quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

De volta às “defuntices” eleitorais

Editorial JP, 02 de dezembro
E a crise chegou ao processo eleitoral brasileiro, um dos mais fortes orgulhos de nossa democracia e que suplantava, em todos os seus trâmites, países de primeiro mundo. O mais seguro do planeta, conforme muitas opiniões. Do voto eletrônico, chegamos ao voto biométrico, um avanço científico que as maiores democracias do mundo não conseguiram sequer projetar.
Mas é provável que o surpreendente retrocesso não se esgote na aposentadoria das urnas eletrônicas. Pelo menos no Maranhão, o voto manual muitas vezes se transformou em voto Manuel, de tanto Manuel que votava na mesma urna. No interior, ministravam até cursos de voto carretilha e as urnas emprenhavam para parir candidatos eleitos que nunca tinham sequer passado ou sonhado com aquele lugar.
A crise tinha que servir a alguém ou a alguma coisa, pois reacendem-se, assim, as esperanças dos que vendiam e compravam votos, aqueles que malocavam títulos de eleitores dentro de casa como se fossem produtos de contrabando. Estará de volta também a ressurreição, já que os defuntos que haviam sumido do mapa eleitoral voltarão às urnas para exercer suas cidadanias cadavéricas. Afinal, a democracia é um direito de todos, inclusive dos mortos.
E, como diria Odorico Paraguaçu, o impagável personagem de Dias Gomes, essas “defuntices” são quase impossíveis nas urnas eletrônicas. Defunto tem medo de pegar choque e muitos poucos sabem ler e, menos ainda, digitar. E até que estavam se sentindo defuntos mais orgulhosos, posto que o voto biométrico lhes devolveu as impressões digitais que a morte levou.
Lembranças não tão velhas das cédulas eleitorais evidenciam as diversas formas de violentar a vontade expressa e não expressa do eleitor. Inclusive através de cédulas. De 100 reais, claro. Na eleição de 2010, além de ser acusada de promover consultas médicas gratuitas no período vedado por lei, Roseana Sarney foi acusada de pagar milhares de contas de água, luz e telefone de eleitores de diversos bairros de São Luís. Teve gente que foi filmada e fotografada nas loterias carregando sacos e sacos de inadimplências em troca de votos no intuito de evitar, como, de fato, evitaram que a eleição fosse ao segundo turno.
Mas não são apenas os defuntos que ameaçam a eleição de 2016. A notícia deixou muita gente arrepiada de saudades; gente que engordava as contas bancárias nesses períodos adulterando atas, subornando mesários, cantando votos etc.

Ao lado dos defuntos, logicamente, virão os fantasmas. E como já votou fantasma no Maranhão! Cruz credo! Se fantasma não votasse ninguém sabe o que seria da Casa Mal Assombrada. Mas é quase certo que ninguém moraria lá.

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