João Abreu teria recebido R$ 3
milhões em propinas do esquema Lava Jato para distribuir a integrantes do
governo do Maranhão em troca de precatório milionário
Por Ricardo Galhardo
A Polícia Civil do Maranhão indiciou o ex-secretário da Casa Civil do
governo Roseana Sarney (PMDB), João Abreu, por corrupção. Ele é suspeito de ter
recebido R$ 3 milhões em propinas para garantir que o governo maranhense, na
gestão Roseana, pagaria um precatório de R$ 134 milhões à empresa Constran-UTC.
O milionário precatório do Maranhão é um emblemático capítulo da
Operação Lava Jato que escancarou o elo do doleiro Alberto Youssef, pivô da
investigação sobre esquema de propinas na Petrobrás, com o empreiteiro Ricardo
Pessoa, dono da UTC Engenharia que virou delator e confessou cartel na estatal
petrolífera entre 2004 e 2014.
Além do ex-secretário da Casa Civil de Roseana foram indiciados outros
personagens importantes da Lava Jato – o próprio doleiro, o carregador de malas
de dinheiro de Youssef, Rafael Ângulo Lopes, e Adarico Negromonte, irmão do
ex-ministro do governo Dilma Rousseff Mário Negromonte, todos sob suspeita de
terem operado os pagamentos.
A Polícia enquadrou, ainda, o corretor Marco Antonio Ziegert, o Marcão,
suposto elo entre Youssef e o governo do Maranhão. O indiciamento se
baseia em depoimentos e delações premiadas colhidas pela Lava Jato e
testemunhos da contadora de Youssef, Meire Poza, e do sócio do doleiro no
laboratório Labogen, Leonardo Meirelles, feitas pela própria Polícia Civil do
Maranhão.
Segundo os depoimentos, Negromonte e Ângulo fizeram ao menos três
viagens a São Luís a mando de Youssef nas quais levaram a propina em dinheiro
vivo escondido no próprio corpo. De acordo com a Polícia Civil maranhense,
o secretário reclamou da falta de R$ 1 milhão no montante da propina. Isso
teria levado o próprio Youssef a ir até São Luís para resolver pessoalmente o
problema.
Youssef foi preso em um hotel de luxo na capital maranhense no dia 17 de março
de 2014. A prisão desencadeou a Lava Jato. De acordo com a Polícia Civil,
enquanto Youssef era preso Marcão saiu do hotel com a propina que seria
entregue a integrantes do governo Roseana.
“Na oportunidade da prísão de Youssef, Marcão não teria sido abordado
pela Polícia Federal, embora estivesse no mesmo hotel, e conseguiu efetivamente
levar o dinheiro da propina para membros do governo”, diz o relatório.
Em março deste ano, diante das revelações feitas pela Lava Jato, a juíza
da 1.ª Vara da Fazenda Pública do Maranhão, Luiza Nepomucena, desobrigou o
governo a pagar as parcelas restantes do precatório. Na mesma época a Constran
rescindiu o acordo feito com a administração Roseana para quitação da dívida.
O governador do Maranhão, Flavio Dino (PC do B), que sucedeu Roseana no
Palácio dos Leões, determinou a criação de uma comissão para apurar o caso.
COM A PALAVRA, O ADVOGADO CARLOS SEABRA DE CARVALHO
COELHO, DEFENSOR DE JOÃO ABREU
“O sr. João Abreu nega veementemente ter recebido propina de qualquer
valor, seja de Alberto Youssef, seja de outra pessoa, durante o exercício do
cargo de Secretário ou em razão dele.”
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