JM
Cunha Santos
Venha
comigo ao céu
preciso
trocar de ódio – sou
humano
como cavalos de corrida
preciso
mandar fazer outra alma
pedir
a Deus novos espantos para os
mortos-vivos
nas avenidas sujas do país
Venha
comigo ao céu e sangre
com
a patifaria dos famintos no
campo
minado das delações premiadas
cobertos
dos guarda-chuvas jurídicos
e
molhados, entanto, pelas nuvens tributárias
que
trincam ossos pobres no amanhecer
Venha
comigo ao céu e salte
aos
avisos súbitos no contracheque
até
mamar o leite das vacas de presépios
até
o contra-ataque dos caixas eletrônicos
bombardeando
fomes, medos e incertezas
neste
currículo feito apenas de desilusões
Venha
comigo ao céu e sonhe
com
a Besta do Apocalipse no Senado
com
tanques pisando a nua liberdade
Venha,
tão humana quanto gado de corte
pois
falta sopro às cornetas da decência
e
para toda esperança uma nota musical
Venha
sem pernas e sem braços
ver
que chegamos perto do fim do mundo
refugiados
de uma guerra em gabinetes
num
navio de palhoças e tomates podres
onde
cozinham futuros, vendem o convés
e
plantam pés de mentiras em nome da lei
Venha
comigo ao céu, Larissa
que
mortos de vergonha todos os castros
e
guevaras sobra-nos só o ataque cardíaco
a
embolia moral cavalgando estômagos
o
teu silêncio inacabado na cama selvagem
e
parteiras aparando o nascer de outro Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário