quarta-feira, 29 de julho de 2015

Investigações da Lava Jato chegam ao setor elétrico, espólio de políticos do Maranhão

JM Cunha Santo


A prisão de Othon Luís Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear, sob suspeita de receber propina da Andrade Gutierrez e Engevix, em virtude das obras de Angra 3, retardadas por mais de 24 anos, confirma que, finalmente, a Operação Lava Jato chegou ao setor elétrico. Os investigadores calculam que a propina tenha chegado a R$ 30 milhões, 1% do valor dos contratos, dos quais Othon Luís Pinheiro teria recebido, no mínimo, R$ 4,5 milhões.
O setor elétrico tem estreitas ligações com a política do Maranhão, desde que lá chegou o chamado “Grupo da Poli”, uma referência à turma formada no Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP. O líder do grupo, conforme um inquérito da Polícia Federal que não teve resultados diretos, era Fernando Sarney. Do grupo faziam parte Astrogildo Quental, que foi diretor financeiro da Eletrobrás, holding que movimentava à época R$ 6 bilhões e tinha como subsidiárias a Eletronorte, Eletrosul, Chesf e Furnas e a própria Eletronuclear cujo presidente licenciado, Othon Luís Pinheiro, acaba de ser preso.
Outro do “Grupo da Poli”, Ulisses Assad, foi diretor de Engenharia da Valec, ligada ao Ministério dos Transportes e responsável pelas obras da Ferrovia Norte-Sul, iniciada quando Sarney era presidente da República. Faziam parte, ainda, Gianfranco Perrasso e Flávio Barbosa. A eles, conforme noticiou a imprensa nacional, se juntaria depois Silas Rondeau, que foi ministro das Minas e Energias, indicado por José Sarney, deixou o cargo sob suspeita de corrupção e encontrou abrigo nos Conselhos de Administração da Petrobrás, da BR Distribuidora e de Itaipu.
O grupo foi acusado pela Polícia Federal como responsável por operações financeiras em paraísos fiscais do Caribe e da China. A influência do grupo no setor elétrico se manteve mesmo depois que Silas Rondeau deixou o Ministério das Minas e Energias sendo substituído pelo senador Edison Lobão. A Polícia Federal ainda chegou a pedir a prisão de Fernando Sarney, decisão que recebeu parecer favorável dos procuradores Thainá Freire e Marcílio Nunes, mas não aconteceu em virtude de um habeas corpus preventivo obtido por Fernando Sarney junto ao STJ. “Sei que estão investigando desvio de dinheiro público, mas não mexo com o setor público, sou um empresário privado”, declarou Fernando Sarney.
Quando da saída do senador José Sarney da cena política nacional, PMDB e PT travaram uma batalha pelo que se convencionou chamar “o espólio de Sarney no setor elétrico”. Até indicações para a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL foram sabotadas por Renan Calheiros no Senado.

O Maranhão marca presença nas investigações da Lava Jato no setor elétrico, também através das declarações do dono da UTC Constran, Ricardo Pessoa. Em delação premiada, ele afirmou ter acertado diretamente com o então ministro das Minas e Energias, Edison Lobão, a liberação de propinas em mais esse filão maldito da corrupção nacional que envolve, desta vez, a maioria das estatais do setor elétrico.

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