Editorial JP, 15 de abril
Daqui a 48 horas, a Câmara Federal decide
pelo afastamento ou não da presidente Dilma Rousseff da Presidência da
República. E cada grupo, a favor e contra, faz suas contas. Quem tem mais
votos? Mas contas mesmo faz o povo brasileiro, tanto no que diz respeito a seu
poder de compra, como no que diz respeito aos crimes cometidos por aliados e
não aliados do Governo. Sim, esse povo faz as contas apenas para calcular que,
seja lá como for, seus prejuízos são irreparáveis. Talvez também para concluir
que o país não precisa de mudanças graduais, mas de uma radical guinada na
direção da ética e da honestidade na política.
Os aumentos sucessivos nas contas de
luz, o nível histórico de desemprego, a inflação, a bancarrota da dívida
pública e tudo o mais que puderem pensar, se somados, não alcançam percentagens
do nível de corrupção que se alastrou pelo país. Talvez não se trate de
substituir ou não governantes, mas de se criar um novo modelo político no qual
a irracionalidade da luta pelo poder não patrocine mais a desgraça da Nação.
Tudo parece podre. O ar que se respira no Brasil não aconselha que,
politicamente, neste universo e com estes personagens, se defenda nada. Eram
irmãos siameses até a semana passada. A sensação é de que depositaram o futuro
da Nação em paraísos fiscais, transferiram a proteção social para offshores
instaladas em grutas do patrimônio público e isso sem que pareça possível
encontrar um único inocente entre todos que se digladiam das portas do Planalto
às portas do Congresso.
Lamentavelmente, faltam 48 horas para
que, vença quem vencer, a mentalidade política dos que enfiaram o país nessa
arapuca continue a mesma. E, se acham que essa é uma visão pessimista, apenas
confrontem a realidade de que o Rio de Janeiro, o segundo estado mais rico do
país, não dispõe mais de recursos para pagar os aposentados. Dessa escaramuça,
o que mais provavelmente vai sair é uma coalizão que mais uma vez reúna PMDB,
PT, PP, PRB, PTB e aí... Os mesmos, para salvar o Brasil da grave crise
política e da explosiva crise econômica que a corrupção de todos eles criou.
Pode ser que 48 horas não bastem para
medir a desesperança dos brasileiros e 48 séculos não sejam bastantes para nos
devolver a fé. Nas próximas 48 horas, de um ou de outro lado, muitos haverão de
comemorar. Mas o povo brasileiro não há de comemorar nada. Porque não é
possível comemorar hospitais fechados, escolas degradadas, universidades sem
recursos; não é possível comemorar o desemprego, a falta de perspectivas de futuro,
a alienação decorrente da criminalidade impune. Não há de comemorar porque, em
nenhuma hipótese, a fome pode ser comemorada, principalmente se todas as fomes
que atingem um povo têm origem na mais generalizada corrupção que a História
conheceu.
Mas faltam apenas 48 horas para que tudo
volte a acontecer.
Triste, mas uma visão perfeita.
ResponderExcluirps. Carinho respeito e abraço.