sábado, 30 de agosto de 2014

PROCESSOS: ENTREGO MEU DESTINO NAS MÃOS DE DEUS

JM Cunha Santos

 
Sou um poeta, não sei matar, só sei morrer. E em sendo poeta diviso da minha janela um universo tão grande de corações feridos, o desencanto de pessoas que mal têm o que comer, a tristeza de crianças barrigudas e sem futuro, a agonia nos hospitais onde a humanidade grita seu desespero, a solidão dos amores não correspondidos e as feras.
As feras bem vestidas, que fazem a fome, que fazem a tristeza, que fazem a agonia e matam o amor. E as feras estão atrás de mim. Daqui, eu vejo também as bandeiras dos tribunais onde devia morar a Justiça, mas não dá para ver a Justiça porque o Universo se contrai e esconde Jesus, esconde Deus, para que somente as feras possam ser vistas a beber o sangue dos inocentes. Das mulheres que não tem onde parir, das crianças que morrem de inanição, dos pais desempregados, enquanto as feras passeiam nos helicópteros que as fazem tão importantes quanto Belzebu.
No último processo contra mim tentam impor uma multa de 5 mil reais por dia. Mas eu sou um poeta, não sei roubar, só sei viver. È gente muito poderosa e muito rica, que não gosta quando eu falo de crianças com fome, de pobres lavradores assassinados, quando eu denuncio a tortura, o medo, a tirania, essas coisas tristes de que os poetas tristes gostam de falar. E sei que nessa terra poetas já não valem nada, mas insisto em ser poeta para ser perseguido, porque me acostumei aos dentes das feras, quero e faço questão de ser mordido, porque foi assim que aprendi a perdoar.
Ora, o que valem poetas numa terra em que pessoas que respondem na Justiça por formação de quadrilha podem se candidatar a governador? Isso dói? Dói, mas nós deixamos que acontecesse, quando votamos em quem o prefeito mandou, em quem o amigo pediu, em quem teve poder para nos dar empregos, em quem com seu poder e seu dinheiro nos iludiu.
Não estou mais interessado em processos. Podem me processar à vontade. Nem vou me defender. Mas não podem tomar a minha alma de poeta e, por isso, não têm como me vencer. Não podem apagar meus versos dos corações das pessoas, nem diminuir meu amor pela humanidade.
Continuem me processando. Afinal, sou poeta, não sei matar, só sei morrer e, diante das feras, entrego meu destino nas mãos de Deus.

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