sábado, 5 de setembro de 2015

O último profeta

Editorial JP, 5 de setembro

O poeta Renato Russo em uma das mais belas canções que este país ouviu perguntava: “será só imaginação, será que nada vai acontecer, será que é tudo isso em vão, será que vamos conseguir vencer”?
Imaginem, agora, que tudo que um povo sonha vai dar certo, que não existirão crianças famintas e que o mais que essa gente pobre, humilde e sem trégua sente vai acontecer. Imaginem, só por um momento, que a palavra de Deus não foi em vão e que o mal se extinguirá nas suas próprias raízes; imaginem o mundo sem guerras, sem medos no qual só prevalecerá a justiça.
Essas imagens são propositais porque há de chegar o dia em que por trás de cada lagrima caberá um sorriso oculto. Mesmo que essa crônica não alcance os juízes, os pastores, os médicos, os jornalistas e todas as profissões fundadas na violência, pensem só e pensem só mais uma vez num mundo sem armas, longe da iniquidade humana no qual a dor não será mais servil ao sofrimento.
Essa mistura de Renato Russo com John Lennon é a receita exata pela qual controlaremos nossa raiva e todo sentimento de ódio, discriminação e xenofobia se esconderá acima de nossas barbas e de nossas peles. Nunca mais um homem vai achar que tem o direito de tirar a vida de outro homem, nunca mais bateremos em nossas mulheres e, principalmente, estaremos proibidos de barbarizar nossas crianças.
Não retornaremos à crueldade do homo sapiens, disputando comida e território como se fosse amor. Estaremos acordados, suplicando pela ternura, pelo carinho e o vil metal que nos afasta uns dos outros se tornará a moeda de troca da solidariedade e da fraternidade.
O único pecado será deixar alguém com fome e, como se todas as casas fossem o Éden, só nos será proibido desmanchar o paraíso.
Um planeta governado por carnificinas religiosas e pagãs como a Terra dispensará todas as cobiças porque, simplesmente, seremos prisioneiros da verdade.
Nada de absoluto governará nossas almas, nem mesmo o vaticínio implacável da morte. O sangue só correrá dos acidentes e dos arranhões. Só as bambinas e bambinos terão o direito de morder e, para que todos se reconheçam, o único vício será leite de mãe.

Essa é a crônica permitida de um missionário que pensa em vencer a si próprio para também vencer a maldade humana, é o panfleto apócrifo que cada um dos oito bilhões de habitantes do mundo deveria assinar. É apenas a vontade de um espirito que nem precisa ser santo para dizer:  “faça-se a luz”.

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