JM
Cunha Santos
A
denúncia da esteticista Lorena Vieira, dona de uma marca de cosméticos e com
300 mil seguidores no Instagram, esposa do DJ Renan da Penha, de que foi vítima
de preconceito e racismo, na quinta-feira, em uma agência do Banco Itaú,
destacou-se entre os assuntos mais comentados nas redes sociais;
Lorena
tentou sacar R$ 1.500,00 na agência do Banco e foi acusada por funcionários que
as movimentações em sua conta eram suspeitas. “Até agora o Itaú não soube
explicar os critérios que levaram o perfil bancário de Lorena a ser tratado
como suspeito”, diz reportagem da revista Fórum.
O
fato é que o Banco chamou a polícia e Lorena, conduzida à delegacia, por pouco
não foi presa. Polícia que, estranhamente, em uma primeira avaliação disse que
o documento apresentado por Lorena ao Itaú era verdadeiro, mas em seguida
afirmaria que a digital na identidade apresentada não era da empresária e que a
data de emissão e foto não existem nos dados do Itaú.
“Fui
humilhada e esculachada. Me fizeram esperar até o banco fechar dizendo que
estavam resolvendo meu problema e chamaram a polícia”, contou Lorena.
O
Banco alegou que o procedimento adotado na agência é padrão em casos de
suspeitas de fraudes e não tem qualquer relação com questões de raça ou gênero.
Tratamento bem diferente do dado a Lorena, no entanto, foi conferido a Fabrício
Queiroz, o famoso motorista do deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do
presidente da República. Mesmo com um salário de motorista, Fabrício Queiroz
fez 36 saques no valor de R$ 160 mil, em uma única agência do Banco Itaú sem
sofrer qualquer incômodo, conforme monitoramento da Coaf, o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras. Lorena só quis sacar R$ 1.500, 00.
Mas
há relatos de polêmicas, denúncias e até mesmo casos graves de racismo
envolvendo o Banco Itaú. Em dezembro de 2006, o jornaleiro Jonas Eduardo Santos
de Souza morreu após ser baleado por um segurança em uma agência do Banco no
Rio de Janeiro. Testemunhas contam que Jonas teria se irritado com o processo
vexatório a que foi submetido em uma porta giratória. Ao discutir com um dos
seguranças da agência acabou entrando em luta corporal e foi baleado no peito.
Em
novembro do ano passado, a professora da prefeitura de São Paulo Frida R. dos
Santos Silva, também negra, passou por constrangimento semelhante ao tentar
entrar por uma porta giratória do Itaú. A professora conta que na tentativa de
passar pela porta giratória foi barrada 8 vezes mesmo não portando nada de
metal. “Fiquei alterada porque estava sendo constrangida e, mesmo depois de eu
colocar todos os pertences na caixinha, o segurança disse que eu não ia entrar
porque era muito folgada”. Em outro episódio, a mesma professora foi obrigada a
sair do Banco com 5 mil reais na bolsa pois não fariam a transferência
eletrônica em razão dela ter feito a portabilidade para o Banco Itaú.
Em
dezembro do ano passado, o Sindicato dos Bancários denunciou a ausência de
negros aprovados no processo seletivo para trainee no Itaú.
Em
2015, o banco foi condenado pela 9 Câmara de Direito Privado do Tribunal de
Justiça de São Paulo a indenizar um cliente em R$ 20 mil a título de danos
morais pela prática de racismo. Como a professora, o cliente foi barrado na
porta giratória, mas os seguranças não liberaram a trava mesmo o cliente tendo
demonstrado que não tinha nenhum objeto metálico em sua posse. Depois que
entrou no banco foi atendido normalmente, mas ao sair policiais militares o
abordaram pois, segundo os autos do processo, a agência teria ativado o alarme
de assalto. O cliente teve de colocar as mãos na cabeça, encostar as mãos na
parede e ser revistado para provar que não havia roubado nada.
Em
março de 2014, a empresária negra Marina da Silva também foi vítima de racismo
em uma agência do Banco Itau, no Rio de Janeiro. Marina conta que, enquanto
outras pessoas passavam pela porta sem maiores dificuldades, ela foi submetida
a revista. A empresária registrou um boletim de ocorrência na 23 delegacia do
Meier.
O
mito da democracia racial
Esses
episódios, que mostram a índole racista do Banco Itaú no tratamento com os
clientes, são todos casos previstos na lei 7.716, de autoria do deputado Luís
Carlos Alberto Caó de Oliveira, assinada pelo então presidente da República,
José Sarney, em 1989.
A
lei define punição para os crimes de discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião e procedência nacional. Nesse contexto, o mito da democracia
racial no Brasil é uma falácia, o que os casos no Banco Itaú comprovam
sobejamente. E cabe lembrar aqui que o crime de racismo não depende de
representação da vítima, podendo a denúncia ser feita pelo Ministério Público.
E é preciso dizer que a permissividade das autoridades constituídas para com
atos racistas de instituições e corporações enodoam ainda mais a memória de um
país que, vivendo 350 anos de escravidão, só produziria uma lei contra o
racismo 100 anos depois. Lei que, obviamente, o Banco Itaú não obedece,
(Com informações das revistas Fórum, Veja e
Exame, jornal Correio Braziliense, Folha de São Paulo e programa Redação 1290,
da Rádio Timbira do Maranhão).
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