JM Cunha Santos
O
bloco do eu sozinho desfila
nas
avenidas líquidas de Veneza
o
fofão me ofende
o
pierrô me alucina
e
a colombina perdeu meu endereço
Um
corso roubou minhas alegorias
uma
baiana louca levou meus adereços
nos
seios expostos da passista
mamam
saltimbancos malucos
e
um mestre sala furioso
me
acusa de tomar sua porta-bandeira
Piro,
entre anões alcoolizados
que
riem da minha fantasia velha
tão
rasgada quanto meu coração
Os
tamborins tocam dentro da cabeça
as
marcações espancam minha alma; eu sigo,
campeão
de um carnaval que ainda não chegou
Que
o expulsem da avenida!
gritam
das arquibancadas
cantando
o samba
de
uma Escola que não chegou
e
no meu enredo proibido
nenhuma
história sobrou para contar
No
meu carro alegórico
os
canhões silenciam as flores
as
luzes apagam os sonhos
e
as estátuas são eu mesmo
tentando
inutilmente me mover
A
harmonia desafinada
dos
tambores no meu corpo
sabe
que meu carnaval
começa
na quarta-feira de cinzas
porque
de cinzas é o meu desejo de viver
oh
minha Escola
nesta
avenida os aplausos são escárnios
neste
baile os ritmos são barrocos
o
meu desfile começa na dispersão
e
meus andrajos disputam
com
gente vestida de ouro
que
prefere não me ver
Só
porque não suporto ser feliz
não
permitem que eu cante
Só
porque não entendo a alegria
não
permitem que eu sorria
se
para os tristes não há lugar no carnaval
Danem-se,
pois,
Este
é o desfile dos que somente disputam
o
último lugar de um carnaval interior
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