Editorial JP, 19 de julho
A migração do crime é um fenômeno que
tem pesado nas análises de especialistas sobre a violência no Brasil. Migração
no sentido estrito da palavra, quando, acossados pelo poder público os
criminosos mudam de território; e no sentido estrito quando trocam de modalidade
criminosa em virtude da ação policial. Assim, traficantes com altos prejuízos
ou acossados pelos serviços de inteligência e da força repressora do estado
passam a se dedicar aos assaltos a bancos, pequenos furtos, assaltos a mão
armada, extorsão, como forma de compensar os prejuízos ou recompor quadrilhas
desbaratadas pela polícia.
Esse fenômeno foi percebido no Maranhão
pelas próprias forças de segurança quando a Superintendência de Combate ao
Narcotráfico (Senarc), por via de sucessivas operações, causou, segundo
cálculos do delegado geral Lawrence Melo, um prejuízo superior a 6 milhões de
reais aos narcotraficantes, em virtude da apreensão de grandes quantidades de
drogas no Maranhão. A migração para os assaltos a bancos e explosões de caixas
eletrônicos foi imediata, mas também imediatamente contida pela formação de
forças especiais dentro da polícia destinadas a dar combate a esse tipo de
crime.
Os ladrões de estrada fazem parte do
receituário nostálgico da história do crime. Desde os filmetes sobre assaltos a
diligências e trens por bandoleiros românticos, campeões de tiro ao alvo,
rápidos como o raio, do velho oeste americano que enchiam as salas de cinema no
Brasil, movimentando os primeiros passos do imperialismo cultural neste país.
No Maranhão, os salteadores de estrada,
historicamente, construíram a crônica dos ladrões de gado, numa época de muitas
dificuldades de locomoção e em que não eram tantos os caminhões cortando o
estado no transporte de cargas pesadas. Até que o crime organizado percebeu a riqueza
desse filão e, auxiliado por estradas praticamente intrafegáveis, passou a
patrocinar toda a logística desse tipo de assalto. Caminhões e cargas roubados
eram ocultos em fazendas e depósitos insuspeitos e quase sempre os chefes
dessas quadrilhas nunca eram identificados.
O que nos fez lembrar tudo isso foi a
prisão pela Superintendência Estadual de Investigações Criminais e posterior
apresentação na Secretaria de Segurança Pública, de uma quadrilha especializada
em roubo de cargas que estava agindo nos municípios de Tuntum, Barra do Corda e
Presidente Dutra. Pode este tanto ser um fato isolado da formação de uma
quadrilha ou um fenômeno que se associe à migração do crime. Mas pode também
significar que o crime organizado voltou a investir nos ladrões de estrada, uma
tentativa a mais de cobrir prejuízos causados pela polícia com a apreensão de
grandes quantidades de drogas e o desbaratamento de quadrilhas de assaltantes
de bancos. A polícia, naturalmente, deve investigar todas as vertentes
possíveis, mas é bom nem lembrar o terror vivido no Maranhão naqueles tempos e
provocado pelos ladrões de estradas. Nada românticos nem nostálgicos.
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