JM
Cunha Santos
E
diriam os sábios que dentro de todo acontecimento há um outro acontecimento
sendo gerado para que, assim, a sociedade não paralise e nenhuma ideia morra
como ideia antes de se tornar fato. Filosofei.
Um
grande acontecimento, muito comemorado nas alcovas da ilha grilada de Curupu,
foi o fim da Condução Coercitiva, decretado pelo Supremo Tribunal Federal ainda
esta semana. Dizem que a champanhe rolou, a lagosta pariu, o vinho derramou
entre os entes temerosos de a qualquer momento serem conduzidos pelos beiços
para depor sobe acusações de receber propinas, desviar dinheiro público,
praticar superfaturamento, fomentar licitações fraudulentas, viciar portal da
transparência etc.
-
Assim estamos mais tranquilos. Quero ver agora quem é que vai me obrigar a
depor sobre recebimento de propina da Transpetro – comemorou Sarney rasgando
simbolicamente uma decisão do STF.
-
Eu que já sofri isso na carne, sei quanta injustiça existe nessa Condução
Coercitiva, já que fui acusado de me apropriar de apenas R$ 1 bilhão, nenhum
tostãozinho a mais – lamentou Ricardo Murad entornando Jhon Walker Blue pelo
gargalo.
-
Com essa decisão que deixa o Supremo ainda mais Supremo, me sinto superprotegido,
pois além de contar com o foro privilegiado não serei conduzido coercitivamente
para depor sobre nenhuma das dezenas de acusações que pesam contra mim. E que
se danem esses delatores que só abrem a boca para me incriminar – abriu a boca
Lobão, se acreditando eleito senador mais uma vez.
-
Quero ver agora quem vai me obrigar a depor sobre a mala com R$ 3 milhões de
Alberto Youssef que circulou intocável nas varandas do Hotel Luzeiros e sumiu
para nunca mais – declamou Roseana Sarney descartando um coringa na mesa de
João Alberto.
Mas
festa nenhuma é festa sem a presença inesperada de um desmancha prazer. Ele
estava lá e informou sem pestanejar:
-
Acabam de apresentar no Congresso um projeto de lei criando a “Condução
Cassetetiva”. Baseado no que acontece com os pobres que ousam roubar neste
país, o projeto é um perigo para a nossa condição de inimputabilidade.
Pelo
projeto, aquele que receber propina associada à Petrobrás ou qualquer outra
estatal será conduzido aos tapas para depor nas diversas instâncias do
Judiciário; se a propina vier em malas ou qualquer objeto semelhante, como
sacolas e cuecas, será conduzido a pontapés; se, acaso, a acusação de
recebimento de propina for reforçada por delações premiadas, a condução será
mista, ou seja, a socos e pontapés. E se o dinheiro for garfado da saúde ou da
educação públicas o honorável será conduzido debaixo de cassetete, o que, além
de muito justo, serve para notabilizar o nome e a razão do projeto.
-
Liguem para o Maia! Liguem para o Maia imediatamente. Esse projeto não pode ser
aprovado de jeito nenhum! Minha Nossa Senhora, quem pode ter tido tal ideia?
Nenhum comentário:
Postar um comentário