Editorial JP, 23 de abril
Se houve um projeto das esquerdas
socialistas jamais concretizado completamente, no Brasil e em outros países,
foi este o da Reforma Agrária, sonho de milhões de camponeses em todo o mundo,
principalmente nos territórios tomados pelo latifúndio. Uma situação quase
sempre muito mais grave no Nordeste do Brasil onde, além das causas gerenciais,
a estiagem costuma ser bem mais profunda. Daí à extrema pobreza é um passo só,
como podem constatar os viajantes dessas terras.
Uma notícia assaz importante para o
homem do campo maranhense é a parceria do Governo do Estado com o Fundo
Internacional de Desenvolvimento da Agricultura (FIDA) que pretende exatamente
contribuir para a redução da extrema pobreza nas comunidades rurais do
Maranhão. O projeto visa, entre outras intenções, promover o desenvolvimento
das cadeias produtivas, da assistência técnica e, particularmente, o
desenvolvimento da capacidade de produção própria de cada comunidade rural. O
benefício deve alcançar 860 mil maranhenses nos chamados “Territórios da
Cidadania”: Baixo Parnaíba, Campos e Lagos, Cocais, Lençóis
Maranhenses/Munin, Médio Mearim, Vale do Itapecuru e territórios
indígenas, num total de 87 cidades, 39 das quais em situação de pobreza
extrema.
A ausência de Reforma Agrária amarrou as
vocações agrícolas das comunidades maranhenses. Faltou planejamento, faltaram
governos de vocação social tempo demais e o que aqui ainda se conseguiu fazer
ficou atado ao clientelismo político e ao clientelismo econômico. Nem o
ecoturismo, em regiões apropriadas do Maranhão, foi explorado a contento. Até
aqui não se tinha notícia do acesso das comunidades rurais às tomadas de
decisão sobre políticas públicas na área da agricultura. Pelo contrário,
chegaram a cometer a sandice de acabar com a Secretaria de Estado da
Agricultura, que só retornou a plenos pulmões com o advento do governo Flávio
Dino. Só o que se via de concreto em termos de apoio do Estado, era a
distribuição de sementes em períodos pré-eleitorais.
A discriminação da agricultura como
fator de desenvolvimento e a ausência de políticas públicas agrícolas claras e
estáveis, vitimou os pequenos produtores. Terra insuficiente, crédito escasso,
insumos caros, enfim, uma coletânea de problemas provocados pela ausência do
Estado, desenraizaram a produção agrícola no Maranhão e, consequência mais
grave, desterraram de seus rincões os pequenos produtores rurais, muitos deles
escravizados em outras regiões.
Também aqui avultaram-se a grilagem e os
assassinatos de lideranças rurais, transformando as representações do homem do
campo em sindicatos do medo, pois que, não contentes em discriminar a
agricultura, muitos governantes faziam vista grossa a todas as covardias
cometidas contra o homem do campo.
É claro que esse editorial não se esgota
aqui, posto que se a luta imediata é contra a extrema pobreza no campo, sabemos
nós que ela só será vencida com uma verdadeira e completa Reforma Agrária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário