sexta-feira, 10 de junho de 2016

Obituário político

Editorial JP, 10 de junho

Muitos morrerão politicamente antes que se concerte o Brasil. Na próxima campanha poderemos ver coisas como “Vote em Zé Pato, esse não passou nem perto da Lava Jato” ou  “Vote no Zezão, ainda não pediram sua prisão, nem sua condução”. Cenas de um Brasil que ganhou do New York Times medalha de ouro nas Olimpíadas da corrupção.
E há coisas realmente muito estranhas no correr desses processos e delações. Uma delas é Sarney ter aceito receber menos que Renan Calheiros. Pela idade, pelos desserviços prestados ao Maranhão e ao Brasil, sua cota deveria ser o dobro. Ou mais.
Outra coisa estranha é o movimento dos candidatos em São Luís. Quando disseram que Sarney estava voltando ao poder com a ascensão de Michel Temer à Presidência da República, candidatos de todas as estirpes e naipes ensaiaram um inesperado discurso de alianças e surpreendentes líderes partidários começaram a ver nele uma espécie de novo interlocutor do Maranhão. Anunciado o pedido de prisão e uma provável busca e apreensão em suas diversas residências, o nome Sarney voltou a dar coceira nos candidatos, como sarnas.
Pelo que se pode calcular até agora, o senador Edison Lobão deve estar bilionário. A coisa mais rara é um delator, dentre tantos, que não lembre de ter repassado alguma propina para o ex-ministro das Minas e Energias. É tanta denúncia, de tanta propina, que talvez tenha sido necessário criar novos paraísos fiscais para guardar tanto dinheiro.
E o Waldir Maranhão, hein? A cadeira de presidente da Câmara que ele ocupa tem formigueiro, pega fogo. O homem não consegue nem se sentar que lá vem a tropa de choque com todos os impropérios que um ser humano seja capaz de suportar. Ele apenas cala e vai embora.
Lavando a jato ou lavando vagarosamente, a República é uma piada de mau gosto. Aliás, era muito antes, só que, como ninguém tinha ouvido ainda, não se podia rir. E nem temos certeza se dá para rir agora.
Difícil é imaginar com que caras certos políticos ainda vão fazer campanha, embora se saiba que degradação moral, no Brasil, ainda não impede a eleição de ninguém. Sempre sobram muitos, como o vereador “Carioca”, dispostos a morrer por um Sarney.
Para piorar, está ficando cada vez mais provável que Eduardo Cunha seja punido com umas férias nas águas termais de alguma das ilhas onde guarda seus milhões. E quanto a Renan Calheiros, os tribunais do país já estão encalhados de tantos processos por corrupção que contra ele não dão em nada. Esse pode ser mais um.

“O que dá pra rir, dá pra chorar”, diz um velho ditado. E com esta maldita piada tem muita gente que pensa que está rindo, mas na verdade está chorando.

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