajuda à Polícia Federal e ao
Ministério Público Federal para entender o que exatamente foi feito com o
dinheiro desviado. “A Previc está preparada para pegar inaptidão, erros, mas
não para lidar com atitudes criminosas”, afirmou o chefe da superintendência,
Carlos de Paulo, em uma reunião com o sindicato dos trabalhadores dos Correios.
Até agora já se sabe que os gestores
dos recursos do Fundo de Previdência fizeram tudo o que o bom senso recomenda
não fazer. Investiram, basicamente, em aplicações de alto risco, de baixo
histórico de retorno e pouca liquidez. Além disso, após registrarem diversos
prejuízos não só mantiveram os recursos nesses investimentos como também
aplicaram ainda mais dinheiro neles. Os diretores do Postalis, por exemplo,
decidiram investir o dinheiro dos funcionários dos Correios em títulos da
dívida de países como a Argentina e a Venezuela. Em outras ocasiões, fizeram
apostas pesadas em papéis de empresas do empresário Eike Batista e até mesmo de
bancos que acabaram indo à bancarrota, como o Cruzeiro do Sul e o BVA,
liquidados pelo Banco Central.
O rombo causado por conta de operações
como essas é o maior já registrado entre fundos de pensão no Brasil. Os
Correios, em nota encaminhada à ISTOÉ, afirmaram que irão se responsabilizar
por 50% das perdas, mas o restante do ônus ficará com os funcionários. Se o buraco
não for fechado, estima-se que até 70 mil servidores podem ter suas
aposentadorias comprometidas.
O relatório da Previc ainda indica que
23 autos de infração foram lavrados contra os gestores do Postalis. Ainda não
está claro que tipo de punição eles devem sofrer. Apesar do escândalo, a maior
parte dos diretores continuam à frente do Postalis. Quase todos eles foram indicados pelo
ex-presidente José Sarney (PMDB – MA) e pelo ex-ministro das Minas e Energia,
Edison Lobão (PMDB –MA). O PMDB maranhense controla o Postalis há cerca de 12
anos.
Por meio de nota, o Postalis afirmou
que recebeu os relatórios da Previc apenas em 24 de abril e que ainda os está
analisando. O Fundo de Pensão tem 30 dias para se posicionar sobre o relatório.
Os Correios, por sua vez, afirmaram ainda não ter sido notificados pela Previc
e que, mesmo assim, já trocou o diretor-financeiro do Postalis. A empresa ainda
afirmou que não vê risco de os funcionários ativos e inativos terem suas
aposentadorias comprometidas.
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