Editorial
JP, 19 de fevereiro
Demorou,
mas o Supremo Tribunal Federal, finalmente, decidiu atacar um dos mais sérios
institutos a garantir a impunidade: o grande volume de recursos ao dispor de
advogados muito bem pagos que adiavam, indefinidamente, a prisão de criminosos
condenados. São tantos que cita-los cansaria as páginas deste jornal.
No
rastro de equivocada presunção de inocência, todas as artimanhas jurídicas eram
arguidas no sentido de garantir a extinção da punibilidade., o desaparecimento
do direito de punir do Estado pela ocorrência de fatos exteriores aos elementos
do crime. A caminho de processos exaustivos e intermináveis, os direitos das
vítimas e da sociedade ofendida pelo crime caducavam ante valores subjetivos
como a prescrição, a decadência ou a perempção. O criminoso chegava aos
tribunais guarnecido por garantias constitucionais que as vítimas jamais
tiveram.
A
decisão do STF manda que, condenado em segunda instância, o réu seja
imediatamente preso. A OAB, naturalmente, não gostou, pois que a longevidade
desses processos garante aos defensores ganhos extraordinários.
“Fechou-se
uma das janelas da impunidade”, afirmou o juiz Sérgio Moro diante da decisão do
STF. E esta é, de fato, apenas uma das janelas. A mais contundente delas talvez
seja o foro privilegiado. Há processos contra políticos que se arrastam por 10
anos nos tribunais superiores. De 258 processos analisados pelo jornal Folha de
São Paulo somente dois ficaram prontos para ir a julgamento. Foram necessários,
por exemplo, seis anos somente para que o Supremo decidisse que o senador
Valdir Raupp devia ser investigado em virtude da acusação de um desvio de R$
6,4 milhões. A alegação: a desumana sobrecarga de trabalho que recai sobre os
ministros.
Outro
exemplo: O ministro Gilmar Mendes interrompeu por 14meses o julgamento de uma
denúncia de trabalho escravo contra o senador João Ribeiro, do PR do Tocantins.
E isso diante de um inquérito que dormiu durante quatro anos no gabinete do
ministro.
Lembremos
também o rumoroso caso da SUDAM e do senador Jader Barbalho. Erros cometidos
por procuradores e juízes arrastaram por 10 anos o processo para chegar a
conclusão nenhuma. Apenas para decidir sobre o foro competente para o
julgamento perderam-se 2 anos e mais 3 na busca de uma testemunha que os
tribunais nunca encontraram.
Às vezes é a própria polícia que concorre para a
garantia da impunidade. São muitas as janelas da impunidade. O STF fechou uma
delas, mas sabe que outras permanecem escancaradas e que se quiser vencer a
morosidade da Justiça e a imunidade de criminosos ricos precisa fecha-las.
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