domingo, 17 de junho de 2018

O projeto de Condução Cassetetiva

JM Cunha Santos



E diriam os sábios que dentro de todo acontecimento há um outro acontecimento sendo gerado para que, assim, a sociedade não paralise e nenhuma ideia morra como ideia antes de se tornar fato. Filosofei.
Um grande acontecimento, muito comemorado nas alcovas da ilha grilada de Curupu, foi o fim da Condução Coercitiva, decretado pelo Supremo Tribunal Federal ainda esta semana. Dizem que a champanhe rolou, a lagosta pariu, o vinho derramou entre os entes temerosos de a qualquer momento serem conduzidos pelos beiços para depor sobe acusações de receber propinas, desviar dinheiro público, praticar superfaturamento, fomentar licitações fraudulentas, viciar portal da transparência etc.
- Assim estamos mais tranquilos. Quero ver agora quem é que vai me obrigar a depor sobre recebimento de propina da Transpetro – comemorou Sarney rasgando simbolicamente uma decisão do STF.
- Eu que já sofri isso na carne, sei quanta injustiça existe nessa Condução Coercitiva, já que fui acusado de me apropriar de apenas R$ 1 bilhão, nenhum tostãozinho a mais – lamentou Ricardo Murad entornando Jhon Walker Blue pelo gargalo.
- Com essa decisão que deixa o Supremo ainda mais Supremo, me sinto superprotegido, pois além de contar com o foro privilegiado não serei conduzido coercitivamente para depor sobre nenhuma das dezenas de acusações que pesam contra mim. E que se danem esses delatores que só abrem a boca para me incriminar – abriu a boca Lobão, se acreditando eleito senador mais uma vez.
- Quero ver agora quem vai me obrigar a depor sobre a mala com R$ 3 milhões de Alberto Youssef que circulou intocável nas varandas do Hotel Luzeiros e sumiu para nunca mais – declamou Roseana Sarney descartando um coringa na mesa de João Alberto.
Mas festa nenhuma é festa sem a presença inesperada de um desmancha prazer. Ele estava lá e informou sem pestanejar:
- Acabam de apresentar no Congresso um projeto de lei criando a “Condução Cassetetiva”. Baseado no que acontece com os pobres que ousam roubar neste país, o projeto é um perigo para a nossa condição de inimputabilidade.
Pelo projeto, aquele que receber propina associada à Petrobrás ou qualquer outra estatal será conduzido aos tapas para depor nas diversas instâncias do Judiciário; se a propina vier em malas ou qualquer objeto semelhante, como sacolas e cuecas, será conduzido a pontapés; se, acaso, a acusação de recebimento de propina for reforçada por delações premiadas, a condução será mista, ou seja, a socos e pontapés. E se o dinheiro for garfado da saúde ou da educação públicas o honorável será conduzido debaixo de cassetete, o que, além de muito justo, serve para notabilizar o nome e a razão do projeto.
- Liguem para o Maia! Liguem para o Maia imediatamente. Esse projeto não pode ser aprovado de jeito nenhum! Minha Nossa Senhora, quem pode ter tido tal ideia?

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