quarta-feira, 17 de junho de 2015

Ex-sarneisistas

Editorial JP, 17 de junho


Havia uma anedota segundo a qual na fase mais dura do governo do general Costa e Silva o maior partido político do Brasil era constituído de ex-comunistas. As fugas dos PCs, entretanto, ocorriam pelas mais variadas razões, dentre elas a violenta repressão, discordâncias teóricas e alguns acontecimentos na Europa que não cabe citar aqui .
Guardadas as devidas proporções, é provável que o maior partido político do Maranhão, hoje, seja constituído de ex-sarneisistas. Com a diferença de que aqui não entram razões de cunho ideológico. Os trânsfugas do sarneisismo são guiados apenas pela mesma ganância de sempre e por uma atormentada saudade do poder. Até anticomunistas sectários e caçadores de bruxas estão procurando um jeitinho de se acertarem com o novo governo, o primeiro dirigido por um partido comunista no Brasil.
E haja saúde marxista para acreditar nesse pessoal defendendo o fim da exploração capitalista, a extinção das classes sociais e do próprio Estado; esta, claro, depois de inevitável transição pela ditadura do proletariado. Nem Trotski acreditaria!
E já que estamos tendo visões, como ficaria, por exemplo, o deputado Stênio Rezende com uma foice na mão e um martelo na outra gritando: “Todo poder aos sovietes”! Ou o professor (e deputado) César Pires em novo Congresso de Londres, empunhando o Manifesto Comunista, talvez o tratado político de maior influência mundial, defendendo, na mais catedrática das linguagens, o socialismo científico de Marx e Engels.
Fosse o Maranhão um país europeu e estaríamos diante do maior cisma doutrinário desde o século XIX. Maior não apenas pela quantidade de dissidentes do sarneisismo que buscam uma aproximação com o governo, mas pela imensidade das diferenças de princípios políticos. Uma nova catequese, que privilegia a honestidade, a transparência e a justiça em contraponto a um poder que foi exercido sob a égide da agiotagem e da corrupção. É uma distância abissal.
A velha anedota comunista diz respeito a princípios revolucionários codificados ao longo dos dois últimos séculos. No sarneisismo, nada houve de revolucionário; houve apenas a opção do poder pelo poder. Nenhuma preocupação com a pobreza do povo, o analfabetismo, a saúde pública ou respeito a qualquer dos princípios da administração. Nem mesmo água potável se preocuparam em fazer chegar à população. Somente a burguesia encastelada no Palácio dos Leões foi beneficiada ao longo das últimas décadas.
Naturalmente o governo resiste às incursões dos trânsfugas do sarneisismo. Mas não é fácil. Depois de quase cinco décadas eles estão incrustrados em todas as secções do serviço público e, ainda por cima, dominam os meios de comunicação.

Nada disso, no entanto, é motivo de preocupação. Alianças com a pequena burguesia estão previstas desde antes do rompimento dos marxistas com os operários anarquistas de Proudhon e Bakunin.

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