JM
Cunha Santos
E
só daqui que eu vejo o sol menor que a dor
É
só daqui que vejo a esperança maior que a loucura
É
só nesses bancos que eu canso esse cansaço de ser vil
que
misturo agonias com lembranças para encontrar sanidade
É
somente aqui que escapo ao triângulo que convulsionou a minha vida
É
só aqui que as janelas se rompem para dar passagem ao meu lado bom
É
somente aqui que caminho passo a passo sem nenhuma chance de cair
É
somente nesta mesa que os livros interrompem meu passado
É
somente aqui que a noite não me engole e os fantasmas não deitam no meu cérebro
É
só aqui que as luzes estão acesas, sempre, para meus olhos fartos de escuro
É
somente aqui que o hoje não acaba e eu não me cuspo obsedado do amanhã
É
somente aqui que posso nascer de novo, filho de mais de mil ventres
É
somente aqui que Deus não tem igrejas porque reza dentro dos corações
É
somente nesses quadros que as profecias embalam sonâmbulos crônicos
É
nesse pequeno espaço de desastres e venturas que o mal por si se estanca
Somente
aqui o vinho não governa minhas preces e a fumaça não inicia minhas orações
É
daqui que vejo a selva de onde eu vim com sangue nos olhos e nos dentes
É
só aqui que afasto os terrores, pânicos, alucinações e delírios
É
somente aqui, entre bules de café e almas fumegando, que ainda falo com Deus
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