Esse povo quer ter a
garantia de que o dinheiro da saúde pública não acabe em contas secretas, quer
ter a certeza de que a agiotagem com recursos públicos não será mais possível,
não quer seus filhos com fome porque algum barrigudo rico comeu a merenda
escolar.
JM
Cunha Santos
Tenho
advertido, desde o processo do Mensalão, passando pelo Petrolão, através de
editoriais, artigos e em programas de rádio, sobre o nascimento de uma nova
fronteira ideológica no país. Se minha geração foi às ruas no enfrentamento de
uma ditadura militar que fez da exceção a regra, transgredindo princípios
constitucionais, deportando, torturando e matando, as gerações que a sucederam
decidiram impor limites à corrupção. E isto desde o advento do governo Collor
de Melo.
O
povo aprendeu que a origem da fome, do desemprego, da pobreza absoluta, da
saúde pública sucateada, da educação desmobilizada é a corrupção. Neste
domingo, a maioria do povo presente nas praças não é constituída de militantes
partidários, não são pessoas com interesses diretos focalizados na luta pelo
poder. É só um povo decepcionado, desestimulado, descrente das classes
políticas; um povo que perdeu a fé nos homens públicos e, o que é pior, cada
vez mais descrente das instituições. E é este o maior perigo que ronda o país,
mormente num momento de grave crise econômica.
O
pedido de prisão preventiva de Lula é um erro magistral da inépcia de meia dúzia
de promotores de São Paulo, mas erro maior ainda são as ameaças de morte ao
juiz Sérgio Moro. Não estão ouvindo o Brasil. O que o povo brasileiro quer, de
fato, são regras, leis definitivas que ponham fim à escalada da corrupção. Uma
geração inteira lutou por eleições diretas; outra está lutando pelo saneamento
das instituições públicas. Mas no front partidário parece ser essa a única
razão que não querem ouvir.
Não
é tão-somente o fim da corrupção do PT que o povo pede nas ruas e,
principalmente, dentro de casa e nos locais de trabalho. Não é o fim da
corrupção do PMDB nem do PSDB. É o fim de toda a forma de corrupção no Brasil.
Esse povo quer ter a garantia de que o dinheiro da saúde pública não acabe em
contas secretas, quer a certeza de que a agiotagem com recursos públicos não
mais será possível, não quer seus filhos com fome porque algum barrigudo rico
comeu a merenda escolar.
Mas
sobra a impressão de que, em meio a toda essa tormenta, os homens públicos só
divisam o poder, a manutenção do poder ou a oportunidade de estar ou voltar ao
poder.
Mas
antes que seja muito tarde, é preciso ouvir o Brasil.
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