Editorial
JP, 30 de março
Matéria
publicada no portal UOL e reproduzida pelo Jornal Pequeno mostra que práticas
semelhantes às investigadas pela Operação Lava Jato, esquemas de propinas,
estavam introduzidas no Brasil desde o governo Sarney. Quando se chega ao
absurdo de uma das maiores empresas do Brasil, a Odebrecht, criar, em sua
estrutura, todo um departamento destinado somente a pagar propinas a agentes
públicos e políticos, não se tenha mais dúvidas de que é realmente hora de
passar o Brasil a limpo.
Se,
de um lado, assusta-nos a ascensão do fascismo depois de tudo o que tivemos que
viver neste país, de outro ficamos quedos, cabisbaixos, enojados com o
rompimento de todos os limites da moral pública. Quando a ex-secretária da
Odebrecht, Conceição Andrade diz que o esquema sempre foi esse, de propina, de
fraudar licitações em todas as empresas, mais que no rombo nas contas públicas
precisamos pensar no tamanho do rombo no estômago dos brasileiros, na saúde da
gente pobre que vive e viveu aqui, no tipo de democracia que queremos e no tipo
que temos.
Essa
“coisa” de autoridades usando codinomes em planilhas de corrupção – escritor,
filhos, filhões, almofadinha – como se fossem os gabinetes da gestão pública
escritórios do crime organizado, vai além até do que poderia alcançar nossa
imaginação mais pessimista. Se, como disse o advogado de Lobão e Roseana, o
Kakay, um país punitivo não serve à democracia, a democracia não pode servir ao
enriquecimento ilícito de meia dúzia de vivaldinos cadastrados como homens
públicos que governem com os ossos, a pele, a carne do povo pobre deste país.
Gente
pobre, sem direito à educação, à saúde, sem comida, é presa todos os dias e
todas as horas no Brasil. Quando os que realmente roubam - e roubam montanhas
de dinheiro público - vão presos, o espanto é geral. E o que deveria se chamar
flagrante, indícios, provas, ganha nomes esquisitos, como criminalização da
política, foro privilegiado, segredo de justiça e outros dribles semânticos a
induzir que cadeia foi feita, de fato, apenas para negros e pobres no Brasil.
A
origem da gravata, o preço do terno, o tamanho das mansões e dos iates não podem
substituir o princípio constitucional segundo o qual “Todos são iguais perante
as leis, sem distinção de qualquer natureza”. Este é o princípio que resguarda
a verdadeira democracia, a possibilidade do convívio social, o insubstituível
estado de Direito que afasta e põe fim a violência política.
Se
bem pensarmos, quase sempre foram a corrupção e a sede de poder que fizeram esta
Nação sangrar. Porque despertam os oportunistas, os tiranos, o legalismo
ditatorial no melhor estilo do AI-5. Fora da lei, não é possível a vida em
sociedade. E a lei é para todos, não apenas para a grande maioria de deserdados
que vive no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário