quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Os tiros e os pés

Editorial JP, 21 de janeiros
A evolução histórica das comissões parlamentares de inquérito não aconselha a intentona dos deputados Adriano Sarney e Andrea Murad que projetam uma CPI no sentido de investigar fatos e acontecidos da Penitenciária de Pedrinhas. Como situado pelo deputado Rogério Cafeteira, será um tiro no pé e, provavelmente, no pé mais calejado, mais atacado de frieiras, bichos de porco, descamação, úlceras, micoses e fissuras.
Será que, de fato, ao final dessa CPI, Adriano Sarney pretende denunciar o que ocasionou fugas diárias, rebeliões violentas, decapitações e esquartejamentos no Complexo Penitenciário durante os últimos anos do governo Roseana Sarney? O relator dessa CPI precisará ter a coragem de dizer quem abastecia de notbooks, celulares e tabletes os chefões do crime organizado que durante aquele governo usaram as redes sociais para promover ameaças, desafiar as autoridades e disparar ordens de pânico violento contra a população de São Luís.
Como noticiou o Blog do Clodoaldo Corrêa, esta CPI poderá expor os subterrâneos de uma situação que envergonhou o Maranhão diante do mundo; poderá, finalmente, explicar onde foram parar os recursos federais destinados à construção de presídios que jamais se ergueram do chão. E mais: as terceirizações que permitiram a ingovernabilidade do Complexo Penitenciário durante pelo menos uma década de desmandos.
Isso só pode ser briga de família. Devem estar com raiva porque Roseana, talvez no temor de mais investidas policiais contra o clã, decidiu indicar o vereador Fábio Câmara para presidir o PMDB. Sem contar que, no correr dos últimos infortúnios vividos pelo ex-Secretário de Saúde, Ricardo Murad, a solidariedade dos Sarney ante o pedido de prisão da Polícia Federal e o parecer favorável do Ministério Público foi pouca ou quase nenhuma. Deram-lhe um sonoro pontapé.
Demorou até que o povo maranhense descobrisse, qual Nabucodonosor, que os homens que até 2014 governavam essa terra não passavam de ídolos de pés de barro e desabariam no chão diante do grito sufocado de liberdade que a oligarquia prendia em todas as gargantas. E essa CPI proposta, mais que qualquer coisa, denuncia um processo de autoimolação dentro do grupo político que transformou o Sistema Penitenciário do Maranhão numa espécie de sucursal do inferno e o próprio Maranhão no maior símbolo de pobreza absoluta e ausência de políticas sociais do país.

Se, hoje, atiram nos próprios pés, é porque percebem no Estado um ritmo de mudanças que jamais conseguiram ou quiseram imprimir; sabem, agora, que é possível governar sem olhar apenas para o próprio umbigo, escondendo do povo os pés escalavrados de caminhar na direção da improbidade e da corrupção. E atiram nos próprios pés com plena consciência de que, daqui para a frente, o povo do Maranhão sempre os porá a correr.

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