terça-feira, 16 de abril de 2019

Os talvez e os quem sabe do governador Jackson Lago

JM Cunha Santos


O reitor do IEMA, Jonathan Almada, organizou e lançou ontem, na livraria AMEI, ao lado da Dra. Clay Lago, um compêndio que trata dos 10 anos da cassação do histórico governador Jackson Lago, primeiro a impor uma derrota eleitoral ao clã Sarney no Maranhão. E ela, a Dra. Clay, reservaria para mim uma grata surpresa ao fazer distribuir entre os leitores o artigo que publiquei na edição de 6 de abril de 2011, no Jornal Pequeno, com o mesmo título acima, rememorando vida e morte do democrata histórico que lutou com a própria vida pela redemocratização do Brasil e engrandecimento do Maranhão.
O título “Os talvez e os quem sabe do governador Jackson Lago remete a mais uma página triste da nossa história quando o general Ernesto Geisel, fundado no Ato Institucional N 5 cassou o mandato do líder do MDB, Alencar Furtado que num programa de televisão havia denunciado o desaparecimento de oposicionistas sabidamente mortos por agentes da repressão. No correr da denúncia, Alencar Furtado soltou a frase que imediatamente se incorporaria ao vocabulário da luta pela anistia: “Órfãos do talvez e do quem sabe, viúvas do quem sabe e do talvez”.
Abaixo transcrevo a íntegra do artigo “Os talvez e os quem sabe do governador Jackson Lago” para, novamente, registrar na memória das lutas daqueles dias:
“Médico de corpos, médico de gente, Jackson Lago cometeu o erro de também querer sarar a sociedade de suas feridas. Feridas profundas, como o analfabetismo, o desemprego, a corrupção, a tortura, a fome e a pobreza absoluta.
Não entendeu que a sociedade não quer ser curada, que a sociedade talvez goste de sua dor, que se alimente para sobreviver dessas crianças enveredando pelo caminho do crime, dessa juventude que se desmancha sem que muito possamos fazer para salvá-la.
Talvez, Dr. Jackson Lago, a sociedade seja filha somente das injustiças e, enquanto o corpo aguarda a morte física – e quem sabe seja essa a única função de um corpo – nossas mentes é que não suportem a vida sem lutar contra o mal.
Quem sabe, senhor governador, a sociedade não tenha cura e, assim como todo e qualquer corpo, tenha um fim decretado pelos deuses. Um fim que não chega enquanto nos esvaímos de amor pelo próximo, um próximo que se distancia da gente cada vez mais.
Era seu destino fazer parte dos movimentos de resistência às ditaduras, a todas as tiranias e encher o coração da gente de esperança rápida (porque também há um tempo para a esperança) e, em breve momento considerado o melhor prefeito do Brasil, ser, no entanto, fulminado pela mídia, pela Justiça do país que amou, pela cidade que fez crescer e pela ignorância de um povo que insiste em vender votos e alugar decisões.
Quem sabe não lhe incomodasse tanto as platinas do corpo como as platinas na alma; quem sabe o câncer na próstata lhe doesse menos que o câncer no corpo social desse Estado e, principalmente, desse imenso país; quem sabe a pneumonia no coração tenha sido a última febre, o último gesto de resistência contra aqueles que são capazes de tudo pelo poder.
Agora há manifestos de dor e respeito por sua morte e eles veem da Presidência da República, do Governo do Estado, da Assembleia Legislativa, do Senado, furado, onde arquitetaram a desilusão humana e política de um guerreiro a morrer porque não quis cansar.
A notícia, desta vez, quase não pode ser dada. A morte de Jackson Lago representa um pouco a morte do futuro. O futuro sonhado e jamais alcançado pelas oposições maranhenses, pela esquerda que no Maranhão enfrentou a ditadura militar e a mais longa oligarquia da história do país. E Jackson assistiu à morte ideológica de quase todo mundo ao lado de quem lutou.
Foram 76 anos de luta para, no final, assistir ao processo autofágico de dissolução das oposições no Estado. Mas ainda deu tempo de plantar nas estepes um pouquinho de esperança para que aqueles que aqui realmente ficam nunca desistam de lutar.

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