Assassinos
são assassinos, senhores. Só Deus pode perdoar. E há casos em que nem tem este
dever.
Editorial
JP, 26 de maio
Há,
hoje, no Brasil, uma tendência, digamos, sociológica, de confundir as vítimas
das drogas com os assassinos que usam drogas. A violência no país, todos já
sabem, suplanta a de países em guerra e muito disso é debitado à conta do
tráfico e do consumo de entorpecentes. O que parecem não entender é que as
vítimas das drogas são pessoas que sofrem de um sofrimento incalculável,
perseguidas por sintomas de autodestruição, alucinações, delírios, debilidade
física, desmoralização pública, abandono da família, fome, mendicância, males
físicos de toda ordem. Assassinos, usem drogas ou não, não sabem sofrer.
No
Fantástico, deste domingo foi exibida uma reportagem sobre uma nova modalidade
de crime que acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro, invariavelmente cometida
por adolescentes. Consiste em assaltar e
esfaquear ciclistas, muitos até a morte. As últimas vítimas fatais dessa
barbárie foram um médico, em São Paulo e um compositor, no Rio de Janeiro. E a
defesa desses assassinos, jurídica e social, vai lembrar que foram crianças
empobrecidas, torturadas pela ausência do Estado e, na nova versão do perdão eterno,
vítimas das drogas.
No
filme Metanoia, o personagem principal devolve a arma ao traficante por
entender que “a violência não é a sua praia”. O problema é que a violência é a
praia de muita gente, que usa e que não usa drogas. A verdade é que existe gente
ruim, de alma ruim, que gosta de bater, de ferir e sente prazer em matar e
fazer sofrer. É o caso dos pistoleiros e torturadores que, em geral, nem drogas
usam. Esses adolescentes que esfaqueiam
no Rio e em São Paulo não fazem isso porque são vítimas da pobreza e escravos
das drogas. Fazem, porque gostam de fazer. Ou entendemos isso ou não vamos
vencer a violência.
Em
São Luís, um bando invadiu uma festa no sítio Panaquatira e disparou contra a
multidão. Entre eles, havia um ou dois adolescentes. No episódio, morreram
quatro pessoas. Isso não é trabalho de vítimas das drogas, nem de vítimas da
pobreza, é trabalho de assassinos. Também em São Luís, um policial foi pedir a
alguns jovens que retirassem o carro do caminho para poder sair do
estacionamento e foi trucidado a balas. Em Imperatriz, duas jovens foram mortas
recentemente, uma delas com um tiro nas costas, por dois adolescentes. Quem
mata com tanta facilidade não é vítima de droga, não é vítima de pobreza, nem é
vítima de coisa nenhuma; é apenas uma pessoa monstruosa.
No
mesmo programa “Fantástico”, outra reportagem mostrou o trabalho desenvolvido por
uma ONG junto a presidiários. Um homem que estuprou e matou uma jovem e outro
que matou duas crianças, estão sendo “castigados” pelo Estado, já que é o juiz que
permite, com uma beberagem chamada Chá do Santo Dime que provoca alucinações e,
em seguida, segundo eles, um longo bem estar.
Essa
tendência do Estado de perdoar assassinos contumazes e recorrentes, se nos
parece ainda mais perigosa que o próprio terrível índice de violência que
apavora o país. Vamos separar as coisas: famintos são famintos, dependentes
químicos são dependentes químicos e, usem drogas ou não, assassinos, senhores,
são assassinos. Só Deus pode perdoar. E há casos em que nem tem esse dever.
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