JM Cunha Santos
Os assassinatos de nove sem terras em
Colniza, a 1.108 Km de Cuiabá (MT), na recente chacina de Taquaraçu do Norte,
com suspeitas de que os autores sejam capangas de fazendeiros da região,
remetem a recordações revoltantes da disputa pela terra no Brasil. São crimes
que reacendem o nível de crueldade de latifundiários e jagunços, já incorporado
às fases mais degradantes da história deste país.
Havia crianças e idosos entre as
vítimas, segundo irrefutável denúncia da Comissão Pastoral da Terra. E o pior
dessas recordações é que quase sempre esses crimes ficam impunes, pela
incapacidade ou má vontade do Estado em identificar e punir os mandantes. Os
executores não passam de bestas-feras que, por dinheiro e em função do ócio,
matam indiscriminadamente, atiram em qualquer um, para proteger seus ganhos
diabólicos e as propriedades de seus patrões. Propriedades adquiridas sob o
fogo das balas e a conivência de um estado selvagem, incapaz de, num país de
dimensões continentais como o Brasil, realizar uma Reforma Agrária.
Propriedade... termo que não resiste à menor análise do grito submerso do
filósofo anarquista Joseph Proudhon: “Toda propriedade particular é roubo”. E
mais ainda em se tratando de propriedade da terra, que parece ter sido
destinada a todos os seres vivos por direito divino.
Crime mesmo é essa sucessão de chacinas
e massacres no campo que envergonha o Brasil. Em 2016 foram 61 mortos, em 2003
foram 73. Matam crianças, mulheres, idosos, indígenas, quilombolas e depois vão
às igrejas rezar na condição desumana de intocáveis senhores feudais. Porque,
no Brasil, a Justiça, a qualquer tempo, não consegue garantir os direitos e a
segurança dos trabalhadores rurais.
Por trás de todos esses massacres, os
barões do agronegócio, fazendeiros, empresas agropecuárias, grileiros e
especuladores, gente muito poderosa que também nos fazem lembrar outras
chacinas, como a dos 19 mortos de Eldorado dos Carajás que completa 21 anos de
santificada impunidade.
E nem se confiram os lavradores e
lideranças rurais mortos em nome da concentração da terra no Maranhão. Seria
espicaçar uma revolta e uma sensação de impotência quase impossíveis de
suportar.
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