domingo, 1 de janeiro de 2017

O paranoico sofrimento kafkiano de José Sarney

JM Cunha Santos


Sarney está sozinho. Ingressa no ano de 2017 presa do mais deprimente isolamento ideológico. A maioria de seus amigos poderosos está indo parar na cadeia ou a caminho de lá. Ninguém quer ouvi-lo, nem absolutamente nada tem a lhe dizer.
Quando em seu jornal, “O Estado do Maranhão”, mencionou a inexistente depressão e falta de amigos do governador Flávio Dino, (a mesma tática usada contra Jackson Lago) falava de si mesmo. A vida, hoje, lhe deve ser muito pesada e difícil. Sofre ataques de pânico a cada vez que vê, em sua TV, senadores e ex-governadores com menos culpa no cartório que ele e seus correligionários a caminho da Polícia Federal. Chega ao desvario sempre que depara com a expressão “delação premiada”, a cada vez que Rodrigo Janot abre a boca, ou Teori Zavascki ameaça tomar decisões, a toda hora que comentam sobre a provável supressão do foro privilegiado no Brasil. E submerge em fulminantes estágios de cardiopatia diante de qualquer citação sobre a Transpetro.
Toques de campainha lhe aceleram os nervos, queimam os miolos, como se sob a paranoia de um personagem kafkiano eternamente à espera de julgamento. È como o notável musical de Chico Buarque de Holanda aos berros de “chame o ladrão”, no pânico de presumir que todo mundo que o procura é da polícia, traz notícias de polícia ou de oficiais de justiça com intimações do Supremo Tribunal Federal.
A síndrome inclui canetas, relógios, celulares, quaisquer objetos onde possam esconder um gravador. Desde Sérgio Machado, não confia em mais ninguém. Isolado, isola-se mais ainda, impõe revistas, varreduras digitais, previne-se contra hackers, videomonitora seus castelos, escritórios, palácios e mansões.
Suas alucinações incluem juízes de todas as instâncias. Vê togas e perucas brancas dançando ao derredor dos terraços da Ilha de Curupu. A imagem do juiz Sérgio Moro na TV provoca ataques de histeria no ex-presidente. E ele lembra da filha, dos filhos, do amigo Lobão até que o desalento lhe causa cãibras mentais.
Não consegue dormir 10 minutos e é desperto por pesadelos em que correntes presas a bolas de aço lhe atam os pés, quando é conduzido a calabouços medievais e algemado ao pupilo Renan Calheiros, em trajes senatoriais.
Um pássaro cantando lhe traz à mente o som de sirenes, não as sirenes poéticas do Liceu, sirenes de viaturas policiais.
Para cúmulo de toda a paranoia e desespero, um ranking do Portal G1, que alimenta o Sistema Mirante, envolvendo os 27 estados brasileiros, informa, sem dó nem piedade, que o governo Flávio Dino é o segundo mais eficiente do país. Além desse golpe fatal,  institutos de pesquisa concluem que o governador Flávio Dino continua aprovado por mais de 60 % da população.

E o ex-presidente Sarney sofre de depressão, sofre de pânico, sofre muito, e depois do empréstimo de R$ 444 milhões da Caixa Econômica, sofre muito mais.

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