quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Delatores e infratores

Editorial JP, 10 de agosto


Nada mais perigoso que a relação entre delatores e infratores da lei. Principalmente quando os infratores são gente muito poderosa e usaram os delatores para consumar e mascarar seus crimes. Num país em que as leis e o próprio formato da justiça, com tantos recursos e apelações, costumam dificultar o trabalho da polícia quando se trata de mandar para a prisão gente poderosa, os delatores estão se tornando imprescindíveis tanto para a ação policial, quanto para a ação judicial.
A Operação Lava Jato, que começou no Maranhão, com Alberto Youssef escancarando a existência de organizações criminosas das quais faziam parte os mais poderosos empresários do país, em conluio com os mais destacados nomes da classe política, inclusive jogando graves suspeitas sobre a governadora maranhense Roseana Sarney, deixou mais protegida a sociedade brasileira. Sabemos agora quem são os responsáveis por esse estropiamento da dignidade republicana no Brasil, quem valsava em noites chuvosas nos salões de hotéis de luxo com malas de dinheiro sem origem ou de origem, no mínimo, pecaminosa.
A aventura de assaltar estatais e bancos oficiais, subjugou e desaparelhou a economia brasileira. Todos os preços estavam disparando, os empregos desaparecendo, enquanto, por exemplo, o presidente da Transpetro gravava conversas sobre desvios de recursos com o ex-presidente José Sarney, um homem muito importante no cenário da política nacional, mas capaz de atos diminutos como inventar cadáveres para vencer uma eleição ou usar seu monopólio de comunicação para acusar seu adversário, o hoje governador Flávio Dino, de chefiar uma quadrilha de assaltantes. E usando o depoimento falso de um presidiário que, como todo presidiário, sonhava com a liberdade.
Esses poucos fatos, essa narrativa ainda incompleta, bastam para que não se dê crédito a nenhuma intentona do grupo Sarney contra seus adversários. Sempre sobrará a sensação de que, mais uma vez, estamos sendo enganados, ludibriados e de que as “orcrims” por trás de notícias plantadas continuam agindo perigosamente.

O sonho que trouxe esta geração até uma vitória pela qual se esperou 40 anos não pode ser conspurcado por falsetas e conversas fiadas. Temos escolas dignas, temos a maior estação de tratamento de esgoto do Nordeste, temos uma Força Estadual de Saúde invadindo os mais distantes rincões, temos uma São Luís sendo asfaltada, temos programas sociais, finalmente, depois de meio século, temos programas sociais no Maranhão. Acordos, negociatas e rusgas entre delatores e infratores da lei não conseguirão desmentir que hoje estamos vivendo muito melhor. E com honestidade.

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