Carlos Madeiro
Colaboração para o UOL, em Maceió
Colaboração para o UOL, em Maceió
O número de mortes confirmadas por
chikungunya no Nordeste está desafiando médicos e pesquisadores a buscar
explicações do porquê de uma doença de taxa de mortalidade baixa apresentar
saltos fora do padrão normal da doença. A doença é transmitida pelos
mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus.
A chikungunya foi motivo confirmado
de 45 mortes no 1° semestre na região, contra 35 mortes por dengue e cinco pelo
vírus da zika. O número de mortes ainda deve crescer consideravelmente, já que
há outras 400 mortes por arboviroses em
investigação nestes Estados, todas sem causa confirmada.
O levantamento feito pelo UOL inclui dados das secretarias estaduais
de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio
Grande do Norte. O governo de Sergipe não indica a quantidade de mortes em seus
boletins divulgados nem a secretaria estadual de Saúde informou o número.
O Nordeste é a região do Brasil que mais sofre com o vírus, segundo o
Ministério da Saúde. Até o fim de maio, 107 mil pessoas foram infectadas pela
febre chikungunya --a região tem 87% das infecções registradas em todo o país.
O número de pessoas infectadas no Brasil em 2016 já é quase nove vezes maior
que as registradas em todo o ano passado: 13 mil.
Assim como dengue e zika, não existe um tratamento específico para
chikungunya. Os sintomas são tratados com medicação para a febre e dores
articulares.
Gravidade da doença
assusta
A dispersão da febre chikungunya pelo Nordeste tem deixado um
rastro de adultos e idosos com dores crônicas graves que sobrecarrega os
serviços de saúde, além de um número ainda não explicado de mortes. Os boletins
das secretarias de saúde estaduais trazem aletas da gravidade da situação.
O cenário epidemiológico
das arboviroses urbanas em nosso Estado revela a ocorrência de grande
número de óbitos, caracterizando uma situação preocupante para a vigilância
epidemiológica"
Boletim do Rio Grande do Norte
No primeiro semestre de 2016, o número de mortes por
arbovirores cresceu 426% no Rio Grande do Norte. O Estado é o que tem
maior incidência de chikungunya do país.
Mais fatal que
dengue
Os índices de mortes apontados pelos Estados apontam para um mais
vítimas fatais entre os infectados por chikungunya que entre os infectados por
dengue.
Em Pernambuco, Estado líder em mortes pela doença na região, o índice de
mortalidade de chikungunya é seis vezes maior que o da dengue. Até junho,
foram sete mortes confirmadas de dengue para 19.304 pessoas infectadas (média
de 0,4 morte para mil casos). Já no caso da chikungunya, são 11.273 casos
confirmados de infecção, com 26 mortes: 2,1 para cada mil casos.
O índice é maior do que o apresentado na literatura médica. A letalidade
de dengue nas Américas em 2014 foi de 0,7 óbitos por mil casos, enquanto o de
chikungunya era de 0,2 por mil casos.
O infectologista Kleber Luz, integrante do grupo de cientistas do
Ministério da Saúde que investiga o problema, diz que essa taxa de
mortalidade "aparentemente" maior para a febre que no caso de
outras arboviroses intriga os especialistas.
[As mortes] têm preocupado muito a
comunidade científica, realmente é um comportamento estranho da doença. A
expectativa é que a chikungunya não produzisse óbitos. A coisa ganhou uma
dimensão maior"
Kleber Luz, professor da UFRN
Para o Ministério da Saúde, ainda é preciso investigar
mais detalhadamente as mortes por chikungunya "para que seja
possível determinar se há outros fatores associados, como doenças prévias,
comorbidades, uso de medicamentos, entre outros". Luz diz que o Ministério
da Saúde vai debater um protocolo para
investigar o problema. Ele diz que, no final de julho, um grupo da comunidade científica deve
se reunir em João Pessoa para essa discussão.
Luz indica que há duas teorias mais prováveis para as mortes.
"Temos vistos alguns casos em que o vírus tem invadido o sistema
neurológico, causando encefalite grave, e em crianças há um quadro
clássico com múltiplas lesões de pele, mas isso já era esperado. Uma outra
possibilidade é que, no Brasil, a venda é livre de todos os remédios, com
exceção dos antibióticos; ao adoecerem e por terem muita dor, os pacientes
talvez estejam usando anti-inflamatórios e corticoides", diz.
O uso de remédios pode, ao mesmo tempo, tornar a doença mais grave e
comprometer a imunidade dos infectados. "É como se deixasse o caminho
livre para o vírus matar", explicou o infectologista.
A doença
A transmissão da febre chikungunya foi identificada pela primeira vez no
Brasil em 2014. Os sintomas da doença são: febre acima de 39 graus e de início
repentino e dores intensas nas articulações de pés e mãos. Pode ocorrer,
também, dores de cabeça e nos músculos e manchas vermelhas na pele. Cerca de
30% dos casos não chegam a desenvolver sintomas.
Contra o avanço da doença e reações mais graves, o Ministério da
Saúde já formulou o Guia de Manejo Clínico, com orientações sobre o diagnóstico
precoce e manejo para profissionais de saúde.
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