O empresário Marcelo Odebrecht e outros executivos da empresa cederam e,
agora, decidiram fazer um acordo de delação premiada no mesmo dia em que a
Polícia Federal deflagrou nova operação contra a empreiteira, revelando
detalhes do esquema de pagamento de propinas a políticos e agentes públicos. A
empresa divulgou nota na noite desta terça-feira informando que Marcelo e todos
os demais executivos decidiram colaborar com as investigações.
“As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e
executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as
investigações da Operação Lava-Jato”, diz a nota, acrescentando que, além de
negociar acordo de leniência com a Controladoria Geral da União desde dezembro,
“vem mantendo contato com as autoridades com o objetivo de colaborar”.
No entanto, fontes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal
informaram ao GLOBO, após a divulgação da nota pela Odebrecht, que as negociações
ainda não começaram. O comunicado é visto como uma “cortina de fumaça” para
tentar minimizar o impacto das denúncias reveladas ontem. À noite, o MPF
divulgou nota dizendo que “não fez acordo com a Odebrecht ou seus executivos e
que qualquer acordo, neste momento, será restrito às pessoas que vierem antes e
cuja colaboração se revelar mais importante ao interesse público”.
PAGAMENTO A JOÃO SANTANA
A 26ª fase da operação, batizada de Xepa, complicou a situação de
Marcelo Odebrecht ainda mais. A secretária Maria Lúcia Tavares, funcionária de
confiança da empresa e a primeira a colaborar com a Justiça — à revelia da
empresa —, contou detalhes da contabilidade paralela de propinas e confirmou
que Marcelo participava diretamente dos pagamentos.
Sob a sigla MBO, iniciais de Marcelo Bahia Odebrecht, foi ele, segundo
Maria Lúcia, quem determinou o pagamento de R$ 2 milhões ao marqueteiro João
Santana, em novembro de 2014, poucos dias depois de encerrada a campanha de
reeleição da presidente Dilma Rousseff. Para a força-tarefa, Marcelo usou
dinheiro de propina para pagar dívidas de campanha do PT.
As planilhas de Maria Lúcia também envolvem obras de governos estaduais,
municipais e até mesmo no exterior, como Argentina e Angola. Entre as obras sob
suspeita estão as do Porto Maravilha, no Rio, da Arena Corinthians, em São
Paulo, e do Canal do Sertão Alagoano — esta uma obra de R$ 1,5 bilhão destinada
a levar água a 42 municípios no estado.
Sem dúvida essa é a maior operação de propina que encontramos e a mais
sofisticada. Essa sistemática de implantação de um sistema exclusivo dentro da
estrutura formal de uma empresa ainda não tínhamos encontrado — disse a
procuradora da República Laura Tessler.
Marcelo está preso desde junho do ano passado. Em setembro, ele disse à
CPI da Petrobras que "dedurar" não estava entre seus "valores
morais". "Na infância, eu talvez brigasse mais com quem dedurou do
que quem fez o fato", afirmou.
Leia a íntegra da nota:
As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e
executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as
investigações da Operação Lava Jato.
A empresa, que identificou a necessidade de implantar melhorias em suas
práticas, vem mantendo contato com as autoridades com o objetivo de colaborar
com as investigações, além da iniciativa de leniência já adotada em dezembro
junto à Controladoria Geral da União.
Esperamos que os esclarecimentos da colaboração contribuam
significativamente com a Justiça brasileira e com a construção de um Brasil melhor.
Na mesma direção, seguimos aperfeiçoando nosso sistema de conformidade e
nosso modelo de governança; estamos em processo avançado de adesão ao Pacto
Global, da ONU, que visa mobilizar a comunidade empresarial internacional para
a adoção, em suas práticas de negócios, de valores reconhecidos nas áreas de
direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção;
estabelecemos metas de conformidade para que nossos negócios se enquadrarem
como Empresa Pró-Ética (da CGU), iniciativa que incentiva as empresas a
implantarem medidas de prevenção e combate à corrupção e outros tipos de
fraudes. Vamos, também, adotar novas práticas de relacionamento com a esfera
pública.
Apesar de todas as dificuldades e da consciência de não termos
responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato – que
revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de
financiamento do sistema partidário-eleitoral do país – seguimos acreditando no
Brasil.
Ao contribuir com o aprimoramento do contexto institucional, a Odebrecht
olha para si e procura evoluir, mirando o futuro. Entendemos nossa
responsabilidade social e econômica, e iremos cumprir nossos contratos e manter
seus investimentos. Assim, poderemos preservar os empregos diretos e indiretos
que geramos e prosseguir no papel de agente econômico relevante, de forma
responsável e sustentável.
Em respeito aos nossos mais de 130 mil integrantes, alguns deles tantas
vezes injustamente retratados, às suas famílias, aos nossos clientes, às
comunidades em que atuamos, aos nossos parceiros e à sociedade em geral,
manifestamos nosso compromisso com o país. São 72 anos de história e sabemos que
temos que avançar por meio de ações práticas, do diálogo e da transparência.
Nosso compromisso é o de evoluir com o Brasil e para o Brasil.
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