domingo, 21 de julho de 2019

Vaza Jato: Dallagnol sugeriu que Moro protegeria Flávio Bolsonaro para não desagradar o presidente

Novas conversas reveladas pelo The Intercept Brasil mostram que procuradores já estavam convencidos da corrupção de Flávio Bolsonaro no caso Queiroz; Dallagnol, por sua vez, sugeriu que Moro não avançaria nas investigações contra o senador para não desagradar o presidente e garantir a indicação para a vaga no STF  


The Intercept Brasil divulgou, neste domingo (21), um novo lote de conversas privadas entre procuradores do Ministério Público Federal que integram a série de reportagens Vaza Jato. Os diálogos inéditos revelam que o chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, sugeriu aos colegas que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, protegeria o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) nas investigações sobre o caso Queiroz para não desagradar o presidente e para garantir uma possível indicação para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nas conversas, que datam de janeiro deste ano, fica explícita a percepção de Dallagnol de que o senador cometeu crime de corrupção quando foi deputado estadual. O filho do presidente é investigado no Rio de Janeiro por movimentações atípicas em sua conta e na de seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, e tudo indica que o parlamentar capitaneava um esquema financeiro ilegal em seu gabinete.
“É óbvio o q aconteceu… E agora, José?”, escreveu Dallagnol em um grupo de procuradores logo depois de compartilhar a notícia de que Fabrício Queiroz havia feito um depósito de R$24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. “Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, escreveu.
“Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupção se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”, questionou o procurador.
Confira o diálogo:
Deltan Dallagnol – 00:56:50 –https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/12/07/bolsonaro-diz-que-ex-assessor-tinha-divida-com-ele-e-pagou-a-primeira-dama.htm

Dallagnol – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 00:58:38 – COAF com Moro
Dallagnol – 00:58:40 – Aiaiai
Julio Noronha – 00:59:34 –
Dallagnol – 01:04:40 – [imagem não encontrada]
Januário Paludo – 07:01:20 – Isso lembr
Paludo – 07:01:48 – Lembra algo Deltan?
Paludo – 07:03:08 – Aiaiai
Jerusa Viecilli – 07:05:24 – Falo nada … Só observo
Dallagnol – 08:47:52 – Kkk
Dallagnol – 08:52:01 – É óbvio o q aconteceu… E agora, José?
Dallagnol – 08:53:37 – Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos?
Dallagnol – 08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?
Dallagnol – 08:58:11 – Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa
Athayde Ribeiro Costa – 08:59:41 – É so copiar e colar a ultima denuncia do Geddel
Roberson Pozzobon – 09:02:52 – Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse
Pozzobon – 09:03:19 – A questão é quanto ele estará disposto a ficar no cargo com isso ou se mais disso vir
Dallagnol – 09:04:38 – Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas.
Dallagnol – 09:05:54 – Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?
Andrey Borges de Mendonça – 09:21:16 – Uma vez pedi no caso da custo brasil e o pt alegou q era impenhorável segundo a lei eleitoral. O juiz acabou desbloqueando sem ouvir a gente. Mas confesso q nao sei se procede.
Paludo – 09:37:52 – Tem que investigar. E isso que ele sempre diz. Na pior das hipóteses, Podem ir os anéis (filho e mulher), mas ficam os dedos. Seria muito traumático o general assumir no lugar dele.
Viecilli – 10:06:32 – [imagem não encontrada]
Viecilli – 10:06:51 –
Dallagnol – 10:22:31 – Rsrsrs
Dallagnol – 10:39:47 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 10:41:04 – [imagem não encontrada]
Antonio Carlos Welter – 10:52:11 – O $$ termina na conta da esposa. Vao argumentar que alimentou a campanha. Periga terminar em AIME

Além da suposta blindagem de Moro a Flávio Bolsonaro, as novas conversas mostram que Dallagnol e outros procuradores se preocuparam com eventuais entrevistas sobre outros casos de corrupção e sobre foro privilegiado, pois os jornalistas poderiam relacionar com o caso Flávio/Queiroz.
“O silêncio no caso acho que é mais eloquente”, sugeriu o procurador Roberson Pozzobon em um dos chats.
Sem bola dividida com os Bolsonaros
No entanto, a situação constrangedora para os líderes da Lava Jato – Sérgio Moro e Deltan Dallagnol – não iria embora apenas por eles se esquivarem do assunto. “A situação de Moro – como investigar um caso de corrupção envolvendo o filho do presidente que o indicou ao cargo, ou, ainda corrupção envolvendo o próprio presidente e seus familiares? – levou Deltan a considerar evitar entrevistas sobre foro privilegiado por temer perguntas sobre o caso envolvendo Flávio”, lê-se na matéria do The Intercept Brasil.
Em 21 de janeiro desse ano, cerca de um mês depois das denúncias sobre o caso Queiroz, Dallagnol informou a outros procuradores que foi convidado ao programa Fantástico, da rede Globo, para uma entrevista sobre a questão do foro privilegiado.
Em princípio, o procurador se animou com a ideia de falar sobre o possível foco da matéria: denúncias envolvendo o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), mas hesitou em aceitar o convite por temer cair no assunto Flávio Bolsonaro.
Os colegas da Lava Jato concordaram que a melhor opção era rejeitar o convite do Fantástico para evitar o que chamaram de um “bola dividida Flávio Bolsonaro”.
Dallagnol – 00:58:15  – Pessoal, temos um pedido de entrevsita do fantástico sobre foro privilegiado. O caso central é bom, envolvendo o Paulo Pimenta, se isso for verdade rs. O risco é eles decidirem no fim focar no Flávio Bolsonaro eusarem nossas falas nesse outro contexto. De um modo ou de outro, o que temos pra falar é a mesma coisa. Além disso, algumas informações que buscam não temos (são da PGR). A questão é se é conveniente darmos entrevista para essa reportagem ou não. Eu não vejo que tenhamos nada a ganhar porque a questão do foro já tá definida. Diferente de uma matéria sobre prisão em segunda instância…
Curiosamente, em 17 de janeiro desse ano, quatro dias antes do convite do Fantástico, os assessores de imprensa de Dallagnol comentaram sobre a firmeza no posicionamento de sobre o caso Deltan o que “reforça o apartidarismo”. O mesmo assessor, no entanto, criticou a posição de Moro sobre o caso: “saem contar que a fala de Moro sobre Queiroz foi muito ‘neutra’. não teve firmeza, sabe? para muita gente, pareceu que Moro quis sair pela tangente”.
Candidata à PGR comenta o caso Flávio Bolsonaro/Queiroz


O escândalo Queiroz explodiu em 6 de dezembro de 2018. À época, em um grupo de procuradores do MPF chamado Winter is Coming, a subprocuradora-geral da República Luiza Frischeisen, ao enviar um link para uma matéria do Jornal Nacional sobre o caso, comentou sobre o esquema de corrupção e os prováveis próximos passos da investigação: “Pessoas da mesma família empregá-la, depósito de parte dos salários de servidores em dias de pagamento, outros depósitos, resta saber quem recebia os saques. Agora vem a quebra do sigilo. Vamos aguardar a investigação geral do MPRJ quanto aos assessores”.

Atualmente, Frischeisen está na lista tríplice escolhida pelos membros do MPF para substituir a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, cujo mandato se encerra em setembro.
Nenhum dos citados na nova matéria da Vaza Jato se pronunciaram, até o momento, sobre os diálogos divulgados.
(Com informações Revista Fórum)

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