quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Aniversário na pátria dos poetas

Editorial JP, 9 de setembro

Quando, em 1612, Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, ergueu a taça com que brindaria a fundação da França Equinocial, não imaginava que aquela feitoria, habitada então apenas por indígenas, chegaria a 2015 com mais de 1 milhão de habitantes, cristalizada ainda pelas mesmas belezas naturais e guardando um soberbo acervo arquitetônico colonial.
São Luís completou 403 anos resistindo a muitas batalhas. Contra holandeses, portugueses, franceses e gestando a miscigenação própria do povo brasileiro. Seus casarões, mesmo depauperados, resistiram às intempéries do tempo, exibindo ainda as marcas dos azulejos multifacetados, ladeiras sem começo, escadarias intransponíveis, beirais inalcançáveis e uma diversidade cultural que reúne motivos africanos, europeus e indígenas e fazem de São Luís um dos mais atraentes destinos turísticos em toda parte.
Uma festa de vozes, cores, fotografias, tambores, relâmpagos e fé levou milhares à Praça Maria Aragão e a cidade comemorou a alternância de poder, a despeito dos que contra ela conspiraram, com o grito uníssono de seu povo, a gente da Ilha Rebelde, da Pátria dos Poetas, da Ilha dos Amores, principal foco da luta pela liberdade no Maranhão.
Nos becos invadidos por inimagináveis cavalos de aço, a história expõe a alma tapuia de um povo soberbo que, mesmo atrapalhado pela explosão demográfica, resiste, há quatro séculos, a todas as formas de dominação. Se terra de poetas, mas também de serpentes, de galerias, mas também de becos sem saída, se província submersa em crimes políticos, São Luís chega a 2015 com vontade de se reconstruir.
A cidade limpa suas praias, pavimenta suas ruas, se reformula na transparência e na honestidade administrativa, primeiros passos de uma liberdade que seu povo, a duras penas, conquistou. A província agigantada para todos os lados, última metrópole num país de grandiosidades, Atenas de uma Grécia tantas vezes dominada, pinta-se de bonita para que seu povo viva melhor.
Ao som dos sinos que acordam os católicos e dos louvores que despertam os evangélicos, São Luís, cansada de guerra, festeja a vontade de crescer, de não mais ser palco de tumultos políticos, lugar de perseguições, vinganças e interesses pessoais. São Luís quer ser São Luís e sente que, agora, pode ser.

Das almas dos navegantes que atravessaram suas marés e aqui aportaram vem o gosto do mar, ao sal da terra, para o cio fantástico dos tambores que trazem de volta as manhãs. De crioula, de mina, de bumba-boi; tambores que versejam nas páginas da história, mensageiros do que pode ser uma nova era, tambores que até hoje só tocaram sons de liberdade e hinos de amor ao sol. 

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