JM
Cunha Santos
Sou
um poeta, não sei matar, só sei morrer. E em sendo poeta diviso da minha janela
um universo tão grande de corações feridos, o desencanto de pessoas que mal têm
o que comer, a tristeza de crianças barrigudas e sem futuro, a agonia nos
hospitais onde a humanidade grita seu desespero, a solidão dos amores não
correspondidos e as feras.
As
feras bem vestidas, que fazem a fome, que fazem a tristeza, que fazem a agonia
e matam o amor. E as feras estão atrás de mim. Daqui, eu vejo também as
bandeiras dos tribunais onde devia morar a Justiça, mas não dá para ver a
Justiça porque o Universo se contrai e esconde Jesus, esconde Deus, para que
somente as feras possam ser vistas a beber o sangue dos inocentes. Das mulheres
que não tem onde parir, das crianças que morrem de inanição, dos pais
desempregados, enquanto as feras passeiam nos helicópteros que as fazem tão
importantes quanto Belzebu.
No
último processo contra mim tentam impor uma multa de 5 mil reais por dia. Mas
eu sou um poeta, não sei roubar, só sei viver. È gente muito poderosa e muito
rica, que não gosta quando eu falo de crianças com fome, de pobres lavradores
assassinados, quando eu denuncio a tortura, o medo, a tirania, essas coisas
tristes de que os poetas tristes gostam de falar. E sei que nessa terra poetas
já não valem nada, mas insisto em ser poeta para ser perseguido, porque me
acostumei aos dentes das feras, quero e faço questão de ser mordido, porque foi
assim que aprendi a perdoar.
Ora,
o que valem poetas numa terra em que pessoas que respondem na Justiça por
formação de quadrilha podem se candidatar a governador? Isso dói? Dói, mas nós
deixamos que acontecesse, quando votamos em quem o prefeito mandou, em quem o
amigo pediu, em quem teve poder para nos dar empregos, em quem com seu poder e
seu dinheiro nos iludiu.
Não
estou mais interessado em processos. Podem me processar à vontade. Nem vou me
defender. Mas não podem tomar a minha alma de poeta e, por isso, não têm como
me vencer. Não podem apagar meus versos dos corações das pessoas, nem diminuir
meu amor pela humanidade.
Continuem
me processando. Afinal, sou poeta, não sei matar, só sei morrer e, diante das
feras, entrego meu destino nas mãos de Deus.
Poeta, você merece um assento na Academia Maranhense de Letras.
ResponderExcluirMuito obrigado, amigo,
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