quinta-feira, 31 de março de 2016

Sarney e as traições históricas

Editorial JP, 31 de março
Há pessoas que gostam de trair. Politicamente, há aquelas que gostam tanto que passam a sobreviver da traição. Desde a traição de Iago a Otelo, o mouro de Veneza, até a de Roseana Sarney a Luís Inácio Lula da Silva, a História registra as mais formidáveis traições políticas.
Entre as grandes traições, a de Judas Iscariotes a Jesus Cristo, que levou à crucificação do filho de Deus, a de Silvério dos Reis durante o levante organizado por Tiradentes contra a coroa portuguesa, que levou o herói brasileiro à forca e ao esquartejamento.
Uma traição grandiosa envolveu duas nações: a União Soviética e a Alemanha Nazista que, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, assinaram, em 1939, um pacto de não agressão. Mas logo em 1941, Hitler atacaria os russos na Operação Barbarossa.
Famoso também o grito do César romano apunhalado diante do general Marcos Julius: “Até tu, Brutus”! O que nos leva a imaginar Lula, levado ao cadafalso político por seus erros e muitas traições, a gritar diante de Roseana Sarney: “Até tu, Princesa”! Porque príncipes e princesas também traem, mesmo que não haja qualquer nobreza em seus títulos e suas histórias. Basta lembrar Roseana, a Princesa, afirmando que o PMDB deixou na hora certa o governo do PT, que a apoiou até com intervenções.
Teórico da fulminante filosofia de como se manter no poder, Nicolau Maquiavel, autor do indigesto livro “O príncipe”, disparou: “Os fins justificam os meios” para justificar a traição nos principados. A traição, portanto, é tão ou mais velha que a política e, segundo os especialistas, traem mais os políticos que os amantes. E, por falar em especialistas em traição, o que dizer de Sarney que traiu todos os presidentes que sugou em proveito próprio, sendo os últimos Lula e Dilma Rousseff?
Aliás, Sarney é um dado novo na história das traições, pois consegue trair antes mesmo da traição. Quando a situação exige, como agora, um posicionamento claro e insofismável dos políticos, Sarney divide seus aliados nos dois lados. Em três, se for preciso. Ele mesmo se mantém neutro, de forma que, seja como for, ele está antecipando a traição aos que forem derrotados na pugna política. O exemplo vem do Blog do John Cutrim: Roseana e Lobão a favor do impeachment de Dilma e João Alberto solenemente contra. Sarney conseguiu trair até mesmo sua ditadura militar quando sentiu que ela desmoronava.

Seja qual for sua posição na atual crise política, perceba que a história nunca foi recheada de tantas traições. O PMDB, com 17 acusados na Lava Jato e com um formidando histórico de corrupção, assume ares de paladino da honestidade e desembarca do governo do PT. Como diria o poeta antes de ser bruscamente interrompido: “Eu traio porque gosto de trair”.

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