Editorial
JP, 11 de junho
A
notícia de que um blogueiro foi preso em flagrante, acusado de extorsão contra
um vereador do município de São José de Ribamar, repõe em pauta uma discussão
que se arrasta em São Luís há alguns anos. Diz respeito aos limites entre o que
é jornalismo e o que é chantagem e extorsão. Sabe-se, inclusive de
profissionais que se organizam em grupos para a prática desse crime. No caso, o
blogueiro preso teria praticado o crime com base em fotos que estariam na posse
de outro colega mais atuante e mais famoso.
A
primeira coisa a se medir aqui é a invasão da profissão proporcionada pela
internet. Não precisa nem saber escrever. Basta ter amizade nos meios
políticos, dominar os teclados de um computador ou de um mero celular, ser
capaz de postar matérias extraídas de sites profissionais... e pronto: o cara,
para todos os efeitos, virou jornalista e, se coragem tiver para tanto,
criminoso. Praticando extorsão e chantagem, ganha mais que qualquer profissional
que se desgasta estudando e trabalhando para produzir textos limpos, honestos e
de fato compromissados com a informação e formação da opinião pública. O
blogueiro preso em flagrante é um cristalino exemplo dessa realidade das
mídias: O motorista de um vereador e candidato a prefeito virou jornalista da
noite para o dia, sem que talvez nunca tenha sequer olhado a capa de uma
gramática.
Isso,
no entanto, não exime profissionais diplomados e sacramentados da mesma prática
criminosa. Em março desse ano, a Polícia Civil do Mato Grosso deflagrou a
operação “Liberdade e Extorsão”, através da qual, cumprindo mandados de prisão
exarados pela Justiça, prendeu um dono de jornal, dois filhos seus, um editor e
um repórter no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. As vítimas:
empresários, políticos e autoridades cujos nomes não foram divulgados. As
quantias da extorsão variavam entre R$ 100 mil e R$ 300 mil. A base do crime:
irregularidades e indícios de corrupção que teriam sido praticados pelas vítimas.
Nesse
exercício, jornalistas e pseudojornalistas sujam a profissão. Mas, exatamente
pelo fato de não existir legislação regulamentada no que diz respeito à
produção de notícias e uso das redes sociais, acabam os infratores caindo nas
malhas do Código Penal, ao sabor da interpretação de cada juiz. Ou seja, correm
o risco, como neste caso, de ir parar na cadeia. Sem contar que vítimas não
dispostas a pagar preço da extorsão às vezes apelam para medidas extremas, como
atentar contra as vidas dos signatários.
E
estes não são destinos merecidos, nem para jornalistas, nem para os que
confundem a profissão.
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