Editorial
JP, 10 de junho
Muitos
morrerão politicamente antes que se concerte o Brasil. Na próxima campanha
poderemos ver coisas como “Vote em Zé Pato, esse não passou nem perto da Lava
Jato” ou “Vote no Zezão, ainda não
pediram sua prisão, nem sua condução”. Cenas de um Brasil que ganhou do New
York Times medalha de ouro nas Olimpíadas da corrupção.
E
há coisas realmente muito estranhas no correr desses processos e delações. Uma
delas é Sarney ter aceito receber menos que Renan Calheiros. Pela idade, pelos
desserviços prestados ao Maranhão e ao Brasil, sua cota deveria ser o dobro. Ou
mais.
Outra
coisa estranha é o movimento dos candidatos em São Luís. Quando disseram que
Sarney estava voltando ao poder com a ascensão de Michel Temer à Presidência da
República, candidatos de todas as estirpes e naipes ensaiaram um inesperado
discurso de alianças e surpreendentes líderes partidários começaram a ver nele
uma espécie de novo interlocutor do Maranhão. Anunciado o pedido de prisão e
uma provável busca e apreensão em suas diversas residências, o nome Sarney
voltou a dar coceira nos candidatos, como sarnas.
Pelo
que se pode calcular até agora, o senador Edison Lobão deve estar bilionário. A
coisa mais rara é um delator, dentre tantos, que não lembre de ter repassado
alguma propina para o ex-ministro das Minas e Energias. É tanta denúncia, de
tanta propina, que talvez tenha sido necessário criar novos paraísos fiscais
para guardar tanto dinheiro.
E
o Waldir Maranhão, hein? A cadeira de presidente da Câmara que ele ocupa tem
formigueiro, pega fogo. O homem não consegue nem se sentar que lá vem a tropa
de choque com todos os impropérios que um ser humano seja capaz de suportar.
Ele apenas cala e vai embora.
Lavando
a jato ou lavando vagarosamente, a República é uma piada de mau gosto. Aliás,
era muito antes, só que, como ninguém tinha ouvido ainda, não se podia rir. E
nem temos certeza se dá para rir agora.
Difícil
é imaginar com que caras certos políticos ainda vão fazer campanha, embora se
saiba que degradação moral, no Brasil, ainda não impede a eleição de ninguém.
Sempre sobram muitos, como o vereador “Carioca”, dispostos a morrer por um
Sarney.
Para
piorar, está ficando cada vez mais provável que Eduardo Cunha seja punido com
umas férias nas águas termais de alguma das ilhas onde guarda seus milhões. E
quanto a Renan Calheiros, os tribunais do país já estão encalhados de tantos
processos por corrupção que contra ele não dão em nada. Esse pode ser mais um.
“O
que dá pra rir, dá pra chorar”, diz um velho ditado. E com esta maldita piada
tem muita gente que pensa que está rindo, mas na verdade está chorando.
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