domingo, 18 de outubro de 2009

ABAIXO DA LINHA DA RIQUEZA

JM Cunha Santos





Pense nisso: 10% da população possui 85,2% da riqueza do planeta. E nisso também: 50% da população mais pobre possui apenas 1% da riqueza total do mesmo planeta.

Já me acusaram de gostar de estatísticas e disseram que elas não passam de números frios, sem nenhum calor humano. Mas estou calculando precisamente o que isso representa em dor, fome, misérias, doenças, analfabetismo, desemprego, desespero e violência.

Indicadores sociais aproximam o Brasil da Namíbia e do Lesotho, primeiro e segundo países com maior iniqüidade no mundo. Temos 50 milhões de miseráveis, com renda inferior a 80 reais por pessoa, conforme a Fundação Getúlio Vargas, dado involuntariamente contestado pelo IETS – Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedades e pelo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada que apontam a existência de 86,4 milhões de miseráveis no Brasil, cerca de 54 % da população.

Mais grave é que esses estudos indicam que seria muito fácil erradicar a pobreza, bastando que a população disponibilizasse R$ 1,69 bilhões por mês, ou seja, a contribuição média de R$ 10,4 por brasileiro. No Estado do Piauí, cuja renda per capta é de R$ 111 cada brasileiro contribuiria com R$ 24,00. São Paulo, cuja renda per capta é de R$ 380,00 cada pessoa contribuiria com R$ 4,15 por mês.

Se pensarmos que as nove capitais nordestinas estão entre as catorze com maior desigualdade de renda no Brasil e que todas elas, à exceção do Rio Grande do Norte, tem mais de 50 % da população abaixo da linha de pobreza, podemos avaliar o quanto foram danosos os efeitos das oligarquias nos Estados. E como não podia ser diferente, o Maranhão é o Estado em pior situação entre todos, com nada menos que 63 % de sua população abaixo da linha de pobreza. Não vou nem perguntar de quem é a culpa.

É isso. Enquanto o Brasil parece caminhar para ser a 5ª maior economia do mundo, há casos no noroeste do Ceará em que 70,6 % da população vivem abaixo dessa linha. Em outras palavras, este país é um canteiro de privilégios e misérias.

“Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Devemos, portanto, nos preocupar também com a linha da riqueza. Há quem diga que ricos são os que têm renda superior a 5 milhões de dólares. Esse cálculo é bem mais difícil, mas as pesquisas indicam que apenas 1 em cada 100 brasileiros está acima da linha da riqueza.

Calculando que as riquezas captadas por Daniel Dantas, Naji Nahas, Celso Pita, Paulo Maluf, dentre outros arrematados bons vivans são bem maiores, fica difícil avaliar se Sarney está acima ou abaixo da linha da riqueza. Mesmo incluindo os empregos da família – somente no Senado – ainda fica essa atroz dúvida. O que você acha?



AS OLIMPÍADAS DE MARAGNON



No imemorial reino de Maragnon (águas que correm brigando); etmologicamente Mará (briga), Nhon (gênio oceânico, entidade terrível), realizou-se de fato e de direito a primeira Olimpíada do Brasil.

A principal modalidade dessa Olimpíada foi o Handebol, escolhida porque nela todo mundo mete a mão. Só que a bola, ou bolo (de dinheiro), não pode ficar muito tempo nas mãos do mesmo jogador. O juiz pode dar uma bronca danada. Por essa razão, esse esporte era sempre seguido do “Salto com Varas”, podendo os jogadores saltar a Primeira Vara, a Segunda Vara, a Terceira Vara, em qualquer Instância, digo, Distância.

O halterofilismo se firmou naquela Olimpíada depois dos escândalos no Senado, pois era preciso preparar os atletas para suportar o peso do nome Sarney durante uma campanha eleitoral. Houve até atletas que desistiram da competição. Mas não durou muito tempo, já que os poucos atletas que ousaram levantar o nome saíam das Olimpíadas estropiados, desconjuntados e cheios de varizes.

No atletismo vencia quem corresse com maior velocidade na direção dos cofres públicos e nessa modalidade ganhavam sempre os donos do poder, fosse nos 30 milhões rasos ou nos 80 bilhões fundos. Costumeiramente, a corrida iniciava numa fábrica de celulose e encerrava numa refinaria. Isto sem contar as maratonas, das quais participavam muitas empresas estatais do setor elétrico.

O Basquetebol era um tanto quanto primitivo e ganhava quem mais metesse a mão na cesta, ou no jarro como preferira nos seus áureos tempos um grande jogador.

O hipismo não atraia apenas pela fome cavalar de feno verde importado dos protagonistas, mas pela capacidade dos cavaleiros em adestrar as bestas e cavalos a pontos de fazê-los crer que estavam sendo montados por cavalheiros honestos. Nesta modalidade, vencia quem maior capacidade tivesse de saltar os terríveis obstáculos à frente: Comissões de Licitação, Controladoria Geral da União, Tribunal de Contas do Estado, Lei de Responsabilidade Fiscal etc; etc; Nesta competição, enquanto a Olimpíada foi permitida ninguém venceu uma Amazona chamada Roseana.

O Judô geralmente era disputado por agentes federais adestrados em segurar os adversários pela camisa, ou melhor, pelo colarinho branco, como nas Olimpíadas da Lunus e do Boi Barrica que até hoje ninguém sabe quem venceu.

Quanto à natação, o que interessava era o líquido, ou melhor, a renda líquida, já que o bruto, a renda bruta, era disputada a tapas pelos atletas de lutas greco-romanas.

Em tempo: não há nenhuma outra intenção nessa narrativa que não seja a de repor uma verdade histórica com relação às Olimpíadas no Brasil.

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