JM Cunha Santos
O reitor do IEMA, Jonathan Almada,
organizou e lançou ontem, na livraria AMEI, ao lado da Dra. Clay Lago, um
compêndio que trata dos 10 anos da cassação do histórico governador Jackson
Lago, primeiro a impor uma derrota eleitoral ao clã Sarney no Maranhão. E ela,
a Dra. Clay, reservaria para mim uma grata surpresa ao fazer distribuir entre
os leitores o artigo que publiquei na edição de 6 de abril de 2011, no Jornal
Pequeno, com o mesmo título acima, rememorando vida e morte do democrata
histórico que lutou com a própria vida pela redemocratização do Brasil e
engrandecimento do Maranhão.
O título “Os talvez e os quem sabe do
governador Jackson Lago remete a mais uma página triste da nossa história
quando o general Ernesto Geisel, fundado no Ato Institucional N 5 cassou o
mandato do líder do MDB, Alencar Furtado que num programa de televisão havia
denunciado o desaparecimento de oposicionistas sabidamente mortos por agentes
da repressão. No correr da denúncia, Alencar Furtado soltou a frase que
imediatamente se incorporaria ao vocabulário da luta pela anistia: “Órfãos do
talvez e do quem sabe, viúvas do quem sabe e do talvez”.
Abaixo transcrevo a íntegra do artigo “Os
talvez e os quem sabe do governador Jackson Lago” para, novamente, registrar na
memória das lutas daqueles dias:
“Médico de corpos, médico de gente,
Jackson Lago cometeu o erro de também querer sarar a sociedade de suas feridas.
Feridas profundas, como o analfabetismo, o desemprego, a corrupção, a tortura,
a fome e a pobreza absoluta.
Não entendeu que a sociedade não quer ser
curada, que a sociedade talvez goste de sua dor, que se alimente para
sobreviver dessas crianças enveredando pelo caminho do crime, dessa juventude
que se desmancha sem que muito possamos fazer para salvá-la.
Talvez, Dr. Jackson Lago, a sociedade seja
filha somente das injustiças e, enquanto o corpo aguarda a morte física – e
quem sabe seja essa a única função de um corpo – nossas mentes é que não
suportem a vida sem lutar contra o mal.
Quem sabe, senhor governador, a sociedade não
tenha cura e, assim como todo e qualquer corpo, tenha um fim decretado pelos
deuses. Um fim que não chega enquanto nos esvaímos de amor pelo próximo, um
próximo que se distancia da gente cada vez mais.
Era seu destino fazer parte dos movimentos
de resistência às ditaduras, a todas as tiranias e encher o coração da gente de
esperança rápida (porque também há um tempo para a esperança) e, em breve
momento considerado o melhor prefeito do Brasil, ser, no entanto, fulminado
pela mídia, pela Justiça do país que amou, pela cidade que fez crescer e pela
ignorância de um povo que insiste em vender votos e alugar decisões.
Quem sabe não lhe incomodasse tanto as
platinas do corpo como as platinas na alma; quem sabe o câncer na próstata lhe
doesse menos que o câncer no corpo social desse Estado e, principalmente, desse
imenso país; quem sabe a pneumonia no coração tenha sido a última febre, o
último gesto de resistência contra aqueles que são capazes de tudo pelo poder.
Agora há manifestos de dor e respeito por
sua morte e eles veem da Presidência da República, do Governo do Estado, da
Assembleia Legislativa, do Senado, furado, onde arquitetaram a desilusão humana
e política de um guerreiro a morrer porque não quis cansar.
A notícia, desta vez, quase não pode ser
dada. A morte de Jackson Lago representa um pouco a morte do futuro. O futuro
sonhado e jamais alcançado pelas oposições maranhenses, pela esquerda que no
Maranhão enfrentou a ditadura militar e a mais longa oligarquia da história do
país. E Jackson assistiu à morte ideológica de quase todo mundo ao lado de quem
lutou.
Foram 76 anos de luta para, no final,
assistir ao processo autofágico de dissolução das oposições no Estado. Mas
ainda deu tempo de plantar nas estepes um pouquinho de esperança para que
aqueles que aqui realmente ficam nunca desistam de lutar.
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