Editorial JP, 06 de maio
Houve muito movimento nas ruas deste
país nos últimos meses, desde que o jurista Hélio Bicudo e outros pediram o
impeachment da preside Dilma Rousseff. No fim, o argumento das pedaladas
fiscais não passa de um artifício legal para tirar do poder os gestores do
Petrolão, que é a grande mácula do povo brasileiro, este que desde 2013 vai às
ruas protestar contra a corrupção. No fim, o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, só foi eleito para o cargo em virtude da capacidade de transferir
recursos havidos em propinas e favores criminosos a seus correligionários no
PMDB e outros partidos.
Nas ruas, os partidários de um e outro
grupo político, militantes aquinhoados com cargos públicos, cúmplices
destacados para arrebanhar multidões. Mas principalmente nas ruas, os pardais
voluntários, a massa informe de eleitores decepcionados e desiludidos com as
práticas políticas no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto. É a gente de
bicos ávidos em busca das sementes da honestidade pública que parecem ter sido
engolidas por gaviões famintos e inesperados. De todos os matizes, todos os
partidos, todas as instituições.
Nem vermelhos, nem verdes, cinzas ou
marrons, sem cor partidária, os pardais voluntários são a grande maioria nas
avenidas do Brasil. É a gente que viu o valor da conta de luz ir parar nas
nuvens, que enfrenta o desemprego, sujeita a racionamento alimentar, vítima da
inflação desenfreada, do sucateamento da saúde pública, porém, mais que tudo,
vítima da corrupção.
Os pardais voluntários mal entendem os
trâmites legais e legislativos da luta pelo poder. Sabem só que também o
presidente do Senado, Renan Calheiros e mais cerca de duzentos parlamentares
são processados na Justiça por corrupção, que o Procurador Geral da República
denunciou Lula, Dilma e Aécio Neves, que o provável futuro presidente Michel
Temer forma seus Ministério com as presenças de figuras como Romero Jucá que
também enfiaram as mãos na borra de petróleo consumida na Lava Jato.
Tudo o que procuram, inutilmente, os
pardais voluntários, é um grão que seja de sinceridade política, de amor real
por este povo e por este país. Não acham. Nos ninhos desordenados do poder,
entretanto, as canções dos pardais voluntários é o que menos importa. Já nem se
dispõem a construir ninhos de esperança no edifício da política, entre as
árvores e arbustos da democracia vilipendiada ao ponto de lhes esmaecer a
coragem de voar. Tudo lhes foi roubado, inclusive a coragem e a determinação e
querem também levar agora dignidade que sobrou.
Os pardais voluntários se reproduziram
aos milhões, cantando nas ruas e avenidas deste país. Estão calando. Estão se
recolhendo. Estão achando que é um esforço inútil lutar contra os gaviões.
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