terça-feira, 19 de julho de 2016

Ladrões de estradas

Editorial JP, 19 de julho

A migração do crime é um fenômeno que tem pesado nas análises de especialistas sobre a violência no Brasil. Migração no sentido estrito da palavra, quando, acossados pelo poder público os criminosos mudam de território; e no sentido estrito quando trocam de modalidade criminosa em virtude da ação policial. Assim, traficantes com altos prejuízos ou acossados pelos serviços de inteligência e da força repressora do estado passam a se dedicar aos assaltos a bancos, pequenos furtos, assaltos a mão armada, extorsão, como forma de compensar os prejuízos ou recompor quadrilhas desbaratadas pela polícia.
Esse fenômeno foi percebido no Maranhão pelas próprias forças de segurança quando a Superintendência de Combate ao Narcotráfico (Senarc), por via de sucessivas operações, causou, segundo cálculos do delegado geral Lawrence Melo, um prejuízo superior a 6 milhões de reais aos narcotraficantes, em virtude da apreensão de grandes quantidades de drogas no Maranhão. A migração para os assaltos a bancos e explosões de caixas eletrônicos foi imediata, mas também imediatamente contida pela formação de forças especiais dentro da polícia destinadas a dar combate a esse tipo de crime.
Os ladrões de estrada fazem parte do receituário nostálgico da história do crime. Desde os filmetes sobre assaltos a diligências e trens por bandoleiros românticos, campeões de tiro ao alvo, rápidos como o raio, do velho oeste americano que enchiam as salas de cinema no Brasil, movimentando os primeiros passos do imperialismo cultural neste país.
No Maranhão, os salteadores de estrada, historicamente, construíram a crônica dos ladrões de gado, numa época de muitas dificuldades de locomoção e em que não eram tantos os caminhões cortando o estado no transporte de cargas pesadas. Até que o crime organizado percebeu a riqueza desse filão e, auxiliado por estradas praticamente intrafegáveis, passou a patrocinar toda a logística desse tipo de assalto. Caminhões e cargas roubados eram ocultos em fazendas e depósitos insuspeitos e quase sempre os chefes dessas quadrilhas nunca eram identificados.

O que nos fez lembrar tudo isso foi a prisão pela Superintendência Estadual de Investigações Criminais e posterior apresentação na Secretaria de Segurança Pública, de uma quadrilha especializada em roubo de cargas que estava agindo nos municípios de Tuntum, Barra do Corda e Presidente Dutra. Pode este tanto ser um fato isolado da formação de uma quadrilha ou um fenômeno que se associe à migração do crime. Mas pode também significar que o crime organizado voltou a investir nos ladrões de estrada, uma tentativa a mais de cobrir prejuízos causados pela polícia com a apreensão de grandes quantidades de drogas e o desbaratamento de quadrilhas de assaltantes de bancos. A polícia, naturalmente, deve investigar todas as vertentes possíveis, mas é bom nem lembrar o terror vivido no Maranhão naqueles tempos e provocado pelos ladrões de estradas. Nada românticos nem nostálgicos. 

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