Folha de São Paulo
Um dos
executivos da empreiteira Andrade Gutierrez que fechou acordo de delação
premiada na Operação Lava Jato, Flávio David Barra afirmou em depoimento que a
empresa usou três empresas e dinheiro de caixa dois para pagar propina aos
senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB-MA).
Barra relatou o suposto caminho do
dinheiro dos cofres da Andrade até dois advogados ligados a Lobão e um
empresário que seria o representante de Jucá nas negociações, o banqueiro José
Augusto Ferreira dos Santos, que foi o controlador do banco BVA, cuja falência
foi decretada pela Justiça de São Paulo em 2014.
Engenheiro civil da Andrade desde
1985, Flávio Barra era o diretor da unidade de negócios de energia quando foi
preso em julho passado em uma fases da Lava Jato, que mirou a Eletronuclear. O
fac-símile de um dos seus depoimentos foi publicado pelo site “QuidNovi” na
segunda-feira (6) –a Folha confirmou a autenticidade do documento.
Barra afirmou ter tratado
pessoalmente da propina com Lobão, em reuniões na casa do político em Brasília.
Disse ter estado pela primeira vez com ele em 2009, quando era o ministro de
Minas e Energia do governo Lula (2003-2010). “Havia o compromisso de repasse de
1% do valor do contrato de obras civis de [usina nuclear] Angra 3 a Edison Lobão”,
disse o delator.
Os pagamentos foram feitos por meio
de “contratos fictícios”, por serviços “que nunca foram efetivamente
prestados”, entre a Andrade e “um advogado indicado por Lobão, de nome Márcio
Coutinho”, disse Barra.
Uma pessoa com o mesmo nome foi
citada em outro inquérito no STF como suposto “sócio oculto” de Lobão nos
negócios da empresa offshore “Diamond Mountain”, que atuava na captação de
dinheiro de fundos de pensão de estatais.
Com base nesses contratos com
Coutinho, disse Barra, a Andrade pagou cerca de R$ 2 milhões “que se
destinavam” a Lobão.
No caso de Jucá, segundo o delator,
os pagamentos começaram depois que o senador indicou “para tratar do assunto” o
banqueiro do BVA. “O compromisso”, segundo Barra, “também era de 1% do valor do
contrato das obras civis” de Angra 3.
A princípio, de acordo com o delator,
José Santos sugeriu que a Andrade aplicasse dinheiro no BVA, de cujo rendimento
seria retirado dinheiro para propina a Jucá.
Como a AG não concordou, Santos
sugeriu o uso de duas empresas a ele vinculadas, Itatiba e Probank.
“Foram celebrados”, conforme Barra,
“contratos fictícios” entre a Andrade e as empresas. O delator não apontou os
valores supostamente destinados a Jucá.
Além dos pagamentos por esses
caminhos, disse o delator, também houve doações oficiais “como forma de
pagamento de propina” aos dois senadores. Em 2010, segundo Barra, a Andrade
doou entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões para o caixa do diretório nacional do
PMDB como parte do acerto com Lobão. Ao todo, naquele ano, a Andrade doou ao
diretório R$ 15,3 milhões
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