JM
Cunha Santos
Alguém
já se perguntou porque Sarney, há tanto tempo, ganha praticamente todas as
ações que se lhe acometem na Justiça do Maranhão?
O
fato é que os processos contra ele e seus familiares quase sempre acabam
arquivados, aqui e até em instâncias superiores. Eu disse ARQUIVADOS. Ninguém
julga, ninguém examina sequer.
Vamos
lembrar: o processo decorrente da Operação Boi Barrica ou Operação Faktor, da
Polícia Federal, uma investigação das atividades financeiras subterrâneas de
Fernando Sarney na política do Maranhão. Arquivado, por inconsistência das
provas ou coisa parecida.
Outro:
Jorge Murad foi pilhado em flagrante pela Polícia Federal com mais de 1 milhão
de reais em notas de 50, o famoso caso do escritório da Lunus. Arquivado ou
engavetado ou deram descarga nele, sei lá.
Outro:
Mais recentemente Roseana Sarney foi absolvida na acusação de participar de um
esquema de superfaturamento na construção de hospitais no Maranhão. Ela e tão
somente ela, os outros 15 personagens do processo continuam réus, respondendo
na Justiça.
“Sarney
não perde na Justiça do Maranhão”. Ouço essa frase desde adolescente, da boca
dos mais catedráticos observadores e dos mais analfabetos eleitores. O último
exemplo disso foi a imoral cassação de Jackson Lago. “Eu não disse. Na Justiça,
Sarney não perde pra ninguém”.
Já
vi de tudo por aqui. Até desembargador envergando camisa do candidato Edison
Lobão em meio a uma passeata político-eleitoral. Fotografaram, filmaram, não
deu em nada. O mistério do poder de Sarney na Justiça permanece. É como se ele
tivesse a absoluta incapacidade de cometer erros, de pecar contra a castidade
dos cofres públicos.
Entretanto,
a partir da conquista da autonomia do Ministério Público, antes uma espécie de
instituição sem poder nenhum e da concepção do Conselho Nacional de Justiça,
foi como se também uma nova geração de juízes, de fato imparciais, nascesse no
Brasil, preocupados, inclusive, com a imagem deletéria do Poder Judiciário. O “Mensalão”
e a “Operação Lava Jato”, independente dos erros que possam ter sido cometidos,
lavaram a alma de um povo que não cansava de repetir que Justiça nesse país só
existe para pobres e pretos.
Alguma
coisa se modificou, realmente. Governadores, deputados federais, senadores,
grandes empresários acabaram condenados diante dos olhares incrédulos da
população. Mas é claro que sobraram algumas reencarnações de Minos e Radamanto,
arquivando, engavetando, politizando os crimes dos poderosos e muito ricos,
decidindo a seu interesse e ao arrepio da lei. E aqui voltamos ao exemplo do
ex-governador Jackson Lago, vítima de um golpe judicial, que fez Roseana Sarney
governadora, sem precedentes no Brasil.
Estamos
agora diante do caso da juíza descalça que garante que nunca tirou os sapatos
nos corredores da Mirante, mas de fato decidiu contra o Parecer do Ministério
Público e provocou uma avalanche de contestações. Chamou em sua defesa a
Associação Nacional dos Magistrados Estaduais que meteu os pés pelas mãos
dizendo que a juíza está sendo ameaçada, coisa da qual ninguém tem conhecimento
no Maranhão. Disse também que a doutora Anelise Reginato teve a vida particular
exposta. Por quem, quando, que ninguém viu?
Mas
esses são fatos menores. Não é importante saber quando e onde uma juíza ou um
juiz tira seus sapatos. O importante é que a Justiça se mantenha calçada no
princípio da imparcialidade. E, por todo histórico desse caso, não parece que
foi o que aconteceu aqui.
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