Jéssica Barros/ Agência Assembleia
Marionete Brito da Conceição começou a trabalhar
como doméstica ainda quando morava no interior do Piauí. No Maranhão, passou a
viver como quebradeira de coco, coco babaçu, fruta típica da região, da onde se
extrai o leite e o azeite. Assim como para tantas outras famílias, por anos,
essa foi a principal fonte de renda da agricultora para cuidar dos seus três
filhos. “Quando a gente conseguia vender tudo que quebrava no dia dava para
tirar uns cinco reais”, contou.
No povoado Alecrim, onde morava, localizado a 58 km
do município de Caxias, cerca de 70 famílias receberam do INCRA, através do
Projeto Assentamento (PA), 60 hectares de campo agrícola para dividirem entre
si. A ideia inicial era de que a terra, que rendia frutas da estação como caju,
acerola, goiaba, manga, jenipapo, carambola e limão, fosse a principal fonte de
renda dos agricultores da região.
E foi assim por um bom tempo. Mas, de acordo com
relatos do presidente da Associação dos Agricultores do Povoado do Alecrim,
José Costa, distúrbios climáticos começaram a destruir as plantações. Com isso,
os agricultores passaram a tentar outros meios para o sustento. Chegaram a
fabricar bijuterias, artesanato e até criação de caprinos. Porém, nada disso
deu certo.
CAPACITAÇÃO
Foi o que levou o Sebrae a visitar pela primeira vez
o assentamento, em 2007, através do Projeto de Atendimento Rural. Lá,
orientaram os trabalhadores a fazerem o aproveitamento integral das frutas que
estavam trazendo prejuízo quando estragavam ou machucavam.
A capacitação foi direcionada a 30 mulheres do
assentamento alecrim. Elas aprenderam a produzir licores, doces, polpas, entre
outros produtos derivados das frutas. “Adaptamos a tecnologia de
agroindústria familiar à realidade delas, com seus fogões de barro e suas
próprias panelas, sem que houvesse prejuízo na qualidade do produto”, explicou
Milena Cabral, gerente do Sebrae, Unidade Caxias.
Dessas mulheres, a agricultora Marionete Brito
ganhou destaque, porque fez do caju o ‘ouro do alecrim’. Com criatividade de
sobra, começou a criar receitas inimagináveis a partir da fruta: croquetes,
tortas salgadas, almôndegas, recheio de panquecas, bifes, carnes de hambúrguer
e até lasanhas. Marionete garante que o sabor nem lembra o caju. “É como se
fosse carne de caranguejo ou de frango. Pra chegar ao ponto da carne é só
manter a rigidez”, explicou. E o segredo para manter a rigidez? Marionete não
conta, é claro.
A força de vontade e o espírito empreendedor da
agricultora despertaram o interesse do Sebrae, que passou a prepara-la ainda
mais. Marionete aprendeu sobre finanças, gestão, padronização, designers de
embalagens, rótulos, preços finais, enfim, tudo que um microempresário precisa
para competir no mercado de trabalho. Isso através de consultorias,
capacitações, palestras e cursos gratuitos.
“A Marionete é um caso de sucesso. Dentre as varias
pessoas que foram capacitadas, ela é a pessoa que sempre busca o Sebrae, sempre
está querendo empreender, melhorar, então, ela é a cara do Sebrae. E é pra isso
que estamos aqui, pra ajudar nesse fortalecimento do empreendedorismo”, disse a
gerente Milena Cabral.
DELÍCIA DE CAXIAS
O investimento na agricultora foi além, o Sebrae
ajudou a desenvolver a sua própria marca batizada de ‘Delícias de Caxias’ e
também a padronizar seus produtos, utilizando embalagens trabalhadas a mão, de
forma artesanal. A ideia, segundo Milena, é manter a concepção inicial do
produto, que são naturais e regionais.
“Quando a gente trabalha o desenvolvimento de uma
marca é justamente com o foco de que aonde você chega, identifica a origem. Eu
posso estar em São Luís ou em outro estado, que eu vou estar sempre retomando
ao município de de Caxias, contribuindo, assim, além do desenvolvimento desses
produtores, a desenvolver o município”, afirmou.
Logo que seus produtos se espalharam pelos
supermercados, padarias, hotéis e restaurantes de Caxias e região veio a
necessidade de fabricar em quantidade maior e em menos tempo. Produzir no fogão
de barro na casa da sua mãe, a dona Pedra, já não supria as demandas. Além
disso, Marionte já necessitava de uma equipe.
MAIS APOIO
Sempre ousada, Marionte procurou ajuda da Câmara
Municipal de Caxias. O vereador Jerônimo prontamente atendeu o seu pedido e lhe
cedeu a cozinha do APAE da cidade nos fins de semana. “É perfeito. Já tem tudo.
Formas de todos os tamanhos, panelas, forno industrial, tudo que eu preciso”,
informou Marionete. Foi assim que a empreendedora ganhou uma nova rotina nas
sextas, sábados e domingos.
Saindo de casa antes das 6h e de carona em cima de
um caminhão, Marionete enfrenta muito sol e poeira até chegar ao seu novo local
de trabalho. “Vale a pena”, garante.
Junto com a nova rotina, Marionete ganhou mais clientes
e novos parceiros. Além do Sebrae e da Câmara Municipal, a
COOPERVIDA (Cooperativa dos Produtores Rurais de Caxias e Região dos
Cocais) também entrou para a produção.
Hoje, são pouco mais de 50 pessoas envolvidas em
todo o trabalho e as produções seguintes já dependem do recurso adquirido com
as vendas. “Ao final do dia, temos em torno de 600 reais. Esse dinheiro é todo
divido para o capital de giro e entre os funcionários, conforme o Sebrae nos
ensinou”, ressaltou.
A AGRITEC
Na Feira de Agricultura e Tecnologia, que aconteceu
de 11 a 14 de novembro no Parque das Cidades de Caxias, promovida pelo governo
do estado, a ex - quebradeira de coco e agora microempresária queria ir mais
longe. Vender todos os produtos ali expostos era pouco, Marionete buscava
um patrocínio para lançar um livro com suas deliciosas receitas. “Todas criadas
por mim”, fez questão de ressaltar.
O patrocínio de mais um dos seus sonhos ainda não
deu certo, mas, na abertura da Agritec conseguiu a visita do presidente da
Assembleia, deputado Humberto Coutinho (PDT), e do governador Flávio Dino
(PCdoB), que pararam no seu stand para saborear suas ‘Delícias de Caxias’.
A Agritec, que é uma iniciativa do Sistema de
Agricultura Familiar - Secretaria de Agricultura Familiar (SAF), Agência
Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão (Agerp) e
Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) – em parceria com
Embrapa, Sebrae e movimentos sociais, tem como objetivo dinamizar a economia
criativa, qualificando e criando espaços para discussão de políticas públicas e
comercialização da agricultura familiar.
Humberto Coutinho elogiou o avanço dos agricultores
que, assim como Marionete, tem buscado soluções para aumentar e qualificar suas
produções, aliando conhecimento, produção e tecnologia.
“Esse momento comprova que nós acreditamos que a
produção ao lado da capacitação, da formação e da tecnologia são essenciais
para que a gente possa ter indicadores econômicos melhores, ou seja, havendo
uma oportunidade de diálogo entre aqueles que produzem conhecimento e aqueles
que produzem no campo, melhora ainda mais o processo de produção e os
resultados. Marionete é um exemplo”, enfatizou o presente.
Em toda a feira se viu uma verdadeira vitrine
tecnológica com sistemas e métodos avançados de produção agrícola e artesanal
feitos de materiais sustentáveis e biodegradáveis. Tudo apresentado pelos
próprios agricultores que receberam o apoio da Agerp, Embrapa ou Sebrae para
desenvolvê-los. A Embrapa ensinando como usar a tecnologia – onde se consegue
abreviar resultados – e o Sebrae, por sua vez, com a capacitação, através do
empreendedorismo. “Isso resulta em agricultores mais preparados para o mercado
de trabalho, gerando renda e mais qualidade de vida”, analisou o governador.
Agritec’s este ano, estão sendo realizadas em quatro
municípios, representando territórios, são eles: São Bento, realizada em agosto
deste ano, Açailândia, Caxias e Bacabal. A Feira de Açailândia foi em outubro e
a de Caxias agora em novembro. Para encerrar o ano, Bacabal fechará a Agritec
2015 em dezembro, com data a ser definida.
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