Editorial
JP, 10 de junho de 2015
Sem
querer nos acostumamos aos crimes mais monstruosos neste país. O homem, dito
único animal racional sobre a face da terra, tornou-se capaz de atos dignos de
feras famintas. A descoberto, nossos corações se indignam e nos sentimos
humilhados e entristecidos da condição humana. Mas logo uma nova notícia nos
acorda para um novo crime, ainda mais bárbaro, e, sem que possamos entender o
que aconteceu, essa notícia de morte se banaliza ao correr da História.
Crianças
assassinas nos rodeiam, empunhando revólveres ou armas brancas, com tal peso
que nem conseguimos lembrar que elas deveriam estar estudando ou fazendo acenos
para as namoradas. A miséria humana se estatela nas paredes de edifícios digitais
onde outros criminosos, os corruptos, roubam moradia, roubam educação, saúde e
alimentação de outros futuros monstros que se constroem nos becos, esquinas e
cadeias, cada vez mais monstros, cada vez mais desumanos. A humanidade vende
mais drogas que livros, lucra mais com alucinações que com dízimos e
assistência social.
E
ler consome a alma. No ano passado a visão de cabeças degoladas e de homens
jogando futebol com cabeças humanas num presídio do Maranhão rompeu a linha
entre o raciocínio e a insanidade. Depois, eram garotos incendiando ônibus com
passageiros dentro, crianças torrando crianças vivas em praça pública; uma
sanha assassina incontrolável, um nível de perversão dos sentidos que nem
podíamos imaginar.
Este
ano, uma chacina em Panaquatira registrou a presença de menores entre os
autores dos homicídios e um garoto com uma faca dentro do ônibus foi morto por
um passageiro que também matou uma estudante no vigor de seus 21 anos. De São
Paulo e do Rio de Janeiro chegaram as notícias de meninos vestidos de armas
brancas assassinando ciclistas no passeio em troca de alguns trocados, ou de
nada além do terrível prazer de matar.
Mata-se
mais no Brasil que em países em guerra. Mata-se tanto que as autoridades não
tem tempo de construir prisões para guardar tantos assassinos. E, para desgraça
de todas as nossas ilusões de que uma solução possa ser encontrada, alguém
sugere, nas páginas de um jornal, o genocídio no pior estilo dos nazistas
contra os judeus. Sugere mais mortes, mais sangue, mais crimes. Outros,
simplesmente expõem os cadáveres como matéria de disputas políticas, sem o
mínimo resquício de preocupação social.
Mas
alguma coisa de muito ruim aconteceu para que fosse assim. A nossa convivência
era com trombadinhas, com batedores de carteira, com meninos pulando muros e
janelas. Esses meninos viraram monstros, aprenderam a gostar de matar.
E
a sociedade se esconde com medo das crianças. Com medo das crianças, meu Deus!
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