Editorial
JP, 16 de julho
“Não
matarás”. Eis a ordem definitiva dos
deuses em qualquer religião e, entre os céticos, há uma expressão lapidada
segundo a qual um crime não justifica outro. Todas as consequências que levam
ao linchamento tem por trás de si históricos de tensão econômica,
discriminação, guerra, insegurança, preconceito, opressão racial e fanatismo.
Foi
assim com a mulher adúltera salva por Jesus Cristo quando o adultério feminino
era punido com apedrejamento. Mas julgam alguns que participam de linchagens ou
que as assistem estar promovendo alguma forma de Justiça. Um erro crasso e um
ato de desumanidade sem medidas, no qual muitos homens se juntam para tirar a
vida de outro homem ou de um grupo que julguem ter excedido os limites da
convivência social. Pra corrigir um crime, cometem outro crime ainda maior.
Está
no Jornal Pequeno de segunda-feira a notícia de 10 mortes acontecidas em 9
linchamentos entre os anos de 2013 e 2014 e por absoluta falta de investimentos
na segurança pública. A história de assassinatos cometidos por multidões tem
faces terríveis como se a multidão adquirisse um cérebro novo e que não
pertence a ninguém em particular, incapaz de medir as consequências de seus
atos. Porque não pode ser justo que se apedreje uma mulher, nem esses contos
terríveis de pessoas queimadas vivas porque aparentavam ter ligações com bruxas
e duendes.
Charles
Lynch era um coronel do exército que promovia esse tipo de massacre durante a
guerra da independência dos Estados Unidos. William Lynch, capitão do exército,
mantinha um comitê de para manutenção da ordem no condado da Virgínia. Não era
nada, era só um comitê de assassinos.
Cada
um tem sua própria visão de Justiça e muitos julgam que deve ser imediatamente
morto qualquer um que transgrida as leis da convivência social. Sem julgamento,
sem que se tenha sequer uma prova cabal de que o indivíduo realmente cometeu um
crime. A pena de morte instantânea, por enforcamento, foi muito praticada na
Idade Média, mas somos seres humanos, não somos animais, feras adoecidas trucidando
outras pessoas na mais pungente forma de espetáculo público.
Os
judeus linchavam suas mulheres, os alemães assavam judeus vivos durante a
segunda guerra e uma parte dos brasileiros julga-se no direito de “justiçar”
assaltantes e até inocentes. Inocentes, sim. Não da para esquecer o caso da
mulher evangélica acusada injustamente de torturar crianças que foi morta a
pancadas por uma multidão em São Paulo.
O
certo é que não pode haver alegria, nem satisfação dos sentidos no ato de tirar
a vida de alguém, seja o mais cruel e impiedoso bandido. Isso nos encaminha na
direção de uma sociedade sem regras, sem leis, onde será impossível se viver.
Se cada cidadão se transformar em juiz e carrasco de seus semelhantes o mundo
repetirá todas as carnificinas que a História não cansa de registrar.
Se,
às vezes, é muito grande a nossa dor e ainda maior a indignação diante das
atrocidades que se cometem, devemos ter o cuidado de não cometer, por conta
disso, outras atrocidades e espalhar uma dor ainda maior.
A
lei de Lynch é, definitivamente, uma barbaridade que ofende a paz dos homens e
o faz sangrar o coração de Deus.
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