Editorial JP, 02 de dezembro
E a crise chegou ao processo eleitoral
brasileiro, um dos mais fortes orgulhos de nossa democracia e que suplantava,
em todos os seus trâmites, países de primeiro mundo. O mais seguro do planeta,
conforme muitas opiniões. Do voto eletrônico, chegamos ao voto biométrico, um
avanço científico que as maiores democracias do mundo não conseguiram sequer
projetar.
Mas é provável que o surpreendente
retrocesso não se esgote na aposentadoria das urnas eletrônicas. Pelo menos no
Maranhão, o voto manual muitas vezes se transformou em voto Manuel, de tanto
Manuel que votava na mesma urna. No interior, ministravam até cursos de voto
carretilha e as urnas emprenhavam para parir candidatos eleitos que nunca
tinham sequer passado ou sonhado com aquele lugar.
A crise tinha que servir a alguém ou a
alguma coisa, pois reacendem-se, assim, as esperanças dos que vendiam e
compravam votos, aqueles que malocavam títulos de eleitores dentro de casa como
se fossem produtos de contrabando. Estará de volta também a ressurreição, já que
os defuntos que haviam sumido do mapa eleitoral voltarão às urnas para exercer
suas cidadanias cadavéricas. Afinal, a democracia é um direito de todos,
inclusive dos mortos.
E, como diria Odorico Paraguaçu, o
impagável personagem de Dias Gomes, essas “defuntices” são quase impossíveis
nas urnas eletrônicas. Defunto tem medo de pegar choque e muitos poucos sabem
ler e, menos ainda, digitar. E até que estavam se sentindo defuntos mais
orgulhosos, posto que o voto biométrico lhes devolveu as impressões digitais
que a morte levou.
Lembranças não tão velhas das cédulas
eleitorais evidenciam as diversas formas de violentar a vontade expressa e não
expressa do eleitor. Inclusive através de cédulas. De 100 reais, claro. Na
eleição de 2010, além de ser acusada de promover consultas médicas gratuitas no
período vedado por lei, Roseana Sarney foi acusada de pagar milhares de contas
de água, luz e telefone de eleitores de diversos bairros de São Luís. Teve
gente que foi filmada e fotografada nas loterias carregando sacos e sacos de
inadimplências em troca de votos no intuito de evitar, como, de fato, evitaram
que a eleição fosse ao segundo turno.
Mas não são apenas os defuntos que
ameaçam a eleição de 2016. A notícia deixou muita gente arrepiada de saudades;
gente que engordava as contas bancárias nesses períodos adulterando atas,
subornando mesários, cantando votos etc.
Ao lado dos defuntos, logicamente, virão
os fantasmas. E como já votou fantasma no Maranhão! Cruz credo! Se fantasma não
votasse ninguém sabe o que seria da Casa Mal Assombrada. Mas é quase certo que
ninguém moraria lá.
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