sexta-feira, 19 de abril de 2019

A Base Espacial de Alcântara e o perigo de transformarem a região metropolitana de São Luís em zona de guerras

De onde se lançam foguetes e satélites, também se podem lançar mísseis, inclusive tripulados por ogivas nucleares.

JM Cunha Santos


Bonachão, inspirado, cordato, o ministro da Ciência e Tecnologia, astronauta Marcos Pontes, assemelha-se a um livro de autoajuda quando se refere ao passado de menino pobre e a coragem e determinação que um dia o levaram ao espaço sideral. No Seminário “Alcântara: primeiros passos”, defendeu com ênfase a liberação do uso comercial da Base Espacial de Alcântara para o lançamento de satélites e foguetes - o acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos. Só não disse que de onde se lançam foguetes e satélites, também se podem lançar mísseis, inclusive tripulados por ogivas nucleares.
Ainda precisamos lembrar que o mesmo Acordo de Salvaguardas Tecnológicas chegou a ser assinado com os EUA no ano 2000, mas foi rejeitado pelo Congresso brasileiro que à época o considerou agressivo à soberania nacional, em virtude mesmo das tais áreas restritas ora cedidas aos pesquisadores americanos com total sigilo e onde brasileiros não podem entrar. O novo Acordo de Salvaguardas Tecnológicas “para fins pacíficos” estabelece, também que o Brasil não poderá ter acesso a equipamentos com tecnologia americana.
BASE MILITAR: A EVOLUÇÃO
Aos que temem que o acordo de exploração comercial do Centro de Lançamento de Alcântara evolua para a instalação de mais uma base militar dos EUA na América Latina, (13 delas estão bem próximas do Brasil) sobram argumentos, fundados, inclusive, nos espíritos beligerantes de seus dois signatários, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e o presidente brasileiro armamentista Jair Bolsonaro.
Áreas territoriais restritas, tecnologias inacessíveis... com que propósito, afinal, os Estados Unidos insistem, desde o ano 2000, na vigência dessas cláusulas contratuais? Três revistas especializadas, Foreign Affairs, International Relations e International Security, informam que os Estados Unidos têm como prioridades o combate ao terrorismo em escala global e o fortalecimento de sua atuação política e militar na Ásia Central, China, Índia, Sudeste do Pacífico, Oriente Médio e Europa Ocidental. Em suma: eles gostam de guerras, sobrevivem de guerras, lucram horrores com as guerras.
Os americanos que vão gerenciar o Centro de Lançamento de Alcântara possuem uma rede de bases militares espalhadas por todos os continentes e forte presença militar na América Latina e parte do Caribe, Guatânamo, (Cuba) Aruba, Coraçao (Ilhas holandesas) Comalapa (El Salvador) Manta (Equador) e mais 17 centros e núcleos de apoio para operações militares na Colômbia e no Peru. Porque só com relação à Base Espacial de Alcântara adotariam uma postura diferente?
IMPERIALISMO


Beligerantes por natureza, sempre se utilizaram dos motivos mais estapafúrdios para se apossarem de riquezas alheias. Imperialistas, nunca respeitaram a soberania de país nenhum, usando as 800 bases militares que possuem em todo o mundo, incluindo 76 na América Latina (12 no Panamá, 12 em Porto Rico, 9 na Colômbia, 8 no Peru) para sustentar a hegemonia política, militar e econômica que faz dos EUA a maior potência mundial.
Em março de 2018, o Comando Sul dos Estados Unidos tornou pública uma informação sobre sua estratégia para essa região nos próximos 10 anos, identificando os principais perigos ou ameaças: em Cuba, Venezuela e Bolívia, a luta contra o narcotráfico; a maior presença da China, da Rússia e Irã na América Latina, aventando a possibilidade de operações militares unilaterais, bilaterais e multilaterais como resposta a qualquer crise.
Por exemplo, segundo relatório militar americano recente, Cuba continua ameaçando os interesses dos EUA na região, por meio de atividades de vigilância e contrainteligência em vários países. E é perniciosa e, certamente proposital, a relação dos EUA com os países onde mantém bases militares. Especialistas identificam que os investimentos destas nações em gastos militares cresceram assustadoramente, paralelamente a cortes substanciais em ciência, tecnologia, saúde e educação.
Um sinal de que operações militares na América Latina podem se tornar realidade: No início de 2018, ocorreu a chegada de militares norte-americanos ao território panamenho, força que permaneceu no Panamá até depois das eleições realizadas em abril na Venezuela. A desculpa para tal ocupação foi a defesa do Canal do Panamá.
GUERRA E POESIA
Usando como fonte DefesaNet, o respeitável site “Notícias Geopolíticas” informou, em 5 de novembro de 2018, que a negociação entre o Brasil e os Estados Unidos envolve BASE MILITAR, venda de armas e narcotráfico:
“A pauta de temas de Defesa em discussão entre o Brasil e os Estados Unidos passa pelo acordo para uso da base de lançamento de foguetes espaciais de Alcântara, no Maranhão, mergulha na segurança das reservas oceânicas de óleo do pré-sal e trata de coisas de caráter muito prático, como a repressão ao tráfico de drogas, armas e seres humanos nas amplas fronteiras nacionais – incluindo aí os acessos marítimos – além de treinamento de pessoal e ações bilaterais antiterrorismo”.
Muita gente no Brasil se mostra empolgada com os R$ 37 bilhões que o país deve lucrar a partir desse acordo com os Estados Unidos. Mas o fato é que eles têm, hoje, 200 mil militares espalhados pelo mundo e pelo menos em 7 países realizam, oficialmente, operações que implicam o uso de força militar, conforme relatório divulgado pelo The New York Times.
Com sua posição privilegiada junto à linha do Equador, Alcântara seria uma das mais estratégicas bases militares para o uso imperialista dos americanos. E aí a região metropolitana de São Luís evoluiria de zona de cantatas e poemas para zona de conflitos e de guerras.

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