JM
Cunha Santos
Mais
semanas diante da TV
assistindo
embolias, ataques de coração, atropelamentos
gritos
de gol, gritos de tristeza
notícias
de assaltos, estupros, traições, assassinatos
em
proporção igual a este meu coração que já procura outro corpo
Semanas
inteiras vendo luzes, carnes mutantes, gente revoltada
Dias
inteiros assistindo filmes repetidos, damas cansadas, contrições
e
o movimento libertário dos protestos
enfrentando
arrotos ditatoriais, cumplicidades econômicas
as
universidades vazias, as escolas sem ideias com que hoje querem reger o país
E
o meu coração continua pulando, saltando veias, intimando-se a não sofrer
II
Semanas
inteiras decorando a minha própria vida
na
dúvida se existo ou se acordo, se continuo ou paro nesta terra sem mais esquinas
E
a TV toca músicas, toca alegrias, entre notícias de guerras
em
meio a pânicos terroristas, valsas sangrentas e bombas que explodem no umbigo
da tarde
Eu,
por dias seguidos o Senhor das novelas, sem causas pelas quais lutar
dentro
da tela, gritado o mesmo horror de personagens que se repetem nos minutos que
alongam a vida, imperecível, de minha dinastia sem direito algum
Daqui,
eu vejo tanta fome que dói nas minhas lembranças
mas
ninguém quer alimentar-se do amor que eu prego e insisto
das
ternuras amarrotadas que a TV me toma, se não entende meu desprezo pelo
computador
E
é a falta de energia que me diz que é hora de voltar ao mundo
que
mesmo escravos da TV, com o coração parado ou funcionando,
os
homens de amor são obrigados a existir
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