JM
Cunha Santo
A
prisão de Othon Luís Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear, sob
suspeita de receber propina da Andrade Gutierrez e Engevix, em virtude das
obras de Angra 3, retardadas por mais de 24 anos, confirma que, finalmente, a
Operação Lava Jato chegou ao setor elétrico. Os investigadores calculam que a
propina tenha chegado a R$ 30 milhões, 1% do valor dos contratos, dos quais
Othon Luís Pinheiro teria recebido, no mínimo, R$ 4,5 milhões.
O
setor elétrico tem estreitas ligações com a política do Maranhão, desde que lá
chegou o chamado “Grupo da Poli”, uma referência à turma formada no Curso de
Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP. O
líder do grupo, conforme um inquérito da Polícia Federal que não teve
resultados diretos, era Fernando Sarney. Do grupo faziam parte Astrogildo
Quental, que foi diretor financeiro da Eletrobrás, holding que movimentava à época
R$ 6 bilhões e tinha como subsidiárias a Eletronorte, Eletrosul, Chesf e Furnas
e a própria Eletronuclear cujo presidente licenciado, Othon Luís Pinheiro,
acaba de ser preso.
Outro
do “Grupo da Poli”, Ulisses Assad, foi diretor de Engenharia da Valec, ligada
ao Ministério dos Transportes e responsável pelas obras da Ferrovia Norte-Sul,
iniciada quando Sarney era presidente da República. Faziam parte, ainda,
Gianfranco Perrasso e Flávio Barbosa. A eles, conforme noticiou a imprensa
nacional, se juntaria depois Silas Rondeau, que foi ministro das Minas e
Energias, indicado por José Sarney, deixou o cargo sob suspeita de corrupção e
encontrou abrigo nos Conselhos de Administração da Petrobrás, da BR
Distribuidora e de Itaipu.
O
grupo foi acusado pela Polícia Federal como responsável por operações
financeiras em paraísos fiscais do Caribe e da China. A influência do grupo no
setor elétrico se manteve mesmo depois que Silas Rondeau deixou o Ministério
das Minas e Energias sendo substituído pelo senador Edison Lobão. A Polícia
Federal ainda chegou a pedir a prisão de Fernando Sarney, decisão que recebeu
parecer favorável dos procuradores Thainá Freire e Marcílio Nunes, mas não
aconteceu em virtude de um habeas corpus preventivo obtido por Fernando Sarney
junto ao STJ. “Sei que estão investigando desvio de dinheiro público, mas não
mexo com o setor público, sou um empresário privado”, declarou Fernando Sarney.
Quando
da saída do senador José Sarney da cena política nacional, PMDB e PT travaram
uma batalha pelo que se convencionou chamar “o espólio de Sarney no setor
elétrico”. Até indicações para a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL
foram sabotadas por Renan Calheiros no Senado.
O
Maranhão marca presença nas investigações da Lava Jato no setor elétrico, também
através das declarações do dono da UTC Constran, Ricardo Pessoa. Em delação
premiada, ele afirmou ter acertado diretamente com o então ministro das Minas e
Energias, Edison Lobão, a liberação de propinas em mais esse filão maldito da
corrupção nacional que envolve, desta vez, a maioria das estatais do setor
elétrico.
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