domingo, 14 de junho de 2015

Tiquira dá cãibra; corrupção, hoje, dá cadeia

JM Cunha Santos


Embora azul, como os sonhos de minha geração, sempre tive medo de beber tiquira. O povo dizia que quem bebesse e se molhasse dava cãibras, entrevava, entrava em espasmos como se atingido por repentino ataque de epilepsia.  Ademais, achava muito forte, mesmo para a poesia.
Os meus sonhos azuis estavam lá no “Credo Político” de Rui Barbosa, uma resposta fulminante à ditadura civil-militar que Sarney e outros sustentavam a ferro e fogo no Brasil:
“Rejeito as denúncias de arbítrio; abomino as ditaduras de todo o gênero, militares ou científicas, coroadas ou populares: detesto os estados de sítio, as suspensões de garantias, as razões de estado, as leis de salvação pública; odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas; oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de ignorância; e, quando essa se traduz pela abolição geral das grandes instituições docentes, isto é, pela hostilidade radical à inteligência do país nos focos mais altos de sua cultura, a estúpida selvageria dessa fórmula administrativa impressiona-me como o bramir de um oceano de barbaria ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade”.
E haja tiquira para suportar os solavancos nessa corrosiva marcha-a-ré da liberdade. Essa foi a verdadeira indústria do ódio e da perseguição. Contra a juventude, contra os estudantes, contra os operários, contra os lavradores, os políticos de oposição ao regime, os intelectuais e poetas, tantos banidos deste país. Sarney foi capitão dessa indústria que fez do Maranhão o estado mais pobre do país, inventou a educação de palha, reinventou a desonestidade nos negócios públicos, provocou no Estado uma verdadeira diáspora do homem do campo.
Sob este signo de maldição, perseguição e tirania, nasceu o Sistema Mirante de Comunicação. Sarney não entupiu de toxinas apenas os adversários da ditadura. Envenenou também os meios de comunicação e o povo desse Estado, este com a fome e a miséria de sua tiquira política diabólica. E só ele não sente que estão voltando a cor, o cheiro e o gosto de liberdade e honestidade também ao Maranhão.
O governo Flávio Dino consegue isso a cada vez que um agiota, um quadrilheiro ou um corrupto vai parar na prisão.

Tiquira dá cãibra. Corrupção, hoje, dá cadeia. É bom ninguém desses tristes junhos do passado não esquecer.

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