quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Vênus Platinada

JM Cunha Santos


Mais semanas diante da TV
assistindo embolias, ataques de coração, atropelamentos
gritos de gol, gritos de tristeza
notícias de assaltos, estupros, traições, assassinatos
em proporção igual a este meu coração que já procura outro corpo
Semanas inteiras vendo luzes, carnes mutantes, gente revoltada
Dias inteiros assistindo filmes repetidos, damas cansadas, contrições
e o movimento libertário dos protestos
enfrentando arrotos ditatoriais, cumplicidades econômicas
as universidades vazias, as escolas sem ideias com que hoje querem reger o país
E o meu coração continua pulando, saltando veias, intimando-se a não sofrer
II
Semanas inteiras decorando a minha própria vida
na dúvida se existo ou se acordo, se continuo ou paro nesta terra sem mais esquinas
E a TV toca músicas, toca alegrias, entre notícias de guerras
em meio a pânicos terroristas, valsas sangrentas e bombas que explodem no umbigo da tarde
Eu, por dias seguidos o Senhor das novelas, sem causas pelas quais lutar
dentro da tela, gritado o mesmo horror de personagens que se repetem nos minutos que alongam a vida, imperecível, de minha dinastia sem direito algum
Daqui, eu vejo tanta fome que dói nas minhas lembranças
mas ninguém quer alimentar-se do amor que eu prego e insisto
das ternuras amarrotadas que a TV me toma, se não entende meu desprezo pelo computador
E é a falta de energia que me diz que é hora de voltar ao mundo
que mesmo escravos da TV, com o coração parado ou funcionando,
os homens de amor são obrigados a existir

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