Editorial
JP, 17 de junho
Havia
uma anedota segundo a qual na fase mais dura do governo do general Costa e
Silva o maior partido político do Brasil era constituído de ex-comunistas. As
fugas dos PCs, entretanto, ocorriam pelas mais variadas razões, dentre elas a
violenta repressão, discordâncias teóricas e alguns acontecimentos na Europa
que não cabe citar aqui .
Guardadas
as devidas proporções, é provável que o maior partido político do Maranhão,
hoje, seja constituído de ex-sarneisistas. Com a diferença de que aqui não
entram razões de cunho ideológico. Os trânsfugas do sarneisismo são guiados
apenas pela mesma ganância de sempre e por uma atormentada saudade do poder.
Até anticomunistas sectários e caçadores de bruxas estão procurando um jeitinho
de se acertarem com o novo governo, o primeiro dirigido por um partido
comunista no Brasil.
E
haja saúde marxista para acreditar nesse pessoal defendendo o fim da exploração
capitalista, a extinção das classes sociais e do próprio Estado; esta, claro,
depois de inevitável transição pela ditadura do proletariado. Nem Trotski
acreditaria!
E
já que estamos tendo visões, como ficaria, por exemplo, o deputado Stênio
Rezende com uma foice na mão e um martelo na outra gritando: “Todo poder aos sovietes”!
Ou o professor (e deputado) César Pires em novo Congresso de Londres,
empunhando o Manifesto Comunista, talvez o tratado político de maior influência
mundial, defendendo, na mais catedrática das linguagens, o socialismo
científico de Marx e Engels.
Fosse
o Maranhão um país europeu e estaríamos diante do maior cisma doutrinário desde
o século XIX. Maior não apenas pela quantidade de dissidentes do sarneisismo
que buscam uma aproximação com o governo, mas pela imensidade das diferenças de
princípios políticos. Uma nova catequese, que privilegia a honestidade, a
transparência e a justiça em contraponto a um poder que foi exercido sob a
égide da agiotagem e da corrupção. É uma distância abissal.
A
velha anedota comunista diz respeito a princípios revolucionários codificados
ao longo dos dois últimos séculos. No sarneisismo, nada houve de revolucionário;
houve apenas a opção do poder pelo poder. Nenhuma preocupação com a pobreza do
povo, o analfabetismo, a saúde pública ou respeito a qualquer dos princípios da
administração. Nem mesmo água potável se preocuparam em fazer chegar à
população. Somente a burguesia encastelada no Palácio dos Leões foi beneficiada
ao longo das últimas décadas.
Naturalmente
o governo resiste às incursões dos trânsfugas do sarneisismo. Mas não é fácil.
Depois de quase cinco décadas eles estão incrustrados em todas as secções do
serviço público e, ainda por cima, dominam os meios de comunicação.
Nada
disso, no entanto, é motivo de preocupação. Alianças com a pequena burguesia estão
previstas desde antes do rompimento dos marxistas com os operários anarquistas
de Proudhon e Bakunin.
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