Editorial
JP, 9 de outubro
Em
alguns e-mails, a história do elefante Raju enviada por uma ativista em defesa
dos animais, Elisabeth Macgovers, emociona o mundo inteiro. O animal passou 50
anos acorrentado na Índia por pessoas que pediam dinheiro para exibi-lo triste
e um tanto quanto faminto. Uma exposição que denuncia o poder cruel da mente
humana sobre o enorme paquiderme que nem entende porque o querem amarrar.
A
história do enorme paquiderme por algum motivo lembra a história de um ciclo de
poder que se findou no último domingo no Maranhão. Um povo imenso e bom tolhido
em seus principais movimentos por pessoas que não o alimentavam direito e,
através dele, o povo, enriqueciam cada vez mais.
O
tamanho do elefante não o impede de ser um animal inocente e dócil que só
precisa de espaço para mover seu imenso corpo sem machucar ninguém. O povo
maranhense não quer machucar, não quer ferir, só quer o alimento da educação e
da saúde, da segurança de que também não permanecerá acorrentado a ambições
desmedidas e o espaço de se sonhar grande, respeitado em seus direitos e
aspirações.
Raju
foi libertado por enquanto, mas seus donos buscam num dos tribunais da Índia a
reintegração de posse para que outra vez o possam amarrar e vender sua
grandeza, sua enormidade aos que estiverem dispostos a pagar. Sete milhões de
maranhenses também se desvencilharam das correntes e aguardam, agora, quem
trate de suas feridas e os deixe livres para crescer ainda mais. Da mesma forma
que o elefante, este povo cansou de domadores que os obriguem a repetir o tempo
todo os mesmos gestos e de ser aplaudido por não ser capaz de reagir. Reagiu.
Se
nem um elefante consegue ser feliz num curral, menos ainda o será um povo
submetido a sol e chuva, sem a água imprescindível, sem banheiros, sem o
direito de aspirar a um futuro sem correntes, cercado só pelos olhares da
ambição de pessoas que não se preocupam com seu bem estar.
Ao
final, a ativista pede apenas nossa assinatura num abaixo assinado que corre o
mundo exigindo a liberdade e o fim dos maus tratos contra Raju. O povo
maranhense, afinal o elefante da imaginação de um país inteiro, também
acorrentado durante 50 anos, acaba de assinar a sua própria liberdade. Lutou,
protestou, trocou e-mails, ocupou as redes sociais e os canais de televisão e
se livrou das correntes sem medo dos tribunais.
Sim,
é preciso realizar as aspirações de Raju, da mesma forma que é preciso realizar
as aspirações desse povo também grande, também forte e dócil que, como um
elefante acorrentado, sobrevive a tanto tempo na imaginação do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário