Editorial
JP, 31 de março
Há
pessoas que gostam de trair. Politicamente, há aquelas que gostam tanto que
passam a sobreviver da traição. Desde a traição de Iago a Otelo, o mouro de
Veneza, até a de Roseana Sarney a Luís Inácio Lula da Silva, a História
registra as mais formidáveis traições políticas.
Entre
as grandes traições, a de Judas Iscariotes a Jesus Cristo, que levou à
crucificação do filho de Deus, a de Silvério dos Reis durante o levante
organizado por Tiradentes contra a coroa portuguesa, que levou o herói
brasileiro à forca e ao esquartejamento.
Uma
traição grandiosa envolveu duas nações: a União Soviética e a Alemanha Nazista
que, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, assinaram, em 1939, um pacto de não
agressão. Mas logo em 1941, Hitler atacaria os russos na Operação Barbarossa.
Famoso
também o grito do César romano apunhalado diante do general Marcos Julius: “Até
tu, Brutus”! O que nos leva a imaginar Lula, levado ao cadafalso político por
seus erros e muitas traições, a gritar diante de Roseana Sarney: “Até tu,
Princesa”! Porque príncipes e princesas também traem, mesmo que não haja
qualquer nobreza em seus títulos e suas histórias. Basta lembrar Roseana, a
Princesa, afirmando que o PMDB deixou na hora certa o governo do PT, que a
apoiou até com intervenções.
Teórico
da fulminante filosofia de como se manter no poder, Nicolau Maquiavel, autor do
indigesto livro “O príncipe”, disparou: “Os fins justificam os meios” para
justificar a traição nos principados. A traição, portanto, é tão ou mais velha
que a política e, segundo os especialistas, traem mais os políticos que os
amantes. E, por falar em especialistas em traição, o que dizer de Sarney que
traiu todos os presidentes que sugou em proveito próprio, sendo os últimos Lula
e Dilma Rousseff?
Aliás,
Sarney é um dado novo na história das traições, pois consegue trair antes mesmo
da traição. Quando a situação exige, como agora, um posicionamento claro e
insofismável dos políticos, Sarney divide seus aliados nos dois lados. Em três,
se for preciso. Ele mesmo se mantém neutro, de forma que, seja como for, ele
está antecipando a traição aos que forem derrotados na pugna política. O
exemplo vem do Blog do John Cutrim: Roseana e Lobão a favor do impeachment de
Dilma e João Alberto solenemente contra. Sarney conseguiu trair até mesmo sua
ditadura militar quando sentiu que ela desmoronava.
Seja
qual for sua posição na atual crise política, perceba que a história nunca foi
recheada de tantas traições. O PMDB, com 17 acusados na Lava Jato e com um
formidando histórico de corrupção, assume ares de paladino da honestidade e
desembarca do governo do PT. Como diria o poeta antes de ser bruscamente
interrompido: “Eu traio porque gosto de trair”.
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