quarta-feira, 30 de março de 2016

A idade da corrupção

Editorial JP, 30 de março
Matéria publicada no portal UOL e reproduzida pelo Jornal Pequeno mostra que práticas semelhantes às investigadas pela Operação Lava Jato, esquemas de propinas, estavam introduzidas no Brasil desde o governo Sarney. Quando se chega ao absurdo de uma das maiores empresas do Brasil, a Odebrecht, criar, em sua estrutura, todo um departamento destinado somente a pagar propinas a agentes públicos e políticos, não se tenha mais dúvidas de que é realmente hora de passar o Brasil a limpo.
Se, de um lado, assusta-nos a ascensão do fascismo depois de tudo o que tivemos que viver neste país, de outro ficamos quedos, cabisbaixos, enojados com o rompimento de todos os limites da moral pública. Quando a ex-secretária da Odebrecht, Conceição Andrade diz que o esquema sempre foi esse, de propina, de fraudar licitações em todas as empresas, mais que no rombo nas contas públicas precisamos pensar no tamanho do rombo no estômago dos brasileiros, na saúde da gente pobre que vive e viveu aqui, no tipo de democracia que queremos e no tipo que temos.
Essa “coisa” de autoridades usando codinomes em planilhas de corrupção – escritor, filhos, filhões, almofadinha – como se fossem os gabinetes da gestão pública escritórios do crime organizado, vai além até do que poderia alcançar nossa imaginação mais pessimista. Se, como disse o advogado de Lobão e Roseana, o Kakay, um país punitivo não serve à democracia, a democracia não pode servir ao enriquecimento ilícito de meia dúzia de vivaldinos cadastrados como homens públicos que governem com os ossos, a pele, a carne do povo pobre deste país.
Gente pobre, sem direito à educação, à saúde, sem comida, é presa todos os dias e todas as horas no Brasil. Quando os que realmente roubam - e roubam montanhas de dinheiro público - vão presos, o espanto é geral. E o que deveria se chamar flagrante, indícios, provas, ganha nomes esquisitos, como criminalização da política, foro privilegiado, segredo de justiça e outros dribles semânticos a induzir que cadeia foi feita, de fato, apenas para negros e pobres no Brasil.
A origem da gravata, o preço do terno, o tamanho das mansões e dos iates não podem substituir o princípio constitucional segundo o qual “Todos são iguais perante as leis, sem distinção de qualquer natureza”. Este é o princípio que resguarda a verdadeira democracia, a possibilidade do convívio social, o insubstituível estado de Direito que afasta e põe fim a violência política.

Se bem pensarmos, quase sempre foram a corrupção e a sede de poder que fizeram esta Nação sangrar. Porque despertam os oportunistas, os tiranos, o legalismo ditatorial no melhor estilo do AI-5. Fora da lei, não é possível a vida em sociedade. E a lei é para todos, não apenas para a grande maioria de deserdados que vive no Brasil.

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