Editorial JP, 21 de janeiros
A evolução histórica das comissões
parlamentares de inquérito não aconselha a intentona dos deputados Adriano
Sarney e Andrea Murad que projetam uma CPI no sentido de investigar fatos e
acontecidos da Penitenciária de Pedrinhas. Como situado pelo deputado Rogério
Cafeteira, será um tiro no pé e, provavelmente, no pé mais calejado, mais
atacado de frieiras, bichos de porco, descamação, úlceras, micoses e fissuras.
Será que, de fato, ao final dessa CPI,
Adriano Sarney pretende denunciar o que ocasionou fugas diárias, rebeliões
violentas, decapitações e esquartejamentos no Complexo Penitenciário durante os
últimos anos do governo Roseana Sarney? O relator dessa CPI precisará ter a
coragem de dizer quem abastecia de notbooks, celulares e tabletes os chefões do
crime organizado que durante aquele governo usaram as redes sociais para
promover ameaças, desafiar as autoridades e disparar ordens de pânico violento
contra a população de São Luís.
Como noticiou o Blog do Clodoaldo Corrêa, esta CPI poderá expor os subterrâneos de uma situação que envergonhou o
Maranhão diante do mundo; poderá, finalmente, explicar onde foram parar os
recursos federais destinados à construção de presídios que jamais se ergueram
do chão. E mais: as terceirizações que permitiram a ingovernabilidade do
Complexo Penitenciário durante pelo menos uma década de desmandos.
Isso só pode ser briga de família. Devem
estar com raiva porque Roseana, talvez no temor de mais investidas policiais
contra o clã, decidiu indicar o vereador Fábio Câmara para presidir o PMDB. Sem
contar que, no correr dos últimos infortúnios vividos pelo ex-Secretário de
Saúde, Ricardo Murad, a solidariedade dos Sarney ante o pedido de prisão da
Polícia Federal e o parecer favorável do Ministério Público foi pouca ou quase
nenhuma. Deram-lhe um sonoro pontapé.
Demorou até que o povo maranhense
descobrisse, qual Nabucodonosor, que os homens que até 2014 governavam essa
terra não passavam de ídolos de pés de barro e desabariam no chão diante do
grito sufocado de liberdade que a oligarquia prendia em todas as gargantas. E
essa CPI proposta, mais que qualquer coisa, denuncia um processo de
autoimolação dentro do grupo político que transformou o Sistema Penitenciário
do Maranhão numa espécie de sucursal do inferno e o próprio Maranhão no maior
símbolo de pobreza absoluta e ausência de políticas sociais do país.
Se, hoje, atiram nos próprios pés, é
porque percebem no Estado um ritmo de mudanças que jamais conseguiram ou
quiseram imprimir; sabem, agora, que é possível governar sem olhar apenas para
o próprio umbigo, escondendo do povo os pés escalavrados de caminhar na direção
da improbidade e da corrupção. E atiram nos próprios pés com plena consciência
de que, daqui para a frente, o povo do Maranhão sempre os porá a correr.
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