Em nome da libertação do ex-presidente Lula, preso político há mais de
100 dias em Curitiba, seis militantes de movimentos sociais, ligados à Via
Campesina, iniciam amanhã (31), às 16 h, uma greve de fome por tempo
indeterminado. O anúncio foi feito em coletiva de imprensa nesta segunda-feira
(30), em Brasília. “Temos data para começar, mas quem vai dizer quando
encerramos são os ministros do Supremo Tribunal Federal”, afirmou o frei Sérgio
Görjen, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Ele é um dos integrantes
do grupo que deixará de comer em nome da libertação de Lula e para que milhares
de brasileiros não voltem a passar fome.
João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra
(MST), afirmou durante a coletiva que o caminho legal para o fim da greve de
fome é a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, “respeitar” a Constituição.
“Ela foi indicada para respeitar a Constituição. Tem dois recursos aguardando
julgamento – um ADC do PCdoB, que consulta se uma pessoa pode ser presa antes
do julgamento de todos recursos; e um outro recurso da OAB, sobre validade da
presunção de inocência até o julgamento da última instância. Basta colocar os
recursos em plenário para acabar com a greve”, afirmou.
Stédile enfatizou que a Constituição garante a qualquer brasileiro o
direito de permanecer em liberdade até o julgamento. “Mas para Lula isso não
foi respeitado”, criticou. Ele ainda lembrou que por conta do habeas corpus
anteriormente negado a Lula, o voto “confuso da ministra Rosa Weber, levou ao
encarceramento 13 mil pessoas só em São Paulo, que esperavam em liberdade o
julgamento em última instância”.
Além de Frei Sérgio, estarão em greve de fome Jaime Amorim, do MST de
Pernambuco; Vilmar Pacífico, do MST do Paraná; Zonália Santos, do MST de
Rondônia; Luiz Gonzaga Silva, o Gegê, da Central dos Movimentos Populares de
São Paulo; e Rafaela Alves, do MPA de Sergipe. Nesse início de greve, o grupo
irá todos os dias ao STF, onde será montada uma tenda de apoio no
estacionamento, mas ficará também alojado no Centro Cultural de Brasília, na
601 norte.
Responsabilidade – Os seis grevistas
afirmaram que a decisão de cada um foi consciente, livre e espontânea. “A nossa
greve de fome, como ato extremo, é contra o caos do País e para evitar que esse
modelo de exclusão continue”, afirmou Frei Sérgio. Ele disse ainda que a
responsabilidade por qualquer dano que venha a acontecer com qualquer um dos
grevistas será de Sergio Moro e dos desembargadores do TRF-4, que condenaram
Lula sem crime e sem prova.
“A responsabilidade será também da ministra Cármen Lúcia e dos ministros
Edson Fachim, Luiz Fux, Rosa Weber, Luiz Roberto Barroso e Alexandre Moraes,
que votaram contra o habeas corpus que questionava o cumprimento de pena
imediatamente após a condenação em segunda instância.
Atividades – A greve de fome
faz parte de uma série de atividades que serão realizadas até o dia 15 de
agosto, quando será registrada a candidatura de Lula à Presidência da
República, pelo PT. João Pedro Stédile informou que nos dias 4 e 5 de agosto
chegarão a Brasília a caravana contra a fome, que saiu de Caetés (PE) na última
sexta-feira (27) e vai percorrer cidades do semiárido nordestino e de Minas
Gerais, denunciando o desmanche das políticas públicas. Ainda no dia 4 de agosto
igrejas estão organizando o dia de jejum das famílias, com a distribuição de
alimentos para a população que já está passando fome.
Também chegará a Brasília no dia 6 de agosto trabalhadores das
distribuidoras de energia que acompanharão no STF o julgamento de ação contra a
privatização da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco). No dia 9 de
agosto, a concentração na Suprema Corte é para acompanhar o julgamento de
recurso sobre o uso de animais em cerimônia religiosa. Às 18h, haverá alto
inter-religioso em solidariedade às religiões afrodescendentes.
No dia 10 de agosto, está marcada a paralisação nacional das centrais
sindicais em defesa dos direitos trabalhadores, pela libertação do
ex-presidente Lula e pelo direito de Lula ser candidato.
Stédile explicou ainda que haverá três marchas chegando a Brasília a
partir do dia 13 de agosto. “Todas essas atividades culminarão em uma grande
manifestação popular na capital federal no dia 15 de agosto, para acompanhar o
registro da candidatura Lula Presidente”, afirmou.
Vânia Rodrigues
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