quarta-feira, 26 de abril de 2017

Chacina em Mato Grosso: “Toda propriedade particular é roubo”

JM Cunha Santos


Os assassinatos de nove sem terras em Colniza, a 1.108 Km de Cuiabá (MT), na recente chacina de Taquaraçu do Norte, com suspeitas de que os autores sejam capangas de fazendeiros da região, remetem a recordações revoltantes da disputa pela terra no Brasil. São crimes que reacendem o nível de crueldade de latifundiários e jagunços, já incorporado às fases mais degradantes da história deste país.
Havia crianças e idosos entre as vítimas, segundo irrefutável denúncia da Comissão Pastoral da Terra. E o pior dessas recordações é que quase sempre esses crimes ficam impunes, pela incapacidade ou má vontade do Estado em identificar e punir os mandantes. Os executores não passam de bestas-feras que, por dinheiro e em função do ócio, matam indiscriminadamente, atiram em qualquer um, para proteger seus ganhos diabólicos e as propriedades de seus patrões. Propriedades adquiridas sob o fogo das balas e a conivência de um estado selvagem, incapaz de, num país de dimensões continentais como o Brasil, realizar uma Reforma Agrária. Propriedade... termo que não resiste à menor análise do grito submerso do filósofo anarquista Joseph Proudhon: “Toda propriedade particular é roubo”. E mais ainda em se tratando de propriedade da terra, que parece ter sido destinada a todos os seres vivos por direito divino.
Crime mesmo é essa sucessão de chacinas e massacres no campo que envergonha o Brasil. Em 2016 foram 61 mortos, em 2003 foram 73. Matam crianças, mulheres, idosos, indígenas, quilombolas e depois vão às igrejas rezar na condição desumana de intocáveis senhores feudais. Porque, no Brasil, a Justiça, a qualquer tempo, não consegue garantir os direitos e a segurança dos trabalhadores rurais.
Por trás de todos esses massacres, os barões do agronegócio, fazendeiros, empresas agropecuárias, grileiros e especuladores, gente muito poderosa que também nos fazem lembrar outras chacinas, como a dos 19 mortos de Eldorado dos Carajás que completa 21 anos de santificada impunidade.

E nem se confiram os lavradores e lideranças rurais mortos em nome da concentração da terra no Maranhão. Seria espicaçar uma revolta e uma sensação de impotência quase impossíveis de suportar.

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