JM
Cunha Santos
Sarney
está sozinho. Ingressa no ano de 2017 presa do mais deprimente isolamento
ideológico. A maioria de seus amigos poderosos está indo parar na cadeia ou a
caminho de lá. Ninguém quer ouvi-lo, nem absolutamente nada tem a lhe dizer.
Quando
em seu jornal, “O Estado do Maranhão”, mencionou a inexistente depressão e
falta de amigos do governador Flávio Dino, (a mesma tática usada contra Jackson
Lago) falava de si mesmo. A vida, hoje, lhe deve ser muito pesada e difícil.
Sofre ataques de pânico a cada vez que vê, em sua TV, senadores e
ex-governadores com menos culpa no cartório que ele e seus correligionários a
caminho da Polícia Federal. Chega ao desvario sempre que depara com a expressão
“delação premiada”, a cada vez que Rodrigo Janot abre a boca, ou Teori Zavascki
ameaça tomar decisões, a toda hora que comentam sobre a provável supressão do
foro privilegiado no Brasil. E submerge em fulminantes estágios de cardiopatia
diante de qualquer citação sobre a Transpetro.
Toques
de campainha lhe aceleram os nervos, queimam os miolos, como se sob a paranoia
de um personagem kafkiano eternamente à espera de julgamento. È como o notável
musical de Chico Buarque de Holanda aos berros de “chame o ladrão”, no pânico
de presumir que todo mundo que o procura é da polícia, traz notícias de polícia
ou de oficiais de justiça com intimações do Supremo Tribunal Federal.
A
síndrome inclui canetas, relógios, celulares, quaisquer objetos onde possam
esconder um gravador. Desde Sérgio Machado, não confia em mais ninguém.
Isolado, isola-se mais ainda, impõe revistas, varreduras digitais, previne-se
contra hackers, videomonitora seus castelos, escritórios, palácios e mansões.
Suas
alucinações incluem juízes de todas as instâncias. Vê togas e perucas brancas
dançando ao derredor dos terraços da Ilha de Curupu. A imagem do juiz Sérgio
Moro na TV provoca ataques de histeria no ex-presidente. E ele lembra da filha,
dos filhos, do amigo Lobão até que o desalento lhe causa cãibras mentais.
Não
consegue dormir 10 minutos e é desperto por pesadelos em que correntes presas a
bolas de aço lhe atam os pés, quando é conduzido a calabouços medievais e algemado
ao pupilo Renan Calheiros, em trajes senatoriais.
Um
pássaro cantando lhe traz à mente o som de sirenes, não as sirenes poéticas do
Liceu, sirenes de viaturas policiais.
Para
cúmulo de toda a paranoia e desespero, um ranking do Portal G1, que alimenta o
Sistema Mirante, envolvendo os 27 estados brasileiros, informa, sem dó nem
piedade, que o governo Flávio Dino é o segundo mais eficiente do país. Além
desse golpe fatal, institutos de
pesquisa concluem que o governador Flávio Dino continua aprovado por mais de 60
% da população.
E
o ex-presidente Sarney sofre de depressão, sofre de pânico, sofre muito, e
depois do empréstimo de R$ 444 milhões da Caixa Econômica, sofre muito mais.
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